domingo, abril 13, 2014

Treta da semana (passada): Agora tudo é religião...

O Mats costuma traduzir artigos criacionistas no seu blog. No passado dia 30 foi um de um tal Randy Hedtke defendendo que «A teoria da evolução é uma religião»(1). Ironicamente, um lapso na tradução desmanchou logo a tese e revelou o engodo. A tradução do Mats é: «A questão em torno da origem da vida é, fundamentalmente e inevitavelmente, uma questão religiosa. A forma como a pessoa ou um grupo de pessoas responde à questão da forma como surgiu a vida invariavelmente se torna a base da sua filosofia religiosa.» A ênfase é minha. No original, esse “A forma como” é um “However”, o que não refere a forma como se responde mas sim a resposta que se dá. O Mats devia ter escrito algo como “Qualquer que seja a resposta que a pessoa ou um grupo de pessoas dê à questão...”.

É uma diferença subtil mas importante porque a tese assenta toda na ideia de que qualquer que seja a resposta à origem da vida e da nossa espécie, será sempre uma resposta religiosa porque o assunto é religioso. «[O] debate em torno da origem da vida centra-se na crença da procedência animal (ou evolução ateísta) e na criação particular. […] Para aqueles que acreditam que o ser humano procede dum animal não parece que haja um limite para o animal particular que é usado como ancestral. Os Wanika, na África Oriental, acreditam que eles vieram das hienas. Outra tribo africana nomeia os hipopótamos como ancestral dos seres humanos. Os nativos do Madagáscar alegam que o primeiro a sua linhagem foi um lémure [...] A crença evolucionista recua ainda mais no tempo, para além do lémure, e postula que os seres humanos procedem da sua ideia do ancestral final, a matéria orgânica do mar primordial.» É um truque muito usado. Se uma religião se pronuncia acerca da origem do universo, então a origem do universo passa a ser um assunto filosófico ou teológico e a ciência tem de se calar. Se a religião se pronuncia acerca da existência de um ser sobrenatural, seja deus, espírito ou alma, a mesma coisa. Neste caso é a origem da vida e da espécie humana que se torna assunto religioso: «However an individual or group answers the question as to how life arose, their answer becomes the basic tenet for their religious make-up.»

Uma peça fulcral deste engodo é focar o conteúdo disfarçando a diferença fundamental do método. O que distingue a ciência e a religião não são as perguntas nem as respostas em si. É, como escreveu inadvertidamente o Mats, «A forma como a pessoa ou um grupo de pessoas responde à questão» (ênfase minha). A diferença fundamental entre a biologia moderna e a mitologia dos Wanika ou dos criacionistas é a forma como se chega às respostas. Até podia haver uma religião que acertasse na crença de que os humanos descendem de um antepassado dos chimpanzés. Mas, se acertasse, seria por acaso. Porque aquilo que as religiões têm em comum é o seu dogmatismo autoritário. Alguém diz que é assim, o rebanho diz ámen e está o caso arrumado. Sem isso não se consegue criar uma religião. É impossível ter sacerdotes, pastores, bispos, xamãs, imãs e essas coisas sem a autoridade pouco fiável mas conveniente de um sim porque sim e pronto.

Na ciência é o contrário. Alguém diz que é assim, outro contradiz, outro aponta erros, uns fazem experiências, outros explicam que afinal não estava tão errado como parecia e, eventualmente, ao fim de muita discussão, testes, recolha de dados e rejeição de alternativas, lá se gera algum consenso provisório até alguém ter uma ideia melhor. Não dá para fazer religiões com isso. Se um cientista, por muito famoso que seja, quiser cobrar o dízimo, meter-se na vida sexual dos outros ou exigir que acreditem no que diz só pela sua autoridade vai ter pouco sucesso. Mas, em compensação, esta abordagem de formar opiniões com base nas evidências em vez de em função daquilo que sai do chapéu resulta num corpo de conhecimento muito mais detalhado, correcto, útil e em aperfeiçoamento constante. Mais diferente da religião é impossível.

1- Darwinismo, A teoria da evolução é uma religião
2- Randy Hedtke, We Are Teaching a Religion in Our Public Schools.

18 comentários:

  1. O LUDWIG DIZ:

    "Até podia haver uma religião que acertasse na crença de que os humanos descendem de um antepassado dos chimpanzés."

