domingo, agosto 31, 2008

Tudo isto por 10 ou 15%?

Ontem vi o telejornal. Costumo ver as notícias na web, que é mais prático e não tem futebol. Mas ontem fiquei fascinado, quase hipnotizado, com a meia hora de assaltos, rusgas e operações policiais. A cada oportunidade falava-se da vaga de crime violento, do grande aumento da criminalidade perigosa e assim. Entretanto, lá pelo meio, passa em rodapé que a criminalidade violenta tinha aumentado 15% nos últimos seis meses. Segundo o Público foi 10%. E a criminalidade violenta é cerca de 6% do total (1). E segundo o Jornal de Notícias, o que aumentou 15% foi o crime contra o património, enquanto que o crime violento até diminuiu em número, se bem que a Procuradoria Geral da República disse terem aumentado «qualitativamente» (2). Penso que querem dizer que se tornaram mais mediáticos desde que a polícia fuzilou dois assaltantes em directo na televisão.

Para combater este flagelo tem havido grandes operações policiais com centenas de polícias e grande aparato. Com bons resultados. Não pela soqueira e pistola de alarme que apreenderam mas porque apanharam dezenas de condutores bêbados. Se querem aumentar a segurança a primeira coisa é mesmo tirar os bêbados da estada. Em 2000, por exemplo, morreram em Portugal 1357 pessoas por acidentes rodoviários, 525 por suicídio e 97 por homicídio (3).

Salpicaram pelas reportagens algumas especulações acerca do que teria causado a vaga de crimes violentos mas não mencionaram as duas mais óbvias. A falta de qualidade do jornalismo e a apetência do público pelo alarmismo infundado. O candidato deles foi a reforma do Código de Processo Penal porque agora não há prisão preventiva para alguns crimes onde se aplicava antes. Parece-me pouco realista. Bute lá assaltar o Pizza Hut? Bute, que só vamos presos depois do julgamento.

Uma das rusgas que mostraram foi a uma feira, onde apreenderam vários sacos de camisetas e sapatilhas, e duas carrinhas. Ocorreu-me que a azáfama da ASAE nos últimos meses possa ter contribuído para o aumento dos crimes contra o património. O feirante que vende os excedentes das fábricas sem autorização da marca não vai abrir um cabeleireiro ou entrar para a função pública quando lhe apreendem o stock. Aumentam a estatística com a primeira apreensão e, quando o tipo se vir sem dinheiro, sem carrinha e sem coisas para vender, lá vai mais outra para a estatística do crime contra o património. Não digo que deixem de perseguir crimes económicos, mas acho que as leis de regulação comercial devem ser feitas e aplicadas tendo em conta as consequências sociais.

Mas o pior nesta palhaçada são coisas destas: «O Governo criou um grupo de trabalho para estudar a hipótese de colocar um «chip» nas matrículas dos automóveis.[...] Claro, trará mais segurança a Portugal, bem necessita, pois nestes tempos a criminalidade violenta tem disparado em flecha!»(4)

Não sei que crimes violentos o autor deste comentário julga que o chip vai evitar. Nem sequer o carjacking, porque quando a vítima fizer queixa, comprovar ser o dono da viatura e a polícia actualizar a base de dados já o carro foi vendido às peças em Espanha. E desactivar um chip RFID é trivial (5).

É preocupante que as pessoas dêem tão pouco valor à informação. Não protestam contra as patentes absurdas que há por aí nem se importam que as discográficas reclamem ser donas de sequências de números. E até parece que querem que se recolha cada vez mais informação sobre nós. O chip na matrícula permite que um leitor no carro da polícia ou à beira da estrada registe a hora e local de todos os carros que passarem por perto. O chip também servirá para verificar se o seguro está em dia, pelo que a identificação será cruzada com os dados do seguro que incluem nomes e moradas. Vamos ter uma base de dados muito apetitosa para os criminosos.

Estas coisas não dão mais segurança. Dão mais comodidade à polícia, que assim precisa apenas deixar o aparelho na berma umas horas, imprimir as multas e mandar pelo correio. Em troca cedemos a nossa privacidade, o direito de controlar a informação acerca de nós e até a nossa segurança. Estas medidas não só são ineficazes a prevenir os crimes que conhecemos como permitirão crimes que agora nem imaginamos. Mas é garantido que alguém os vai imaginar assim que a oportunidade surgir.

1- Público, 28-8-2008, Governo reconhece aumento da criminalidade violenta mas garante respostas
2- Jornal de Notícias, 28-8-08, Crimes violentos estão piores mas não aumentaram
3- INE, As Causas de Morte em Portugal - 2000 - 2000
4- GlobPT, «chip» nas matrículas dos automóveis?
5- C3 Wiki, RFID-Zapper(EN)

83 comentários:

  1. Desta vez (e estreio-me neste tipo de comentário), acho que o tiro saiu ao lado, ou mesmo sem justificação para premir o gatilho. É que eu também não sou alarmista, nem me verias junto a uma praia do algarve a gritar que a onda vem aí, mas não tenho dúvidas de que o crime (até o violento), aumentou efectivamente, e a uma taxa desporporcionada.

    Não pretendo sequer referir-me a bolsas desprivilegiadas, antes me circunscrevo àquilo que conheço, e que calha ser a linha de Cascais, onde passei a minha vida, e onde hoje não permito que os meus filhos façam coisas que noutros tempos fizeram parte da minha juventude. Os tempos são diferentes, e os números comprovam-no: eu nunca fui assaltado, coisa de que não se podem já gabar os meus filhos adolescentes (o score é 2, 2, e o mais novo ainda não tem idade para sair sozinho à rua).

    Mas o que me leva a abusar deste teu espaço com o meu comentário é a questão da prisão preventiva. Dizes, Ludwig, que é um alarmismo infundado, e que crime algum será prevenido pela sua supressão. E até és capaz de ter razão, mas a questão não é essa.

    A abolição da maior parte dos casos de prisão preventiva foi um grande triunfo do governo, na medida em que permitiu soltar um substancial número de pessoas (julgo que 78.000, mas estou a citar por ouvir dizer), que atolavam o sistema prisional para além das suas capacidades efectivas. O benefício para o contribuinte é por demais evidente.

    A pergunta que se impõe, neste caso, é: "mas eles não deviam estar presos?". E é aqui que a tua resposta parece ser, "Soltem-nos, não é por causa disso que eles vão deixar de roubar". Caberia aqui discutir as virtudes e intenções da prisão preventiva, mas não vou por aí.

    A questão de fundo, quanto a mim, é que 78.000 pessoas (volto a ressalvar que o número está talvez errado), 78.000 pessoas, salvo melhor opinião, foram encarceradas, sem culpa formada, aguardando (até 3 anos), que um sobrecarregado juiz se pronunciasse sobre a sua hipotética culpa. E depois foram mal libertadas, tal como tinham sido mal presas.

    Põe-te nesse lugar, Lud. Um Kafquiano oficial de diligências priva-te da tua liberdade, sob uma qualquer acusação que a tua inteligência por certo reputará cretina. A par contigo, é encarcerado um estimado membro de uma qualquer classe desfavorecida, acusado de limpar o sarampo a uma velhota, ou então um tubarão de uma das classes ditas altas, com uma acusação de, sei lá, digamos, pedofilia. Todos cumprem, atrás das grades, três anos de anedóticas comparências perante o juiz. Findo esse prazo democraticamente igualitário, são todos libertados.

    Está alguma coisa mal neste cenário? Sim, sem dúvida que está. Mas não é por certo a prisão preventiva. Arrisco, sem pretensões a fazer escola, que talvez um sistema não funcione, quando se limita a pôr os seus presos a um canto, deixando a conclusão dos trâmites processuais para mais ou menos quando calhar, e isso só se não se meterem as férias. Seria talvez mais útil endereçar esta questão, do que soltar pura e simplesmente a malta toda, numa confissão da incapacidade de levar a termo o que se empreendeu (no caso vertente, a manutenção da lei e da ordem, que ainda me vão parecendo, apesar de tudo, valores estimáveis).

    Aceita, por fim, os meus agradecimentos, e as minhas desculpas pelo comprimento do comentário. Parafraseando o imortal Baptista Bastos, d'aprés Herman José, "pareceu-me que era importante dizer isto".

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  2. Nuno,

    Não é abuso nenhum e até concordo com o que dizes. O sistema de prisão preventiva precisava ser revisto, mas talvez a forma como o fizeram não foi a melhor. Não me sinto à vontade com a matéria para decidir quanto a isso.

    E aceito que em Cascais a coisa tenha piorado. Na Ameixoeira e Charneca, onde cresci e andei na escola, melhorou muito. Ao contrário de ti, fui assaltado várias vezes quando era mais novo e até uma vez entraram pela nossa casa ameaçando um irmão meu que tinha ido com o cão à rua. Mas isso foi há uns 20 anos e agora a zona está muito melhor.

    Por isso penso que é preferível guiarmo-nos por estatísticas de amostras representativas em vez de experiências pessoais.

    Mas o aumento que eu estou a referir é de 2007 para 2008, a tal crise que agora põe toda a gente a exigir "medidas" e essas tretas. A única diferença significativa tem sido no que dá nas notícias e não nas notícias a dar.

    E esse aumento (em "qualidade" e não em quantidade, segundo a PGR) não me parece ser devido à restruturação da prisão preventiva.

