sexta-feira, outubro 13, 2017

Agora Nós e ateísmo.

A produção do programa Agora Nós, da RTP-1, convidou a Associação Ateísta Portuguesa a participar num debate informal sobre a fé e o ateísmo. Eu vou lá estar, em representação do meu ateísmo, com a ressalva de que o meu ateísmo não é necessariamente representativo de mais ateísmo nenhum. O outro convidado será um sacerdote da Igreja Católica e a nossa conversa será hoje, Sexta-feira 13, por volta das 16:20, durante o programa. Penso que a gravação ficará depois disponível no site do Agora Nós.

domingo, outubro 01, 2017

Treta da semana (atrasada): a democracia não presta.

Em todas as eleições há quem declare que a democracia não funciona. E ainda bem. A democracia é muito mais do que o voto e é bom que haja discussão sobre todos os valores que nos orientam. Incluindo a própria democracia. Como dizia Mill, a liberdade de exprimir qualquer opinião é importante porque tanto serve para divulgar ideias boas como para percebermos que algumas ideias são más. Desta vez, as críticas pareceram-me dividir-se em três tipos: os candidatos não prestam; os eleitores são ignorantes; e muita gente vota por interesses menos nobres do que o bem colectivo. Mas nada disto justifica a abstenção nem são, em si, problemas graves para a democracia. A abstenção continua a ser o maior problema.

Para quem sempre votou num partido e agora reconhece que a sua equipa não está a jogar nada, a tentação de não votar é compreensível. Mas é má ideia. Para os candidatos, ganhar a autarquia com 20% de abstenção ou 80% de abstenção vai dar ao mesmo. E quem não vota conta menos. Não estou a dizer que não tenham o direito de se queixarem só porque não votaram. Toda a gente tem o direito de se queixar. Mas os políticos não dão grande importância a quem se abstém. Por um lado, porque é mais proveitoso aliciar eleitores dos outros partidos. Por cada voto que ganham assim é um voto que a concorrência perde, portanto esses valem o dobro. E, por outro lado, é mais fácil perceber como aliciar quem vota. Se um partido ecologista ganha muitos votos, a seguir os outros partidos começam a preocupar-se com o ambiente. Se um austeritário perde votos, os outros começam a opor mais a austeridade. A democracia não é uma eleição. São eleições regulares e cada uma informa os candidatos das seguintes. Quem não vota não diz o que quer e, por isso, ninguém lhe liga. Nem nestas eleições, nem nas próximas.

A ignorância é um problema mas é menos grave do que o pintam. É claro que seria preferível que todos os eleitores se informassem adequadamente acerca dos candidatos e dos seus projectos. Aumentava a probabilidade de obterem o resultado que desejam. Mas a eleição de representantes não é uma decisão técnica que tenha de se restringir a critérios objectivos. Também é legítimo preferir ser representado por uma certa pessoa porque se gosta da sua pinta, porque é simpática ou qualquer outra razão. A escolha do representante menos mau entre os que se candidataram tem um aspecto subjectivo irredutível que lhe dá legitimidade mesmo quando se desconhece quaisquer detalhes técnicos acerca da candidatura.

Finalmente, há o problema dos candidatos aldrabões e dos eleitores interesseiros. Curiosamente, este é um ponto importante a favor da democracia e da participação dos eleitores. Votar por interesse pessoal é racional. Eu votei na candidatura que me pareceu ter os projectos que mais me interessam. É verdade que há interesses menos legítimos, alguns até ilegais, mas a democracia é a melhor forma de conciliar todos os interesses. Qualquer alternativa acabaria simplesmente por impor os interesses da minoria à maioria dos outros. É também por causa dos aldrabões e dos interesseiros que importa que todos votem. Mesmo quem não tenha uma preferência clara por um candidato pode – e deve – contribuir para diluir o poder dos interesseiros e dos aldrabões. Esses vão votar de certeza, e cada abstenção faz contar mais esses votos.

É verdade que a democracia não é um sistema perfeito. Mas é o melhor que se arranja e se não votamos ainda fica pior. É de aproveitar que não estamos na Catalunha.