    Mas como é que o Ludwig sabe que os seres humanos descendem de um antepassado dos chimpanzés? A partir das semelhanças entre eles?

    O que vemos aqui e agora é que seres humanos e chimpanzés são contemporâneos e se reproduzem de acordo com o seu género, tal como a Bíblia diz.

    Ou seja, nada do que vemos aqui e agora refuta a Bíblia quando esta afirma que Deus criou todos seres vivos na mesma semana, que estes se reproduzem de acordo com o seu género e que o homem e a mulher foram criados à imagem de Deus.

    Só a especulação evolucionista é que é contrária ao que a Bíblia diz. Os factos, esses, são inteiramente consistentes com ela.

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  2. A CIÊNCIA DOS CHIMPANZÉS A SINGULARIDADE BÍBLICA DOS SERES HUMANOS

    Os evolucionistas dizem que chimpanzés e humanos evoluíram de um antepassado comum.

    A Bíblia ensina que todos os seres vivos foram criados para se reproduzirem de acordo com o seu género. Homens e macacos são seres vivos de géneros distintos, contemporâneos uns dos outros.

    A Bíblia ensina que os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus, sendo seres racionais, morais e comunicativos.

    Estudos recentes vieram demonstrar que chimpanzés e os seres humanos têm semelhanças genéticas importantes. Mas também há semelhanças entre seres humanos e orangotangos.


    E não falta quem diga que os humanos são híbridos de chimpanzés e porcos!

    E daí?

    A verdade é que chimpanzés e seres humanos têm sistemas de regulação da expressão genética muito diferentes.

    Mesmo sequências genéticas comuns com outras espécies têm uma expressão genética específica, claramente recente, desencadeando características únicas nos seres humanos, evidenciando a desadequação dos chamados relógios moleculares”, que têm tantas velocidades quantas as necessárias para salvar a teoria da evolução.

    As diferenças no sistema de regulação da expressão dos genes dos chimpanzés e dos seres humanos são muitas e extremamente complexas, dificultando a sua explicação por simples selecção natural.


    Eles dispõem de cérebros que se desenvolvem de forma muito diferente o que corrobora a ideia bíblica de que têm um Criador comum que os criou como géneros distintos...

    Também a dispersão dos macacos compreende-se melhor à luz do dilúvio recente, do que dos actuais modelos e cronologias evolucionistas e uninformitaristas.

    Os cientistas procuram explorar as semelhanças anatómicas e fisiológicas para tentarem aproximar evolutivamente macacos (ou porcos!) e seres humanos.

    Isto, apesar de nenhum macaco ter pensamento abstrato e linguagem gramaticalmente estruturada ou se interessar por religião, filosofia, política, direito, economia, literatura, arquitetura, escultura, pintura, música, etc.

    As diferenças são muito mais significativas do que as semelhanças.


    As semelhanças que existem entre seres humanos e macacos não provam qualquer antepassado comum, já que também corroboram a existência de um Criador comum que os criou na mesma semana para viverem no mesmo planeta, respirando o mesmo ar e partilhando o mesmo ambiente e os mesmos nutrientes.

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  3. FILÓSOFO EVOLUCIONISTA MICHAEL RUSE: TEORIA DA EVOLUÇÃO É RELIGIÃO


    Vale a pena ver as palavras de Michael Ruse:


    ‘A evolução é promulgada pelos seus praticantes como mais do que mera ciência. A evolução é promulgada como ideologia, uma religião secular – uma alternativa completa ao Cristianismo, com significado e moralidade”

    “A evolução surgiu como uma espécie de religião secular, uma alternativa explícita ao Cristianismo”

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  4. A REIFICAÇÃO DA CIÊNCIA E A IRRACIONALIDADE DO ATEÍSMO (1)

    Os ateus recorrem frequentemente à falácia da reificação, procurando descrever a ciência como uma realidade com subsistência, autonomia, racionalidade e vontade próprias.

    Sucede, porém, que a ciência, em si mesma, é um conceito.

    O que existe, mesmo, são pessoas que se dedicam a estudar o mundo que as envolve e a interpretar os dados observados à luz das crenças que têm acerca desse mundo.

    Esses cientistas têm crenças muito diferentes, interpretando os dados observáveis de maneira diferente.

    O acordo entre eles só existe quando se trata de descrever e medir aquilo que é, efectivamente, observável ou passível de experimentação.