    Segundo este post do Daniel Oliveira, há 2400 presos em prisão preventiva e foram libertos 115 quando a reforma entrou em efeito. Penso que isso de terem liberto 78.000 é um pouco exagerado visto que Portugal tem, no total cerca de 12.000 presos :)

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  3. Ludwig

    A ligação que fazes entre as rusgas da ASAE e outra criminalidade parece-me algures entre inocente e abusiva: então uma vez que não se ocupam a vender falsif... excessos de produção de fábricas sem autorização da marca vão exercer outros crimes contra o património? Isso parece o "roubem os ricos, para não terem que roubar os pobres"! Além de que te faz acreditar na natureza humana para além do razoável!

    Parte da natureza humana de alguns consiste em não querer trabalhar e só estar bem a fazer mal. Viver numa sociedade complexa é lixado: tens que tirar carta, pagar seguros, impostos, respeitar limites de velocidade e enriquecer/sobreviver honestamente. É lixado! Dá trabalho, é extenuante! Viver de rendimentos mínimos e ainda uns gamanços nas horas vagas dá menos complicações. E se alguém se mete comigo, levar uns amiguinhos atrás e limpar o sebo a alguém é mais giro, eficiente e descomplicado! E há quem pense e viva assim! E prefira isto à segurança instável de uma vida honesta.

    O fuzilamento dos assaltantes foi uma prova de bom senso: falhou tudo, teve que se sacrificar duas vidas (um safou-se por milagre) para salvar os inocentes. Inatacável! Mas não se fez nada mais que isso e não adiantou nada mais que isso: mais assaltos foram cometidos sob ameaça de arma e os bancos e bombas de gasolina continuam desportegidos como se a criminalidade violenta não existisse. Uma parvoíce, se queres que te diga!

    Tu mesmo dizes que uma estatística não tira valor a um indivíduo. Os funcionários do BES mereciam viver (pena os assaltantes terem que morrer, mas foi uma opção) e na realidade tem morrido gente com a criminalidade violenta. Criminalidade violenta que tem que ser combatida! Como será uma questão a ver. Mas não é deixando vender coisas nas feiras. Mesmo porque a criminalidade é como outros ramos de negócio: dando, investes-se em outro ramo mais lucrativo... mantendo o primeiro!

    Mas a criminalidade violenta, a despeito de um ou outro jornalista mais taralhoco com as estatísticas, existe. E ouve-se falar também fora dos telejornais!

    A questão do chip é outra conversa!

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  4. Abobrinha,

    «A ligação que fazes entre as rusgas da ASAE e outra criminalidade parece-me algures entre inocente e abusiva: então uma vez que não se ocupam a vender falsif... excessos de produção de fábricas sem autorização da marca vão exercer outros crimes contra o património?»

    Não digo que é correcto que o façam mas parece-me provável que sim.

    Essas "falsificações" são feitas nas mesmas fábricas que os produtos "legítimos". Só que a prática das marcas de vender as peças a dez ou vinte vezes o custo de produção incentiva estes mercados paralelos.

    «Parte da natureza humana de alguns consiste em não querer trabalhar e só estar bem a fazer mal.»

    Ou a não fazer nada. Entre os dois, prefiro que façam aquilo que incomode menos. É coisa que estou para escrever há tempos, mas, resumindo, eu acho que há muitos trabalhos que não são necessários à sociedade e que, para os outros, não deve fazer diferença se essas pessoas trabalham ou não fazem nada.

    « Os funcionários do BES mereciam viver (pena os assaltantes terem que morrer, mas foi uma opção)»

    Não me parece que tinham que morrer. Os assaltantes não mataram ninguém, e o tiro que um deles deu foi na direcção do tiro que o outro levou. Vê a sequência: um tiro do sniper mata um, um tiro do assaltante passa o vidro na direcção dos snipers, e depois outro tiro atinge o assaltante. Se ele tivesse a pistola apontada ao refém e o quisesse matar o resultado tinha sido diferente...

    Eu penso que os polícias aí dispararam porque podiam. Infelizmente, não temos acesso aos detalhes.

    «Mas a criminalidade violenta, a despeito de um ou outro jornalista mais taralhoco com as estatísticas, existe.»

    Claro que existe. Mas também existia o ano passado. É o aumento dramático que me parece existir só nas notícias.

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  5. Penso que o verdadeiro escândalo dessa série de ficção que tem vindo a passar no telejornal é o facto de ser mais um trabalhinho encomendado pelos donos da tutela, vide, o governo. O verdadeiro escândalo é haver uma televisão que se afirma de serviço público mas que se verga aos ditames dos poderes que há. E esses só têm um objectivo: ganhar as próximas eleições. Espanta-me que um povo inteiro se sente diante do aparelho todas as noites para ser chamado de estúpido e atrasado mental, e na manhã seguinte a revolução não sai à rua.

    Cristy

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  6. Ludwig

    Parecendo que não, há mais custos que os de produção. E parte do que se vende são mais que excessos de produção: é mesmo produto roubado! Ou seja, crimes contra o património. Ou achas legítimo roubar? Seja como for, há gente a viver vidas e economias paralelas e isso não está certo!

    Claro que há trabalhos que não interessam ao menino Jesus: chama-se bur(r)ocracia desnecessária (há a necessária) e está a tentar eliminar-se (com graus diferentes de sucesso). Parece-me perigoso que aches benigno pagar a gente para não fazer nada e que não haja mal em não trabalhar. Pior: que tu tenhas que pagar por isso (e eu, claro, porque com o que tu fazes com o teu dinheiro posso eu bem). Já agora, quantos é que podem não trabalhar e quais?

    Ainda outro dia eu conversava com uma amiga que tem um filho e se esforça para o ter (e pode decidir não ter mais nenhum por não aguentar). Ela tem uma moça ao lado, uma falsa mãe solteira que vai no terceiro filho e possivelmente recebe tanto como ela por parir mais potenciais parasitas para a sociedade (i.e., gente sem hábitos de trabalho nem a mínima intenção de trabalhar). Se achas isto bem, algo está errado!

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  7. Ludwig e Cristy

    Vocês podem achar que a criminalidade se tem mantido. Admito que haja a percepção psicológica de que aumentou mais do que na realidade aumentou. Mas se não se noticiasse, isso não seria censura? Não seria tido como este governo tentar mascarar uma situação grave? A realidade é que os brandos costumes não existem nem nunca existiram. Aliás, existem: os brandos costumes é pensar que algum povo é melhor do que o que é e deixar isto a marinar.

    Do mesmo modo que os bairros sociais marinaram até dar tiroteios tipo faixa de Gaza, estes candidatos a malandros que são paridos às mãos-cheias para caçar subsídios só serão visíveis quando crescerem. Não te esqueças, Ludwig, que tens filhos a crescer também. Queres que eles herdem esse encargo? É que na volta tens os teus catraios numa escola onde não vês essa realidade, mas os eu estou mais perto do povo, como te disse.

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  8. Ludwig

    Em relação ao que se passou no BES, eu não vi as imagens em pormenor nem acho necessário por alí além. Mas do que li, depois de tantas horas de sequestro e da atitude dos assaltantes, até admito que a polícia tenha tido a atitude errada... mas não creio.

    Claro que é sempre errado matar alguém, mas isso é tanto por acção e omissão: se os funcionários do BES tivessem sido assassinados, a polícia teria o sangue deles nas mãos por não ter feito nada. Mas repito: pareceu-me uma opção brutal, mas necessária. Claro que adianta tanto para o futuro como a pena de morte: não adianta. Mas, ao contrário da pena de morte, ali adiantou alguma coisa!

    Ficará sempre a dúvida, mas os polícias tiveram que tomar uma decisão. E, parecendo que não, os assaltantes sabiam que aquela era uma possibilidade a partir do momento em que entraram num banco armados e preparados para fazer reféns.

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  9. Abobrinha,

    «é mesmo produto roubado! Ou seja, crimes contra o património.»

    A venda ilícita destes produtos deve ser um crime contra o património. Mas, tanto quanto sei, normalmente são comprados à fábrica por portas travessas, contrabando e coisas dessas. Não me parece que andem a assaltar lojas de roupa para vender na feira.

    «Parece-me perigoso que aches benigno pagar a gente para não fazer nada e que não haja mal em não trabalhar.»

    Não é uma avaliação absoluta. É uma escala. O melhor é que trabalhem em alguma coisa útil e que recebm por isso. O pior é que morram à fome ou andem a roubar e sofram eles e os filhor por falta de dinheiro. A solução de lhes pagar para não fazer nada está no meio. Por isso sou a favor de incentivar o trabalho útil mas de dar a quem não faz nada uma alternativa a morrer à fome ou roubar.

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  10. "Mas se não se noticiasse, isso não seria censura?"

    Abobrinha,
    penso que me expliquei mal. Claro que se deve noticiar tudo sobre o crime, inclusive as estatísticas e até conselhos úteis para a prevenção. Eu estava a referir-me à vergonhosa encenação do «acompanhamento» jornalístico por parte da televisão do Estado de rusgas especialmente orquestradas para provar ao povinho que o nosso dinâmico Governo não dorme. Rusgas essas que não evitaram nem evitarão um único crime violento. Serviram apenas e exclusivamente a fins políticos, o que só é possível em países como a Itália e Portugal, onde o poder decide o que passa na televisão.
    Cristy

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  11. Abobrinha,

    «Não te esqueças, Ludwig, que tens filhos a crescer também. Queres que eles herdem esse encargo? É que na volta tens os teus catraios numa escola onde não vês essa realidade, mas os eu estou mais perto do povo, como te disse.»

    Os meus filhos estão numa escola pública. É aqui em Odivelas, por isso bastante melhor que a Ameixoeira e a Charneca na altura em que eu andava na escola, mas não estão propositadamente isolados dessas coisas. Até porque mais importante que as coisitas que lhes ensinam os professores é eles aprenderem a lidar com pessoas diferentes. Eu acho que pô-los num colégio era prejudicar a sua educação.