    Os criacionistas e os evolucionistas têm exactamente os mesmos dados observáveis e as mesmas experiências científicas. Nisso não existe qualquer desacordo. Este ocorre, apenas, na interpretação dos dados observáveis.

    Tanto criacionistas como evolucionistas desenvolvem modelos que vão descartando, com base na observação e na experiência.

    A religião cristã baseia-se no testemunho de pessoas reais que testemunharam directamente acontecimentos que as leis naturais não podem explicar (v.g. a transformação da água em vinho, a multiplicação dos pães e dos peixes, a cura de muitos doentes, a ressurreição de Lázaro, a ressurreição do próprio Jesus Cristo).

    Exactamente porque sabiam que nenhuma pessoa normal e nenhuma lei natural podiam explicar o que viam, essas pessoas ficaram totalmente convencidas de que Jesus Cristo era filho de Deus, a ponto de estarem dispostos a pagar, com a vida, essa sua convicção.

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  5. A REIFICAÇÃO DA CIÊNCIA E A IRRACIONALIDADE DO ATEÍSMO (2)


    O naturalismo baseia-se na afirmação de que o mundo surgiu do nada por acaso e depois explodiu e de que a vida surgiu por acaso, sem que ninguém tenha observado isso ou possa reproduzir isso experimentalmente.

    A lei da conservação da energia e a lei da biogénese encarregam-se de desmentir essas afirmações.

    Em última análise, o naturalismo é fantasia, sem qualquer correspondência com a realidade.

    O criacionismo bíblico não é incompatível com a ciência, na medida em que não nega a existência de qualquer lei natural ou de qualquer facto observável ou passível de experimentação.

    Pelo contrário, a existência de leis naturais e de informação codificada nos genomas, altamente complexa e densa, corrobora a Criação do Universo e da vida por um Deus racional.

    A doutrina bíblica não se baseia em preferências subjectivas, mas em factos objectivos.

    Existe mais evidência histórica de que Jesus Cristo viveu, morreu e ressuscitou, do que de que a vida surgiu por acaso.

    Dizer isso é que é uma mera afirmação subjectiva, destituída de qualquer comprovação empírica.

    O ateísmo afirma que “o nada criou tudo por acaso, sabe-se lá como”. Uma impossibilidade científica e filosófica. O Universo, a vida e homem seriam resultado de processos totalmente irracionais.

    Depois, de forma irracional, pretendem construir a sua racionalidade a partir daí.


    Diferentemente, o cristianismo afirma que um Deus racional criou o Universo racionalmente, com uma estrutura racional, apto a ser racionalmente compreendido por seres humanos racionais, porque criados à imagem de um Deus racional.

    A partir daí, racionalmente, afirmam a sua racionalidade e a racionalidade do pensamento científico.

    Deus é Razão. O ateísmo é irracional.

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  6. Ludwig,

    O ateísmo é uma ideologia, como outra qualquer. Nem sequer é uma doutrina ou uma política ou uma moral, ou uma notícia. E não é uma técnica, ou teoria, para resolver problemas.
    A religião tem o respeito da ciência e respeita e ama a ciência, embora respeite e ame sobretudo Deus e as pessoas. O ateísmo não tem nada a ver com a ciência, nem esta com o ateísmo. Se queres falar de ciência, pelo menos, não fales à mistura das tuas ideologias e das tuas crenças. Se queres falar das tuas ideologias e das tuas crenças, procura salvaguardar a diferença entre aquilo em que acreditas ou que queres ver implementado na sociedade e aquilo que são aquisições da ciência. Não quero ser cruel mas de mixordeiros não estamos necessitados. A ciência é incompatível com a mixórdia.

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    1. O Ludwig acredita que a vida surgiu por acaso.

      No entanto, não existe qualquer evidência científica nesse sentido.

      Pelo contrário, toda a evidência apenas mostra que a vida não surge por acaso em condição alguma.

      A origem acidental da vida, postulada pelo naturalismo evolucionista ateísta, nunca foi observada em laboratório ou no terreno.

      Ela é fruto da imaginação e da especulação.

      Na verdade, com base nas observações a ciência formulou lei da biogénese que diz que a vida vem sempre da vida e nunca de químicos inorgânicos como a teoria da evolução química imagina.