    Mas isso não tem nada a ver com a forma como tratamos pessoas que, por preguiça congénita, falta de oportunidades ou o que quer que seja, não fazem nada de jeito. É chato ter que lhes pagar para não fazerem nada e sustentar-lhes os filhos. Mas quais são as alternativas? Trabalhos forçados? Morrerem à fome? Aborto obrigatório para às mulheres sem emprego? Infanticídio?

    Eis como eu vejo a realidade. Não queremos pessoas para servir a sociedade mas uma sociedade que sirva às pessoas. E se há pessoas que não querem fazer nada durante a vida toda, paciência. Não lhes vamos negar assistência médica, educação gratuita, protecção legal. Pelo mesmo raciocinio não lhes vamos negar dinheiro para comer, ter uma casa e sustentar os filhos.

    E quando falo de trabalhos inúteis para a sociedade não me refiro só à burocracia. Refiro-me aos tachos que se arranja a amigos e familiares, aos fabricantes de ossos de plástico para cães, vendedores de decorações de natal, empresas discográficas e uma data de outras actividades que sustentamos sem proveito social.

    Na verdade, eu diria que uma boa parte dos empregos que há por aí servem só para evitar que essas pessoas vão roubar dando-lhes um subsídio para fazer algo que equivale, pelo proveito social, a nada.

    Também o meu trabalho é remunerado muito para além do serviço que eu presto à sociedade. Por isso acho que essa ideia de recebermos só em função daquilo que contribuimos é um disparate.

    Mas não quero queimar já os próximos posts, por isso vou adiar esta discussão :)

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  12. Ludwig

    Precisamente: ninguém está a incentivar o trabalho útil e todos os patrões são uns exploradores que querem é comprar Ferraris. Claro que os subsídio-dependentes é que são uns desgraçadinhos que não têm por onde sobreviver!

    Eu sei que tocas nos assuntos que queres (o blogue é teu), mas é mais fácil estar aqui a dissertar sobre como gastar dinheiro que não se tem do que sobre como se revitaliza a economia para que haja empregos suficientes para tornar o "ah, eu não posso trabalhar" uma má desculpa.

    Sabes o que fazem alguns dos que não conseguem cá trabalhar? Emigram! E vão trabalhar honestamente para outro lado em vez de estar aqui a fazer cera! Eu também vivo ao lado de muitos desses, sabias? Eu concordo que haja apoios a quem deles necessita, mas o dinheiro está a ser dado a quem não precisa e a criar um barril de pólvora para gerações futuras. Ou menos, porque quem não tem dinheiro não tem vícios e o dinheiro um dia acaba!

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  13. Cristy

    Não creio que isso funcione assim. O povo vota por uma diversidade de motivos e pode-se encenar seja o que for. Nada é inócuo a nível de acompanhamento noticioso (particularmente televisões) e está na massa do sangue das televisões encenar espectáculozinhos.

    E espectáculo nenhum consegue tapar os buracos da justiça. Polícia nenhuma consegue fazer mais do que um limite.

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  14. Ludwig

    "É chato ter que lhes pagar para não fazerem nada e sustentar-lhes os filhos. Mas quais são as alternativas?"

    Não é chato: é um cancro que vai dar muito mau resultado e só cresce incentivando essas práticas! Como se resolve? Não sei, mas subsidiando tudo isso não é solução. Ocorre-me que retirar os filhos a pessoas em determinadas situações seja apropriado, mas eu mesma tremo perante essa alternativa porque há uma margem grande demais para erro. Mas se até temos quem imigre para cá para trabalhar no que os de cá não querem... parece-me mal!

    Ou seja, eu também não sei como se resolve as coisas. Mas não aceito que encolher os ombros e pagar seja a solução. Acredito sim que seja parte de um problema que só cresce se ignorado!

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  15. Cristy

    Esqueci-me de dizer que também me aborrece manifestações de espectacularidade. É por essas e por outras que não tenho televisão em casa. Mas só as considero inúteis.

    As novelas são bem mais porreiras porque entretêm as pessoas e impedem de falar tanto da vida alheia. Tem uma vizinha dos meus pais, por exemplo, que claramente não vê televisão suficiente. Ou isso ou acha a minha vida mais interessante que a dela e a dos filhos, porque desunha-se a querer saber o que eu ando a fazer. QUalquer dia a minha mãe esquece-se dos ensinamentos da igreja e manda-a ao sítio para onde eu já a teria mandado há muito. Estás a ver a superioridade de uma alma cristã? ;-)

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  16. Ludi,

    Só para dizer que. Não condeno a policia pelo que fez. Aqueles tipos tiveram duas pessoas inocentes sequestradas com pistolas apontadas á cabeça durante 8 horas (imagina que eras tu, condenavas a policia?)
    A policia negociou durante 8 horas com eles...Não podia fazer mais do que fez.

    O chip é uma questão gravissima e quanto a mim uma coisa que está a ser enfiada por debaixo do pano desta confusão da silly season.

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  17. Abobrinha,

    «como se revitaliza a economia para que haja empregos suficientes para tornar o "ah, eu não posso trabalhar" uma má desculpa.»

    É impossível. Nunca haverá empregos para todos porque, em qualquer emprego, há um custo no contrato em si.

    Imagina que ninguém ficava desempregado porque qualquer pessoa que quisesse um emprego arranjava um emprego. Que problema teriam então em ser despedidos? Nenhum. Despedem-nos, arranjam outro emprego.

    Para que o empregado trabalhe o patrão tem então que lhe dar algum dinheiro extra que sirva de incentivo a não se baldar e ser despedido. Isso aumenta o preço do trabalho, reduz a procura e há um excedente na oferta.

    Não há volta a dar. Numa economia estável tens que ter sempre uma taxa significativa de desemprego.

    (Se estiveres interessada em mais detalhes, um livro engraçado que fala sobre isto, entre outras coisas, é o Game Theory Evolving do Herbert Gintis)

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  18. "Não creio que isso funcione assim".

    Abobrinha,
    se queres dizer que não acreditas que as pessoas votem levadas pela manipulação de um órgão de propaganda estatal, devo dizer que - apesar de todo o meu cinismo :-) - ainda partilho também dessa esperança.
    Se queres dizer que não achas que o Governo tenha uma influência perniciosa na televisão pública, então discordamos claramente.

    Cristy

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  19. Algo fora do contexto deste post (não sei onde o poderia colocar).

    Alguém se deu ao trabalho de fazer um estudo associado à sexualidade/prazer, implementando numa aplicação web, bastante interactiva, que permite uma fácil interpretação do fenómeno, ver aqui. Para o Homem não há novidades.

    P.S. - pode ferir a sensibilidade de pessoas mais pudicas, na medida que há a ocorrência de nus. Uma boa ligação para a Abobrinha, que terá aqui muita matéria para dissertar.

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  20. Neste sítio há mais dois estudos:

    este e este.

    A Homepage situa-se aqui.

    Tudo isto parece ter implicado uma dose significativa de trabalho.

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  21. Mário

    Estou completamente em baixo de forma, mas tenho que ir investigar isso! Quem sabe, por uma vez sem exemplo, se possa aprender alguma coisa de jeito no meu tasco! Obrigada!

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  22. Ludwig

    Perdi-me um bocado nessa coisa do desemprego, mas espero que digas mais qualquer coisa para me poder situar.

    Uma coisa é apoiar e ocupar desempregados e mesmo pessoas que não podem de todo trabalhar. Outra coisa completamente diferente é promover o parasitismo!

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  23. Joaninha,

    «Só para dizer que. Não condeno a policia pelo que fez. Aqueles tipos tiveram duas pessoas inocentes sequestradas com pistolas apontadas á cabeça durante 8 horas (imagina que eras tu, condenavas a policia?)»

    Essa é uma das questões. Eu não condeno, e a polícia também não deve condenar. Quem condena são os tribunais. E não há pena de morte em Portugal.

    Estiveram 8 horas naquilo e, que se saiba, nada mudou para que dessem os tiros excepto que os assaltantes estavam expostos.

    Outra questão também importante é o que pensarias se o tiro que o assaltante deu em resposta aos polícias tivesse sido na cabeça do refém em vez de ser na direção dos polícias. Penso que a diferença entre este "estrondoso sucesso" e uma irresponsabilidade criminosa foi pura sorte.

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  24. Abobrinha,

    «Uma coisa é apoiar e ocupar desempregados e mesmo pessoas que não podem de todo trabalhar. Outra coisa completamente diferente é promover o parasitismo!»

    O termo "parasitismo" já implica a condenação a priori do alegado parasita. Prefiro considerar isso de uma forma mais neutra e pensar o que podemos fazer para incentivar as pessoas a ter uma actividade útil para elas e para outros sem chegar ao ponto de as ameaçar de morrer à fome se não o fizerem.

    Nesse sentido, uma pessoa sem meios nem emprego precisa de receber dinheiro para se aguentar até conseguir desenrascar-se. Esse é o princípio por trás do subsídio de desemprego, rendimento mínimo e essas coisas que são necessárias. Sem isso, quem não tem sequer um tecto ou uma casa de banho também não vai arranjar um emprego.

    Mas se lhe cortamos esse subsidio assim que se empregar, isso sim é um desincentivo.

    Eu acho que o melhor seria um ordenado de cidadão ou o que lhe quiserem chamar. Algo que todos recebessem independentemente da sua situação económica (os que têm mais dinheiro já pagam mais, pode-se ajustar as coisas por aí no que for preciso) e que era um direito de qualquer um. Ninguém seria considerado parasita ou inútil só por receber este dinheiro, e ninguém deixava de o receber só por arranjar emprego.

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  25. "discográficas reclamem ser donas de sequências de números"

    se falares em pautas, concordo.
    mas quando essa sequência de números depende do investimento em máquinas e em pessoal ou seja, no estúdio e nas pessoas que fizeram a gravação, já entramos na demagogia.

    se comprares um cd, tirares a pauta, fizeres a tua interpretação da música e a partilhares, até posso concordar contigo. agora comprares um cd ripares e partilhares o mp3, estás a partilhar algo que foi criado com o investimento de outrém.

    eu não trabalho na indústria nem coisa que se pareça e em relação às patentes, sobretudo as de medicamentos, concordo contigo. mas em relação ao resto acho que é típico de quem se habituou a ter música à pala e quer justificar, sobretudo perante sí próprio, que não está a roubar ninguém.

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  26. Já vi que isto está um bocadinho político, mas sobre o post eu gostava de concordar com esta perplexidade em particular: «a polícia fuzilou dois assaltantes em directo na televisão»

    Faço um esforço sério para imaginar o que será ter uma arma apontada à cabeça nas mãos de um gajo muito nervosinho, e claro que falhadas todas as possibilidades de negociação com a polícia (8 horas parece-me pouco para dar o caso por terminado) até aceito a hipótese de neutralização do meu possível raptor, mas talvez a minha natureza de otário me impeça de achar bondade nesse desfecho. Principalmente porque presumo que um grupo de operações especiais tenha entre eles algum ogre capaz de agarrar um suspeito pelos colarinhos e meter-lhe dois besugos no focinho, abrindo margem para posterior procedimento judiciário.

    Como sobre o jornalismo de m*rd@ já me tenho exprimido noutras oportunidades, e para não me estender, faço apenas saber que este mesmo Bruce Lóse que vos fala é sobrevivente de um acidente grave numa estrada de má fama, e que foi por um cabelo que não foi abatido por um BMW em despiste, conduzido por um bestunto embriagado. Não podia senão concordar com «Se querem aumentar a segurança a primeira coisa é mesmo tirar os bêbados da estada.».

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  27. Wyrm,

    «se falares em pautas, concordo.
    mas quando essa sequência de números depende do investimento em máquinas e em pessoal ou seja, no estúdio e nas pessoas que fizeram a gravação, já entramos na demagogia.»


    Considera então outras sequências de números. Os números na tabela periódica. Os coeficientes de expansão térmica de materiais de construção. As curvas de pressão parcial em função da temperatura para líquidos. As entalpias de combustão. As estruturas de moléculas. Etc.

    Fazes ideia de quanto dinheiro e maquinaria foi preciso para obter esses números. Nem eu, mas posso-te garantir que em comparação com isso a musiquinha no estúdio é, como diria o Xiquinho, peanuts.

    Não diria que essa justificação que dás é demagogia porque se calhar não pensaste nos outros números dos quais depende a ciência e a tecnologia e que tanto custam a determinar. Mas não hesito em chamar-lhe treta.

    «se comprares um cd, tirares a pauta, fizeres a tua interpretação da música e a partilhares, até posso concordar contigo. agora comprares um cd ripares e partilhares o mp3, estás a partilhar algo que foi criado com o investimento de outrém.»

    Sim. Mas partilhar coisas que foram criadas com o investimento de outrém é o que eu faço sempre que dou aulas. E sempre que empresto livros. E quando ensinei os meus filhos a falar. E quando conto anedotas.

    Onde achas que estarias agora se não tivessem partilhado contigo os investimentos de outrém?

    «eu não trabalho na indústria nem coisa que se pareça e em relação às patentes, sobretudo as de medicamentos, concordo contigo. mas em relação ao resto acho que é típico de quem se habituou a ter música à pala e quer justificar, sobretudo perante sí próprio, que não está a roubar ninguém.»

    Mas se calhar o que devias questionar é porque é que concordas nos medicamentos mas não na música. Porque é que aceitas que a matemática e a física sejam acessíveis a todos menos quando nos dizem os valores de pressão do ar em função do tempo.

    Tu julgas defender alguns principios gerais quando, na verdade, defendes uma excepção ridículamente pequena e injustificável.

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  28. Ludwig,

    Um aparte, que será imparcial no que diz respeito à acção policial:

    «Essa é uma das questões. Eu não condeno, e a polícia também não deve condenar. Quem condena são os tribunais. E não há pena de morte em Portugal.»

    Aqui estás a fazer um jogo de palavras desonesto... Usas a palavra "condenação" como só tivesse um sentido, e esse é um truque teu. A Joaninha, parece-me, usar a palavra como o sentido de "reprovação/indignação", enquanto tu, das o salto para "condenação" no sentido estritamente legal: prisão; multas; etc... Estás a aldrabar; negando uma afirmação, transmutando-a noutra, que depois de apontada como má hipótese, fica validada, validando por contiguidade a primeira expressão (por arrasto) que não quer dizer a mesma coisa.

    «Penso que a diferença entre este "estrondoso sucesso" e uma irresponsabilidade criminosa foi pura sorte.»

    Espero que o "pura sorte", tenha sido abuso de linguagem, e mais uma vez falseias a coisa, pois os atiradores GOI não o são por acertarem à "sorte", mas sim fruto de intensos treinos sendo reconhecidos internacionalmente.

    outro aparte:

    Sobre discussões acerca da accção dos atiradores, pode ser lido no Blasfémias:

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui

    aqui.


    Sobre a criminalidade violenta, está aqui um gráfico que elucida.

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  29. Wyrm,

    Sobre o assunto que está a falar com o Ludwig, aviso-te: dali não levas nada:)

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  30. Ludi,

    Não respondeste, se fosses tu 8 horas trancado numa sala com dois
    cabrões a apontar uma arma à tua cabeça, achavas errada a acção da policia?

    Onde é que traças a fronteira, quanto tempo mais deveria a policia tentar negociar, 24h 48h 72h, até que eles matassem um ou mesmo os dois refens?

    Não me parece que o sniper fosse assim tão anormal, são bem mais profissionais do que lhes dás credito.

    Nem eu nem tu sabemos o que foi dito e negociado entre a policia e os raptores, as únicas pessoas qualificadas para emitir juizos sobre o que se passou são os magistrados que forem responsaveis pelo processo crime já instaurado ao sniper e que terão perante eles todo o material nessessário para avaliar a acção do homem.

    Dizes à abobrinha

    "Não me parece que tinham que morrer. Os assaltantes não mataram ninguém, e o tiro que um deles deu foi na direcção do tiro que o outro levou."

    Mas será que não matariam mais tarde ou mais cedo?

    A policia não condenou ninguem à morte, a policia negociou, ou tentou negociar com eles durante 8 horas, teve de agir, e agiu provavemente consciente dos riscos que estava a correr, mas ainda assim, na tentativa de evitar a morte dos refens que esses sim, não mereciam morrer de maneira nenhuma.

    Ninguem é prefeito, a policia agiu como achou mais correcto tendo em conta a situação muito complicada em que se encontrava e tentado proteger a vida daqueles que não tinham culpa nenhuma.


    Beijos

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  31. Mário,

    «Aqui estás a fazer um jogo de palavras desonesto... Usas a palavra "condenação" como só tivesse um sentido,»

    Foi para não ser um jogo desonesto que eu escrevi "eu não condeno". No sentido que a Joaninha estava a usar, de dizer "ah, tá mal, não deviam", é óbvio que condeno. Mas no sentido mais forte de mandar um balázio na cabeça já não. E era essa a distinção que eu queria fazer aí. Era um raptor e um ladrão, mas foi condenado à morte e executado sem o devido processo. Esse não é o trabalho que a polícia deve fazer.

    Joaninha,

    «Não respondeste, se fosses tu 8 horas trancado numa sala com dois
    cabrões a apontar uma arma à tua cabeça, achavas errada a acção da policia?»


    Não sei. Talvez sim, talvez não.

    Mas uma coisa acho mal de certeza. É que alguém leve um balázio na cabeça só porque outro, mesmo polícia, acha que merece.

    «Mas será que não matariam mais tarde ou mais cedo?»

    É uma boa pergunta, mas não me parece que justifique um balázio na cabeça.

    Particularmente, preocupa-me isto:

    «Toda a actuação policial durante o assalto está agora a ser avaliada, um procedimento obrigatório nestes casos, salienta o general Leonel Carvalho, responsável do Gabinete Coordenador de Segurança. Em declarações ao PÚBLICO considera, contudo, que a decisão de disparar contra os assaltantes foi "correcta, legal e indispensável"»

    (daqui)

    Preocupa-me porque mesmo antes de começar a avaliação do que fizeram já o chefe decidiu que foi tudo como devia ser...

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  32. Ludwig,

    Não é o que está explicito e implícito aqui:

    «Eu não condeno, e a polícia também não deve condenar. Quem condena são os tribunais.»

    Não há "", e na mesma frase estão eventualmente sentidos diferentes sem nenhuma referencia implícita ou explícita a isso.

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  33. Mário,

    «Não há "", e na mesma frase estão eventualmente sentidos diferentes sem nenhuma referencia implícita ou explícita a isso.»

    Não. Na minha frase usei a palavra sempre no mesmo sentido. Naquele sentido no qual eu não condeno, os policias não deviam condenar e só o tribunal pode legitimamente condenar.

    É certo que o sentido que eu usei não era o que a Joaninha tinha usado. Mas foi por isso que escrevi "eu não condeno" -- ela já sabia que, no outro sentido, eu condenava.