      A Bíblia ensina que um Deus vivo criou a vida. Essa afirmação encaixa perfeita e logicamente nas observações científicas.

      Só a ideologia ateísta, e não a ciência, é que leva o Ludwig a acreditar na origem acidental da vida.



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    2. Se puder perdoar que me imiscua numa conversa que claramente não me era dirigida.

      Este artigo em particular não é sobre ateísmo vs criacionismo. Mas sobre ciência representada pela teoria da evolução vs design inteligente representado por perversões filosóficas da realidade.

      Aquilo que é imaterial não é mensurável, se não é mensurável não é falsificável. Se não é falsificável não é cientifico. Deus não é cientifico.

      Com o mesmo argumento se substância que ninguém poderá advogar que a ciência possa revogar deus. O que têm inflamado o movimento “anti-teísta” ou “ateísmo militante”, que deve sempre ser cuidadosamente diferenciado do ateísmo ou do agnosticismo, é a continua tentativa de avançar argumentos de cogência disfarçados de cognição.

      “A religião tem o respeito da ciência e respeita e ama a ciência” Neste contexto.. Que religião? Os muçulmanos que dizem que o homem não evoluiu. Ou os subscritores do design inteligente que advogam que o darwinismo é uma conspiração da biologia para destruir a verdade de deus? Portugal tem, felizmente, ficado à margem destes aberrações, mas nos estados unidos 40% da população acredita que a terra tem menos de 6000 anos. Há arvores com mais anos do que estes senhores acreditam que o planeta tem em voltas à roda do sol. Existem organizações com muito dinheiro absolutamente empenhadas em difamar a ciência. https://en.wikipedia.org/wiki/Young_Earth_creationism

      Aplica-se aqui a falácia do escocês.. Afinal o que é a “religião”? É difícil ouvir os argumentos do amor, da eternidade, da compaixão, do patrocínio da ciência, entre tantos gritos de apocalipse, discriminação dos homossexuais, ataques aos direitos das mulheres, perpetuação de papeis de géneros… promoção descarada do orgulho em ter credulidade e em ser ignorante.

      Não posso falar pelo autor, mas pessoalmente não estou minimamente interessada em descobrir a “verdade”, se é que tal coisa existe. Cada um acredita no que bem entende. O que não justificará nunca, perverter o que sabemos com a desculpa de defender o que nunca poderemos saber.

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  7. «Porque aquilo que as religiões têm em comum é o seu dogmatismo autoritário. Alguém diz que é assim, o rebanho diz ámen e está o caso arrumado»

    Perfeito :-)

    Se alguém achar que isso é um exagero do Ludwig, pode ler uma entrevista do próprio Mats :-)


    «Mas acabei chegando a um ponto além do qual não tinha mais para onde recuar: ou aceitava o que Deus diz ou negava o que Ele diz. Não havia meio termo. Tomando uma posição de fé, resolvi dizer isto a Deus: “Deus, eu não sei como, nem sei quando, mas se a Tua Palavra diz que Tu criaste o universo em seis dias, e que a Terra é recente, então eu vou acreditar até que alguém me mostre que isso é falso.”

    Uma coisa espantosa começou a acontecer: depois de eu ter tomado essa posição de fé, Deus começou a Se mover e a colocar na minha vida pessoas e cientistas (como este meu irmão) que demonstravam como a Bíblia e a ciência estão em perfeito acordo. Não há nenhuma observação científica que contradiga os seis dias da criação nem a Terra “jovem”, e isso me foi mostrado várias vezes por várias pessoas em todo o mundo.»


    http://www.entrevistas.criacionismo.com.br/2010/11/de-olho-no-darwinismo.html

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  8. «Que religião? Os muçulmanos que dizem que o homem não evoluiu. Ou os subscritores do design inteligente que advogam que o darwinismo é uma conspiração da biologia para destruir a verdade de deus?»

    Há que distinguir religião de ideologia. Ainda assim, se houvermos de admitir um conceito muito amplo de religião, os crentes encontram-se num espectro que vai desde a crença religiosa à superstição. O que não é correto é culpar a ciência pelo uso que dela é feito por ignorantes. E quem diz ciência diz religião, etc..
    De resto, parece-me que a crença de cada um tem a ver com os próprios limites de conhecimentos.