    O jogo de palavras seria se eu tivesse escrito "tu condenas, mas só os tribunais podem condenar, por isso achas que és um tribunal" ou algo do género. Aí sim a palavra é usada com dois sentidos diferentes numa frase que assume ser o mesmo sentido. Não foi isso que eu fiz.

    E neste caso não se justificava "" porque nem estava a referir a palavra em si (como em «a palavra "cão" tem 3 letras») nem estava a citar ninguém nem a usar a palavra num sentido diferente daquele que a palavra possa ter. Os tribunais não "condenam". Condenam mesmo, sem aspas.

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  34. As directrizes do GOE em relação á preservação da vida de inocentes são muito semelhantes ás de todos os outros grupos de operações especiais de polícia no mundo inteiro - O uso de força letal é justificável para proteger um inocente, ou outro agente, que se encontre em risco eminente de sofrer uma agressão letal.

    Por princípio, considera-se sob ameaça letal eminente qualquer pessoa que se encontre na linha de tiro de uma arma de fogo.

    Os reféns ficaram horas sob ameaça letal, o que me faz pensar que a ordem para abater os agressores já teria sido dada há algum tempo, e o atirador naturalmente escolheu o tiro com maior visibilidade e menos riscos para o refém.

    Em todas as operações deste tipo, mesmo as mais bem executadas, a diferença entre o sucesso estrondoso e o falhanço catastrófico deve sempre muito ao acaso.

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  35. Ludwig

    Eu escrevi "parasita" e repito a palavra quantas veze for preciso. Mas um parasita não é alguém que está desempregado ou doente ou de algum modo incapacitado para trabalhar, mas quem podendo ser útil escolhe não o fazer, vivendo às custas de quem trabalha e se vê aflito para levar uma vida honesta e honrada.

    Tenho mais que muitos exemplos, um dos quais uma vizinha (várias, mas agora não interessa) que trabalhou numa fábrica quase uma vida inteira. Fábrica = produção = exportação = divisas = impostos para pagar muita coisa e (segundo interpretações de quem não pára a pensar muito) = patrões gananciosos e indústria de salário mínimo.

    Esta pessoa recebe de reforma menos que muitos rendimentos mínimos garantidos, quando manteve o país durante uma vida de trabalho! Mas de facto não há dinheiro para lhe pagar mais e a contabilidade da reforma dava mesmo o valor que ela recebe. Chamas a isto incentivo a quê?

    Tem outra: o que se paga a muita gente por serem suficientemente inteligentes para não trabalhar dá para mais que muitos salários. Isto porque os salários têm que alimentar deslocações casa-trabalho-escola de criaças-actividades de crianças-casa e outros. Não trabalhar de facto tem o problema que é preciso compar muita roupa (gasta-se porque se anda a polir esquinas).

    Repito o que disse quando me referi a parasitas. Acho que fui perfeitamente clara ao fazer uma distinção entre quem não pode, não quer e não tem a intenção de ter uma vida honesta e quem realmente necessita de ajuda. Pior que isso, os primeiros efectivamente roubam dinheiro que se deveria destinar aos segundos.

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  36. Ludwig

    Em relação aos snipers subscrevo o que disseram todos os comentadores contra a tua visão romantizada de que a situação ainda poderia ter tido outro desfecho que não outras mortes. Não estás a ser razoável!

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  37. Bute lá assaltar o Pizza Hut? Bute, que só vamos presos depois do julgamento.

    Felizmente que aqui na minha zona não temos problemas destes: os parasitas são logo julgados e encanados rapidinho...

    Não estás a ser razoável!

    Pois não... e eu a pensar que eram os efeitos da silly season... pelos vistos ainda não passaram...

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  38. Abobrinha,

    Se um assaltante entra armado num banco, um polícia diz para ele largar a arma e ele começa a apontá-la na direcção do polícia ou outra pessoa, concordo que o polícia deve disparar, e se o matar matou, paciência.

    Mas segundo os relatos deste assalto ao BES, os atiradoes do GOE tiveram ordem para matar os assaltantes assim que conseguissem o tiro sem risco para os reféns. Passou-se então mais de meia hora enquanto os negociadores convenciam os assaltantes a vir para perto da porta. E quando chegaram perto da porta foram mortos. É esta execução deliberada, concertada e com tempo que me preocupa.

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  39. Ludwig

    Não estás a ser razoável: estavas à espera que os GOE atirassem espontaneamente? Isso não ia acontecer. Se acontecesse, aí eu ficaria preocupada porque estaríamos à mercê de uma polícia pouco profissional e indisciplinada (o que claramente não é o caso)! Claro que atrairam os assaltantes para os abater: para diminuir o risco para os reféns! Mas foram forçados pelas circunstâncias a abater/assassinar/executar duas pessoas (um teve sorte). Não é com palavras que se torna o que se fez menos grave, mas teve mesmo que ser.

    Agora o outro facto que insistes em ignorar é que os assaltantes planearam este assalto e tudo indica que não teriam problemas em matar. Roubar dinheiro é naquela (mesmo porque o seguro paga), mas planear fazer reféns ao ponto de trazer com que os manietar e armas... por favor, não pensas mesmo que estamos a falar de boas pessoas, pois não? Correndo o risco de me chamarem preconceituosa, estamos ainda a falar de pessoas que vêm de uma cultura de violência: isto no Brasil é mais comum!

    Curiosamente o moço que morreu vem de uma família de evangélicos e ouvi dizer absurdos dos pais como que o rapazinho seria incapaz de fazer mal a uma mosca! De facto, não houve moscas feridas ou mortas nesta operação (também não podia ser tudo mau!). Mas ouvir aquilo (não tenho referências, foi num noticiário na rádio) seria divertido se não estivesse envolvida uma morte. Nem que de um malfeitor.

    Há muito que se tinha estabelecido que havia risco de vida para os reféns. Sendo uma má opção (morreu uma pessoa e era suposto morrerem duas), foi uma opção menos má e eu acho que a polícia esteve inatacável.

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  40. Ludi disse: "É esta execução deliberada, concertada e com tempo que me preocupa."

    Estás a esquecer-te que a prioridade é tirar os inocentes da situação de risco eminente.

    Tenho a certeza que as primeiras horas foram dedicadas a tentar convencer os agressores a renderem-se pacificamente.
    Falhando isso, a única opção viável é neutralizar a ameaça. Entre uma entrada forçada e um tiro de sniper, a última opção é a menos arriscada para o refém. E quanto mais deliberada e concertada for a execução, menos riscos envolve.

    Para além disso parece-me que é bom que quem decide ameaçar de morte pessoas inocentes se preocupe com a possibilidade bem real de levar um balázio.

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  41. Abobrinha disse:

    "Sendo uma má opção (morreu uma pessoa e era suposto morrerem duas),"

    Não concordo. É natural e legítimo que o agente tenha atirado a matar sobre o segundo agressor, mas a situação ideal é sempre neutralizar a ameaça sem o uso de força letal, pelo que foi um feliz acaso ele ter sobrevivido.

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  42. Krippmeister

    Concordo 100% contigo! O que estava a querer dizer é que é sempre uma má opção matar gente... mas de facto não me parece que houvesse grande margem para manobra, pelo que também me parecia a única e eu apoio-a. Não fico feliz por ter morrido gente, mas ao menos foram "os maus"!

    Disse isto também para me demarcar de qualquer coisa que li um dia destes (não me lembro onde, mas acho que foi no Expresso) que era um disparate qualquer como "um tiro certeiro fez mais pelo combate à criminalidade que (qualquer coisa)". É um disparate e daí a minha alusão à pena de morte: também não resolve e está provado que não resolve, por mais espectacular que seja. Mas aqui até resolveu: evitou-se objectivamente um crime ou dois (assassinatos, no caso)!

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  43. «Tenho a certeza que as primeiras horas foram dedicadas a tentar convencer os agressores a renderem-se pacificamente.
    Falhando isso, a única opção viável é neutralizar a ameaça.
    »

    Kripp,

    estás a esquecer a opção mais viável: "dar" o dinheiro aos assaltantes. Ainda por cima o resultado médio destes assaltos a bancos não são cem milhões de euros e um helicóptero. São dois mil euros e umas esferográficas.

    Quanto dinheiro estava em causa, afinal? Era o dinheiro que eles queriam levar, não era a vida dos reféns. O trabalho da polícia far-se-ia a partir daí.


    Abobrinha,

    eu li essa jóia. Algo como "um tiro certeiro num assaltante é mais pedagógico do que muito investimento em prevenção". Foi numa coluna de opinião de um Correio da Manhã (leio-o às vezes por curiosidade mórbida num café da minha rotina)

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  44. "Concordo 100% contigo! O que estava a querer dizer é que é sempre uma má opção matar gente..."

    Ah ok, percebi ao contrário : ) Ainda bem que não sou sniper do GOE.

    - Agente Krippmeister, retirar!
    - Atirar?
    Pum!

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  45. Krippmeister:

    «Estás a esquecer-te que a prioridade é tirar os inocentes da situação de risco eminente.»

    É precisamente essa a questão.

    Não é a actuação dos atiradores em si. Têm ordens para matar aqueles tipos, disparam quando podem. Se o raptor larga a arma para coçar o rabo, é aí que leva o balázio.

    O que me preocupa foi terem usado atiradores nesta situação. Compreendia-se se os tipos tivessem ido para uma escola fazer miúdos reféns. Nesse caso era evidente que o que queriam punha em perigo a vida das crianças. Ou se tivessem explosivos à volta do corpo, ou se ameaçassem matar um refém a cada meia hora se não libertassem não sei quantos prisioneiros e coisas assim.

    Mas neste caso os tipos assaltaram um banco, sendo evidente o que queriam. Libertaram todos os reféns menos dois. Exigiam dinheiro e ir-se embora. Não tinham cadastro por crimes violentos nem aparente intenção de matar gente. Com os dados que temos parece-me preocupante a decisão da polícia de os matar aos dois passando a "negociar" de forma a colocá-los na linha de tiro. Esta é uma medida de último recurso e não uma para tomarem quando passam 8 horas e querem ir para casa ou coisa do género.

    Eu sei que a situação dos reféns era tramada, o crime é preocupante e essas coisas. Mas isto é a morte de pessoas deliberada e planeada a mando do Estado. Isso é muito mais preocupante que o resto tudo junto, e era importante saber exactamente porque é que decidiram matar os assaltantes naquela altura. Ou seja, o que é que mudou tão radicalmente naquele momento que sugerisse que as pessoas passaram a estar em risco eminente.

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  46. F#$!!-se... é iminente, não eminente. Sorry.

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  47. "estás a esquecer a opção mais viável: "dar" o dinheiro aos assaltantes. Ainda por cima o resultado médio destes assaltos a bancos não são cem milhões de euros e um helicóptero. São dois mil euros e umas esferográficas."

    Bruce

    Acho improvável que se fossem embora sem levar os reféns, e deixar a situação evoluír para fora do ambiente controlado seria por em risco a vida de mais inocentes.

    Mesmo que se fossem embora os dois sozinhos e os apanhassem mais tarde, não se estaria a dizer que fazer reféns funciona? Pelo menos como meio de sair da enrascada imediata de estar cercado.

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  48. Krippmeister,

    «Mesmo que se fossem embora os dois sozinhos e os apanhassem mais tarde, não se estaria a dizer que fazer reféns funciona?»

    Com umas horas de preparação podiam fazer a coisas de maneira a enganar os assaltantes. Um carro quase sem gasolina com o indicador encravado, por exemplo. Há muitas possibilidades. E como eles queriam era fugir com o guito dava para negociar até largarem os reféns. Afinal já tinham largado os outros. Finalmente, era uma questão de tempo. Não iam a lado nenhum sem a polícia deixar e não aguentavam lá para sempre.

    Tanto quanto sabemos havia muitas alternativas, e o que eles fizeram só se justifica se não houvesse alternativa.

    «não se estaria a dizer que fazer reféns funciona?»

    Assim disseram que se dão ouvidos aos negociadores levam um balázio na testa...

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  49. Ludi,

    "Ou seja, o que é que mudou tão radicalmente naquele momento que sugerisse que as pessoas passaram a estar em risco eminente."

    Lá está, não sabes, nem tu nem eu, mas alguma coisa de certo se passou ao longo daquelas 8 horas.
    A situação dos refens não era tramada, era de risco de vida. Aqueles tipos não tinham cadastro nenhum, dois dias antes ninguem diria que eles seriam capazes de assaltar um banco, mas foram, de fazer refens, mas foram, de apontar armas às cabeças de pessoas inocentes, mas foram, que garantias tinhas tu que não eram capazes de matar um refem?

    Havia demasiadas duvidas, mas tinhas uma certeza estavam dentro do banco duas pessoa inocentes, aterrorizadas, com pistolas apontadas á cabeça, pessoas com familias em casa que não sabiam se voltavam a ver ou não. O estado na pessoa da policia fez o que tinha ser feito e neutralizou a ameaça à vida desses inocentes, era uma ameaça, não era concreto, mas eles não podiam esperar para ver.

    "se ameaçassem matar um refém a cada meia hora"

    E como é que tu sabes se eles vão cumprir a ameaça. esperas meia hora a ver se eles matam algum?

    beijos

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  50. Joaninha,

    «Lá está, não sabes, nem tu nem eu, mas alguma coisa de certo se passou ao longo daquelas 8 horas.»

    Quando se trata da morte planeada de pessoas a mando do Estado não se deve dar o benefício da dúvida. Se alguma coisa se passou têm que dizer o que foi, e enquanto não disserem é nossa obrigação como cidadãos assumir que eles fizeram asneira.

    A criminalidade preocupa-me. A criminalidade formal, daquilo que é crime por ser contra a lei, e a real, que pode ser crime mesmo que a lei a permita. E, estatisticamente, os maiores crimes são os crimes cometidos a mando dos estados.

    «E como é que tu sabes se eles vão cumprir a ameaça. esperas meia hora a ver se eles matam algum?»

    Não. Aí tens um caso claro de um perigo iminente. Faltam uns minutos para o prazo da ameaça, não se conseguiu negociar, balázio nele. Mas por frustração porque já se falou durante 8 horas e ainda está tudo na mesma já não...

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  51. "Assim disseram que se dão ouvidos aos negociadores levam um balázio na testa..."

    Disseram sobretudo que se aterrorizas inocentes durante oito horas ameaçando-os de morte, levas um balázio na testa.

    Se eles tivessem aparecido à porta sem reféns e com os braços cruzados em cima da cabeça, não teria havido tiro com certeza.

    Mas lá está, também não sei os pormenores da operação.

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  52. «Mesmo que se fossem embora os dois sozinhos e os apanhassem mais tarde, não se estaria a dizer que fazer reféns funciona?»

    Kripp,

    compreendo que a polícia faça o seu jogo com base em probabilidades. O que não pode ser - e concordarás comigo nem que seja sob ameaça de arma - é que não se podem abater gajos só para dar o exemplo.

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  53. "Não. Aí tens um caso claro de um perigo iminente. Faltam uns minutos para o prazo da ameaça, não se conseguiu negociar, balázio nele. Mas por frustração porque já se falou durante 8 horas e ainda está tudo na mesma já não..."

    A polica tentou negociar durante 8 horas, não conseguiu nada. Não agiu por frustração, agiu para salvar duas pessoas de um perigo muito real e não me digas que não existia perigo iminente, estavam dois inocente com pistolas apontadas à cabeça, para ti que estavas em casa podia não parecer iminente, para os policias que ali estavam a tentar salvar aquelas pessoas e principalmente para os refens o perigo era iminente e muito real.

    beijos

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  54. Krippmeister,

    «Disseram sobretudo que se aterrorizas inocentes durante oito horas ameaçando-os de morte, levas um balázio na testa.»

    O primeiro problema disso é que já não é uma questão de perigo iminente, e eu sou contra o Estado Português sancionar a execução sumária por fuzilamento de quem ameaçe outros por 8 horas

    O segundo problema é que os próximos sequestradores vão saber que levam um balázio na cabeça e não têm nada a perder. Não vai ser bom para os reféns...

    Mas o problema principal é outro. Num assalto com reféns a maioria foi liberta durante as negociações, os assaltantes exigiam dinheiro e meios de fugir e ao fim de oito horas alguém ordenou que os matassem. Os negociadores foram-nos colocando em posição e quando estavam no sítio certo os atiradores mataram-nos.

    O problema principal é que o pessoal todo aplaude sem saber o que aconteceu. O que as evidências indicam é que os polícias mataram os assaltantes porque já estavam fartos de conversa. Pode não ter sido, mas ninguém diz nada e a maioria não quer saber.

    "Se aterrorizas inocentes durante oito horas ameaçando-os de morte, levas um balázio na testa" não é um procedimento aceitável para a polícia. Se foi isso que eles quizeram dizer são piores criminosos que os assaltantes.

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  55. Joaninha,

    «não me digas que não existia perigo iminente, estavam dois inocente com pistolas apontadas à cabeça»

    Durante oito horas...

    Se um assaltante entra num banco e aponta a pistola a alguém eu concordo que um polícia que lá esteja dê um tiro. Naquele momento há perigo iminente.

    Se o assaltante esteve durante 8 horas em negociações não há perigo iminente a não ser que alguma coisa mude.

    Se o procedimento é negociar durante 8 horas e se a coisa não avançou matar os assaltantes esse procedimento está errado. E é assustador que achem bem dar aos funcionários publicos esse poder de decidir calmamente se rebentam os miolos de alguém ou não. Seja de quem for...

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  56. "O primeiro problema disso é que já não é uma questão de perigo iminente"

    Então não concordas com considerar em perigo iminente quem está em linha de fogo directo de uma arma?

    Não sei exactamente quais serão as alternativas a esta directriz, mas é a seguida pela polícia no mundo inteiro, e parece-me lógica.

    "O problema principal é que o pessoal todo aplaude sem saber o que aconteceu. O que as evidências indicam é que os polícias mataram os assaltantes porque já estavam fartos de conversa. Pode não ter sido, mas ninguém diz nada e a maioria não quer saber."

    Aplaudir ou condenar sem saber o que aconteceu também não me parece razoável, por isso a minha posição baseia-se apenas no modo de operação da polícia tal como sei que está estipulado no procedimento habitual. Se eles tinham intenção de matar ou não não sei, mas apontar uma pistola à cabeça de uma pessoa, mesmo que tenhas libertado 100, parece-me uma afirmação de intenção.

    "Se o procedimento é negociar durante 8 horas e se a coisa não avançou matar os assaltantes esse procedimento está errado."

    Qualquer outro procedimento que se baseia na premissa de que eles não vão matar reféns porque já libertaram outros, ou são bons moços, é posto à prova ás contas da vida do tipo que tem a pistola apontada à cabeça. Má onda.

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  57. Ludwig

    A nossa polícia já teve casos em que venceu os sequestradores por cansaço e não chegou a usar praticamente força. Acho que são suficientemente comedidos nestas situações e não acho que tenham tido alternativa.

    Acho que ninguém quis matar ninguém, mas teve mesmo que ser! A alternativa podia ser um derramamento de sangue inocente e ainda bem que não foi.