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    1. NON PÁ IDEOLOGIA É RELIGIÃO
      O DEUS PODE SER MARX OU KRIPPAHL BUT OS próprios limites de conhecimento implica limitação na aprendizagem

      o conhecimento é teoricamente infinito

      o esquecimento desse conhecimento idem

      olha faze lá uma conversão de a mais b do duodecimal para o hexadecimal....
      e ódespois faz uma igualdade com uma soma nos dois systemas

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    2. Correcto. Em tempos concordei consigo. Em teoria não há como negar que tem toda a razão. No entanto parafraseando Snepscheut, “Em teoria não há diferença entre a teoria e a prática. Na prática - há. ”

      Essa noção de religião que tenta avançar é a noção dos filósofos e teólogos, que constituem uma percentagem marginal de quem se envolve com estes temas.

      A linguagem, neste âmbito é inevitavelmente ambígua.

      “Culpa” também é um conceito particularmente lamacento, porque pode estar associado a um julgamento moral, ou à tentativa de estabelecer uma relação causal.

      O artigo também não atribui culpa, se pretende associar a componente moral da semântica da palavra. Quanto muito poderia eventualmente estabelecer uma relação com a componente causal da palavra.

      Se for essa a sua intenção e tiver a disponibilidade e vontade de elucidar este ponto, agradeço-lhe.

      Tendo em conta que na religião, a raiz de todo o processo de procura de “verdade” se encontra radicado na fé. Leia-se, o mecanismo racional que dispensa provas materiais para avaliar a veracidade de uma hipótese.

      Como é que este método de procura de “verdade” poderá algum dia ser compatibilizado com o método científico, se este está radicado no materialismo?
      (onde se lê matéria, leia-se “coisa física”, imagino que ninguém neste blog seja estranho aos conceitos de campo, força … etc)

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  9. Gux,

    «Essa noção de religião que tenta avançar é a noção dos filósofos e teólogos, que constituem uma percentagem marginal de quem se envolve com estes temas.»

    Como?

    E a culpa é um conceito lamacento?

    E a fé dispensa provas?

    O método científico é o método da fé. Qual é o problema?

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    1. E a culpa é um conceito lamacento? creio que fundamentei o que queria dizer com isto. separar moral (culpa no sentido de atribuir a raiz do “mal”) de causalidade.

      E a fé dispensa provas?
      A fé dispensa provas materiais. (Ênfase no material). Eu sei que o os filósofos gostam muito de divagar sobre o significa a prova… mais sobre isto na próxima pergunta. O ponto sumário é: Se houvesse alguma forma de detectar deus com um aparelho de medida, que pudesse ser reconhecida objectivamente, não haveria bibliotecas cheias de livros a especular sobre a natureza de deus. Uns radicados na primeira causa, outros na razão. Muitas formas diferentes de dizer que porque não compreendemos o que significa “consciência” e como reproduzi-la, a “consciência” é capaz de detectar partes da realidade que nunca poderão ser explicadas pela ciência.
      Por contraste, não em parece que alguém hoje questione a validade das leis de Newton para calcular a trajetória de um projetil.

      O método científico é o método da fé. Qual é o problema?
      Novamente na filosofia.. Uma vez que não desenvolveu isto vou assumir os argumentos que li neste âmbito, por favor corrija-me se não forem coniventes com a posição que tenta alicerçar.
      - assume-se que o universo é inteligível
      - assume-se que o universo têm leis que podem ser reconhecidas pela razão.
      - assume-se que a razão existe e funciona

      Se isto são axiomas não demonstráveis então a ciência é um exercício de fé.

      Q. E. D.

      O problema com as extrapolações que se fazem deste lema. É que daqui para frente nada em ciência é fé.
      É absolutamente impensável um cientista chegar a uma conferência para apresentar um trabalho que seja estritamente baseado num sonho que teve e nos sentimentos que experiênciou em relação a esse sonho. Mas ninguém se choca se um religioso fizer a mesma coisa.

      O uso da razão pode levar á descoberta de “verdade”, mas não é verdade que tudo o que surge da razão seja verdadeiro. O conceito de “verdade” é diferente nos dois âmbitos. No religioso que é muito próximo do filosófico, o reconhecimento racional de uma verdade (como o amor, ou deus) é condição suficiente para a sua validade. Em ciência isso não existe. Não há papers sobre a natureza do amor. Quando se fala de emoção em ciência, fala-se de substâncias segregadas pelo cérebro, de zonas onde há mais actividade cerebral. Coisas que possam ser reconhecidas objectivamente e reproduzidas com os mesmos resultados.