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  58. Krippmeister,

    «Então não concordas com considerar em perigo iminente quem está em linha de fogo directo de uma arma?»

    Se há indicios que vão disparar a arma naquele momento o perigo é iminente. Mas se estão nisso há 8 horas sem haver tiros o perigo não é iminente.

    «Aplaudir ou condenar sem saber o que aconteceu também não me parece razoável,»

    Pelo que apurei o que aconteceu foi que foram libertos quase todos os reféns, os assaltantes queriam dinheiro e zarpar, estiveram 8 horas em negociações, entre a ordem para os abater e os disparos decorreu mais de meia hora e, durante esse periodo, os negociadores manobraram os assaltantes de forma a que pudessem ser abatidos.

    Nestas circunstâncias eu diria que não respeitaram o disposto no artigo 2º do Decreto-Lei n.º 457/99 que regula o recurso a arma de fogo em acção policial:

    «1- O recurso a arma de fogo só é permitido em caso de absoluta necessidade, como medida extrema, quando outros meios menos perigosos se mostrem ineficazes, e desde que proporcionado às circunstâncias.
    2 - Em tal caso, o agente deve esforçar-se por reduzir ao mínimo as lesões e danos e respeitar e preservar a vida humana.»


    É possível que alguma coisa tenha acontecido que indicasse que não se podia esperar mais ou tentar resolver a coisa com mais tempo. Mas duvido porque se houvesse tal coisa tinham logo dito.

    «Qualquer outro procedimento que se baseia na premissa de que eles não vão matar reféns porque já libertaram outros,»

    Não é essa a premissa. Uma premissa é que o objectivo dos assaltantes não era matar gente mas sim fugir com o dinheiro. Daí terem liberto quase todos e estado 8 horas a negociar sem matar ninguém. A outra é que o papel da polícia é apreender os infractores para os levar a julgamento.

    Finalmente, a terceira premissa é que quando um polícia manda matar pessoas tem que ficar bem claro porque é que o fez naquela altura. Essa do não sabemos o que aconteceu por isso não dizemos nada não é a atitude certa a ter para com o Estado, senão lixam-nos com F grande...

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  59. Abobrinha,

    «Acho que ninguém quis matar ninguém, mas teve mesmo que ser!»

    Como é que sabes? É que nestas coisas não pode ser à confiança...

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  60. Ludi,

    Não tem nada com nada mas.

    Chiça és teimoso tu!!!

    (pode-se dizer chiça neste blog?)

    Ninguem está a dizer que o estado tem o direito de mandar matar ninguem, toda a gente já entendeu o que tu queres dizer e provavelmente até concorda, mas a questão é:

    Dois tipos, duas armas, dois inocentes.

    Corres risco, negoceias durante horas e horas e dias rezando para que os raptores não se fartem e resolvam matar alguem. OU não entrem em panico e começem a disparar e matem um policia ou os refens?

    Das-lhes o dinheiro e deixas que os tipos fujam? rezando para que não matem ninguem pelo caminho, não matem os refens, e esperando sinceramente que consigas apanha-los depois e que eles não resolvam repetir a gracinha, já que ficaram a saber quea policia acaba por ceder?

    Com certeza que o metodo pode não ser o melhor, mas foi bem pensado, equacionado, e é controlado. Repara quem vai ser presente a tribunal não é a pessoa que deu a ordem para disparar, é o sniper que disparou...Se queres ir atrás de alguem talvez devas ir atrás de quem deu a ordem. Mesmo assim, não acredito que seja uma ordem facil de dar, e ao contrario do que dizes não acredito nada que tenha sido porque estavam fartos, até porque esses senhores dos GOE, (1 pelo menos que eu conheço muito bem) aguentam bastante mais de 8 horas.

    Beijos ó teimoso!

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  61. Ludwig

    Eles iam sair com o dinheiro e os reféns. Exactamente o que te leva a pensar que, depois de tanta demosntração de força iam deixar os reféns sair na boa? Nas tuas próprias palavras, " nestas coisas não pode ser à confiança".

    Mas tu preferes ter confiança em dois tipos que pelos vistos até já andavam em assaltos antes (mas a polícia não sabia) a confiar numa força policial que já deu mostras de calma antes. Desculpa, mas estás a ser teimoso (mas podemos continuar a discutir, se quiseres!).

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  62. Joaninha,

    «pode-se dizer chiça neste blog?»

    Acho que sim. Por mim, não se abate ninguém por causa disso :)

    «Corres risco, negoceias durante horas e horas e dias rezando para que os raptores não se fartem e resolvam matar alguem. OU não entrem em panico e começem a disparar e matem um policia ou os refens?»

    Sim, e isto demonstra que não me fiz entender bem ainda.

    Quando se prende um assassino corre-se o risco de ele fugir e matar alguém. Quando se condena um ladrão a 3 anos de cadeia corre-se o risco de ele, ao saír, cometer um crime pior. Corre-se sempre esses riscos porque o poder que damos às pessoas que trabalham na polícia tem que ser limitado pelo respeito pela vida e pela presunção de inocência. Ninguém é culpado até o tribunal dizer que é.

    Por isso a excepção que podemos admitir tem que ser mesmo no caso extremo. O polícia que atira a matar tem que o fazer com a convicção que se não dispara naquela altura alguém vai morrer naquela altura. Não é daí a umas horas, não é pelo sim pelo não.

    É esse o meu ponto. Não podemos dar esse poder a ninguém. E não sou só eu que o digo. Diz a Constituição e diz a lei que regula o uso de armas de fogo por parte da polícia.

    Por isso só vejo duas hipóteses. Ou houve algo naquele momento que justificava atirar a matar, ou se foi às 8h porque calhou e tanto podia ser às 6h como às 12h, só para não arriscar mais, então foi um acto ilícito e devia ser punido.

    Se a polícia começa a atirar a matar "para não arriscar" prefiro a gatunagem...

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  63. Abobrinha,

    «Eles iam sair com o dinheiro e os reféns. Exactamente o que te leva a pensar que, depois de tanta demosntração de força iam deixar os reféns sair na boa? »

    Não sei o que iria acontecer. É precisamente por isso que não os deviam ter morto. Podiam sair na boa, podiam render-se, podiam tentar fugir e ser apanhados. Podiam até conseguir fugir. Tudo isso era melhor que haver mortos.

    É claro que podiam também matar os reféns. E havendo indícios claros disso a polícia teria justificação para os matar antes. Mas sem esse perigo evidente e imediato não se justifica o que fizeram.

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  64. Ludi, a divergência é claramente a avaliação do perigo iminente. O que está estipulado é que qualquer pessoa na linha directa de fogo está em perigo iminente, e portanto é justificado o uso de força letal.

    O que tu pretendes é talvez mudar essas directrizes, ou tornar mais específicas as situações. Mas tal qual como as coisas estão neste momento, foi tudo legalmente feito dentro dos parâmetros autorizados.

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  65. Bruce disse:

    "compreendo que a polícia faça o seu jogo com base em probabilidades. O que não pode ser - e concordarás comigo nem que seja sob ameaça de arma - é que não se podem abater gajos só para dar o exemplo."

    Depende da situação, se fossem terroristas não estaríamos a ter esta divergência, mesmo que só tivessem também dois reféns.

    Tenho a convicção de que se lhes dessem o dinheiro e os deixassem ir, no mês seguinte haveriam mais 50 casos de reféns em risco de levar um tiro, mas para ser sincero não tenho dados nenhuns que me levem a afirmar isto com certeza. Mas parece-me provável. E neste caso justifica-se dar o exemplo.

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  66. Ludovico,

    Estás a responder a alhos com bugalhos.

    Quando os manuais são usados nas aulas acredita que todos os royalties já foram pagos.

    Mas, de todas as maneiras, acho que justificar um roubo pela intangibilidade do bem é de uma desonestidade gritante.

    Sim, gostas de ter musica e livros de graça. Toda a gente gosta. Agora tentar justificar isso com teorias palermas é que é mau. Fica-te pelo ataque às religiões que aí é que fazes boa figura.

    De resto não me interessa os detalhes: quem investe na produção de um bem, seja ele tangivel ou intangivel tem de ter direito retorno do seu investimento. Aí até pode ser o Estado a proporcionar esse retorno. Agora a poesia que escrevo e a música que componho são minhas e eu faço delas o que quiser. Dar, vender, guardar numa arca. Quem não gosta, não compra. É simples e no máximo quem perde sou eu.

    MAs continua lá a bombar no soulseek e a convenceres-te que tens a razão do teu lado. Afinal de contas é tão bom aproveitar a custo zero o investimento em produções de qualidade, não é.
    Porque se os albuns que tu sacas da net fossem gravados na garagem com um 8 pistas já tinha menos piada não?

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  67. Krippmeister,

    «O que está estipulado é que qualquer pessoa na linha directa de fogo está em perigo iminente»

    Onde é que isso está estipulado? Não encontrei isso na legislação...

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  68. Wyrm,

    «Estás a responder a alhos com bugalhos.»

    Não. Tu argumentaste que não se deve copiar gratuitamente certas sequências de números porque custaram dinheiro e trabalho a encontrar. É relevante apontar o vasto conjunto de sequências de números nessas condições que todos aceitamos serem de uso livre.

    Ou há uma diferença relevante entre umas sequências e as outras, ou o teu argumento não serve.

    «quem investe na produção de um bem, seja ele tangivel ou intangivel tem de ter direito retorno do seu investimento.»

    Concordo. Um retorno proporcional ao investimento. Assim, seja matemático, pintor ou músico, deve receber em função do tempo que trabalhou, dos materiais que gastou e do contrato que foi concordado antes do início do trabalho.