      Feynman expressou-o melhor do que alguma vez poderia… A filosofia da ciência é tão util à ciência como a ornitologia às aves.

      Consigo conceptualizar um universo que seja um espaço R3 a duas dimensões de espaço + uma de tempo com uma partícula unidimensional. É um universo logicamente consistente mas completamente inútil para descrever a realidade. Perdoe se puder a rudeza mas na pratica e neste contexto, a filosofia é apenas masturbação intelectual.

      Há uma palestra fenomenal, do Peter Bogossian que explora precisamente porque a fé é um mau mecanismo para explorar a realidade.
      https://www.youtube.com/watch?v=WIaPXtZpzBw

      Uma pessoa religiosa pode com certeza fazer ciência, mas a fé, como agente isolado, não pode.

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    2. Gux,

      «É absolutamente impensável um cientista chegar a uma conferência para apresentar um trabalho que seja estritamente baseado num sonho que teve e nos sentimentos que experiênciou em relação a esse sonho. Mas ninguém se choca se um religioso fizer a mesma coisa. »
      «Feynman expressou-o melhor do que alguma vez poderia… A filosofia da ciência é tão util à ciência como a ornitologia às aves.»

      Há notícia de respostas a questões que foram obtidas durante o sono, em sonhos, etc.. O papel do subconsciente e do inconsciente revela-se, por vezes, surpreendente. Claro que o que dá validade às respostas é sempre um processo consciente, mas com frequência o papel do consciente é esse e apenas esse, o de "conferir" ou "controlar".
      A importância e as repercussões deste "tribunal" são de tal ordem que as pessoas não podem deixar de o questionar e de ter um sistema de o "fiscalizar" e "aferir". É como se houvesse sempre uma instância superior a que “devem” ser submetidos todos os veredictos “de ciência”.
      O Ludwig, por exemplo, insiste em que a ciência é o supremo tribunal de tudo o que existe e se pensa e se faz e se sente e se espera, etc….
      O problema é que ninguém, senão ele, pensa assim. Se, por hipótese, todos pensassem como ele, o problema nem se colocava e não haveria religiões, não haveria literatura, não haveria amor, nem ódio, bem nem mal, não haveria direito, não haveria nada. Onde só houvesse ciência, nem ciência existia (gosto destas forças de expressão).
      Qualquer que seja o juízo que se faça sobre “a realidade” esta prevalece e não é anulada por aquele. Ademais, a verdade cristã é de tal natureza que ela é “o” tribunal, mas não é “um” tribunal. Diferentemente do tribunal da ciência, que ela “compreende” no sentido matemático, ela é um tribunal se e apenas se a “consciência” o reconhecer.

      Quanto à verdade, convém discernir as várias acepções da palavra e, em termos científicos, noto uma preferência pela acepção de validade, consistência, plausibilidade, apesar de, nestes casos, estar em causa algo de diferente de verdade na acepção cristã. Dizer que é verdade, por exemplo, (que se confirma a minha hipótese de) que a água, do rio que acabei de atravessar, chega ao mar quando eu termino a minha corrida sobre a ponte, não tem qualquer analogia com a verdade, por exemplo, em que o cristão procura transformar a sua vida.

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. Ia escrever uma resposta muito longa, mas o autor respondeu e disse quase tudo o que queria enfatizar..

      "O Ludwig, por exemplo, insiste em que a ciência é o supremo tribunal de tudo o que existe e se pensa e se faz e se sente e se espera, etc…."
      Não vi isto em post nenhum. Especulo sem saber precisar que a sua conclusão tenha algo a ver com a tal lama semântica.

      " Dizer que é verdade, por exemplo, (que se confirma a minha hipótese de) que a água, do rio que acabei de atravessar, chega ao mar quando eu termino a minha corrida sobre a ponte, não tem qualquer analogia com a verdade, por exemplo, em que o cristão procura transformar a sua vida."

      Pronto - exacto, é isto que estamos todos a tentar afirmar. O que eu não compreendo é como é que compreendendo este facto, que são verdades distintas, quer relaciona-las.


      Seja atribuindo ciência à religião, seja atribuindo religião à ciência.

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