    Mas nada disto implica receber pela cópia de números. Esse é que é o absurdo.

    «acho que justificar um roubo pela intangibilidade do bem é de uma desonestidade gritante.»

    Desonesto é não reconhecer a diferença entre tirar-te a roupa do corpo e vestir uma roupa igual à tua. Ou a diferença entre privar-te da tua comida ou comer uma refeição igual à que tu comeste.

    Não se pode roubar bens intangíveis a menos que encontres uma maneira de privar alguém do seu uso.

    «MAs continua lá a bombar no soulseek e a convenceres-te que tens a razão do teu lado.»

    Certo... à falta de argumentos racionais, o ad hominem calha sempre bem...

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  69. Ludovico,

    Continuas a misturar alhos com bugalhos.

    "Tu argumentaste que não se deve copiar gratuitamente certas sequências de números porque custaram dinheiro e trabalho a encontrar."

    O facto de existirem outras "sequências" não invalida em nada o que eu disse. Aliás, esse tipo de argumento também serve aqueles que fogem aos impostos, "porque toda a gente o faz". Se uma editora opta por comprar um gravador de 8 pistas e gravar na casa de banho, outra opta por gravar num estúdio caríssimo com nomes sonantes na produção ficamos perante investimentos completamente diferentes. E há uma diferença em partilhar a "música" e partilhar a "produção". É por isso que te considero desonesto. Não acredito que não consigas perceber a diferença.

    "Um retorno proporcional ao investimento."

    Mas quem és tu para estabelecer essa proporcionalidade? Quem és tu para colocar um preço no meu trabalho? Eu ataco fortemente os apologistas do mercado sem limites mas tu és o extremo contrário. Quanto achas tu que fale o trabalho de um Miró, por exemplo? Então para ti o valor de uma obra de arte depende do trabalho que se teve a criá-la? Então um escritor que escreva um livro de 200 páginas durante 2 anos merece uma remuneração maior que o que escreveu um livro de 200 páginas durante 1 mês. Afinal, o primeiro teve muito mais trabalho. Disparates, portanto.

    "Certo... à falta de argumentos racionais, o ad hominem calha sempre bem..."

    Mas do meu ponto de vista quem tem falta de argumentos racionais és tu. Confundes criação artística com produção. Pretendes que uma editora (seja qual for a dimensão) produza o melhor produto possivel e que tu usufruas desse produto a custo 0. Isso é desonesto. Aliás, aquilo que tu dizes só faz sentido se estivermos a falar das pautas, da musica propriamente dita. No que diz respeito à forma como essa música foi gravada já são outros quinhentos.
    Tomando o exemplo da roupa, uma coisa é imitar o design da Levi's (pauta) e criar as calças de ganga Ludovico's; outra é roubar calças Levi's (produção) e distribuir pelos amigos.

    Queres sacar música e filmes à borla, continua. Afinal ainda não é para já que vão conseguir controlar isso, e espero que nunca o consigam. Mas toda essa filosfia apenas serve para justificar o facto de te estares a aproveitar do investimento em estúdios e profissionais por parte de editoras (grandes ou pequenas) sem pagares um tostão. Os meus parabéns.

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  70. Wyrm,
    o Miró assim como qualquer outro pintor são excelentes exemplos contra aquilo que defendes. Todos nós podemos admirar as obras dele, em reproduções, na internet sem que um unico cêntimo reverta para o pintor. Será que pretendes taxar cada mirada que dás numa pintura?
    Há coisas que só (parecem que) fazem sentido porque convivemos com elas há muito tempo !
    Não há qualquer motivo sensato para perpétuar o rendimento que uma obra reverte para o autor; apenas o poder artifial que as editoras detéem via uma lei anacrónica.

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  71. Wyrm,

    «O facto de existirem outras "sequências" não invalida em nada o que eu disse. Aliás, esse tipo de argumento também serve aqueles que fogem aos impostos, "porque toda a gente o faz".»

    A diferença é que enquanto condenas as pessoas que fojem ao fisco aprovas que se use gratuitamente sequências de números que descrevem estruturas de moléculas, teorias científicas, demonstrações matemáticas, quantidades físicas, etc, sem remunerar quem as descobriu cada vez que se copiam esses números.

    Ou seja, contradizes-te, alegando ser incorrecto copiar números num caso por razões que, noutro caso, consideras não tornar incorrecta a cópia de números.

    «Aliás, aquilo que tu dizes só faz sentido se estivermos a falar das pautas, da musica propriamente dita. No que diz respeito à forma como essa música foi gravada já são outros quinhentos.»

    Mais uma vez, grande confusão. A pauta não é a música propriamente dita. A música é uma sequência de sons e a pauta uma sequência de símbolos que, por convenção, representam esses sons. E o ficheiro no PC é também uma sequência de símbolos (dígitos também são símbolos, com um significado puramente convencional) que representa a sequência de sons.

    É certo que a representação em mp3 normalmente é mais detalhada que a de uma pauta*, mas ambas são representaçãose simbólicas e puramente convencionais do som que é a música.

    * Mas não necessariamente. Por exemplo, para uma música composta num sintetisador a pauta (ou um ficheiro midi) pode ter toda a informação e ser interpretada automaticamente com mais fidelidade que o mp3.

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  72. «Corres risco, negoceias durante horas e horas e dias rezando para que os raptores não se fartem e resolvam matar alguem. OU não entrem em panico e começem a disparar e matem um policia ou os refens?»

    "Sim, e isto demonstra que não me fiz entender bem ainda."

    Ludi,

    estas a ser teimoso por ser, ou então não estás verdadeiramente a pensar no sofrimento terrivel imposto aquelas duas pessoas inocentes, achas que seria normal a policia condenar aquelas pessoas a um terror que nem nos passa pela cabeça? Achas que a policia devia condenar aqueles refens a esse sofrimento? Eu acho que não.

    Estás a ver as coisas pelo lado errado e a partir do principio que a polia agiu mal, mesmo sem teres qualquer prova disso.

    Mas eu á entendi a tua posição.

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  73. "«O que está estipulado é que qualquer pessoa na linha directa de fogo está em perigo iminente»

    Onde é que isso está estipulado? Não encontrei isso na legislação..."

    Não é na legislação, é nas regras das operações especiais de polícia. Que eu saiba todas se guiam por esta premissa.

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  74. Joaninha,

    «não estás verdadeiramente a pensar no sofrimento terrivel imposto aquelas duas pessoas inocentes,»

    Estou. Mas não esse sofrimento, por muito terrível, não justifica matar. A polícia só tem legitimidade para matar «em caso de absoluta necessidade, como medida extrema, quando outros meios menos perigosos se mostrem ineficazes, e desde que proporcionado às circunstâncias.»

    «Estás a ver as coisas pelo lado errado e a partir do principio que a polia agiu mal, mesmo sem teres qualquer prova disso.»

    Pelo contrário. As evidências que tenho indicam que a situação na altura em que os assaltantes foram alvejados era semelhante ao que tinha sido durante 8 horas antes e sugerem que ia continuar a ser assim. Eles a pedir o dinheiro e meios de fuga, a polícia a negociar. E ninguém dos que discordam de mim nisto sugeriu o contrário. Por isso a minha conclusão é que não estavam cumpridos os requisitos legais (e morais) para esta acção da polícia.

    Admito a possibilidade de haver factores que desconheço, mas isso só será relevante quando os conhecer.

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  75. Krippmeister,

    «Não é na legislação, é nas regras das operações especiais de polícia. Que eu saiba todas se guiam por esta premissa.»

    Não encontrei essas regras, mas parece-me improvável que contradigam a lei. Ou terão lá algo como "sem prejuízo para o disposto no decreto lei..." etc ou então estamos mesmo mal se a polícia pode fazer as suas regras sem considerar a lei.

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  76. Kripp

    Estes assaltantes já tinham feito vário servicinhos em bancos(*) sem tirar a vida a ninguém, e provavelmente em todos eles puseram alguém na linha de fogo.

    Pois foi precisamente no assalto em que a polícia tomou conta da ocorrência que se decidiu que o montante exigido valia mais do que a vida dos meliantes, e como está bom de ver, estabeleceu-se que a única solução era balear alguém. Permite-me esta reconstituição dos factos mais decisivos. Ao fim de 8 horas e em directo na televisão, o comando Roger consulta-se a si próprio:

    - Vamos acabar com isto?
    - Afirmativo.

    (fim da reconstituição)
    Como vês a decisão não parte de um regulamento policial, parte apenas do Roger. Acredita que se eu estivesse naquele banco durante da troca de tiros (e se porventura não me encontrasse entre os assaltantes) ia pedir contas ao sovina que tinha posto a minha vida em risco para não libertar as notas. Nem sequer era ao Roger.

    ___________
    (*)acumulando em casa a faustosa soma de dez mil euros

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  77. Recordo-me de ficar impressionado com a eficácia e limpeza desse tiro certeiro, com o terminar das horas de angustia, com a alegada acção pedagógica da nossa policia. O "povo" rejubilou com a tão esperada desforra em directo da policia contra os bandidos desse portugal e o grande especialista Moita Flores foi célere em louvar o trabalho do GOE e das forças policiais presentes na operação.

    Hoje não vejo mais as coisas desta forma. Independentemente do ponto em que estavam as negociações no momento do tiro, penso que as forças policiais falharam rotundamente, não o sniper, que se limitou a cumprir ordens, mas sim o negociador e quem geriu essa parte da acção policial.
    A empatia pelos reféns e o seu sofrimento não pode ofuscar o essencial:

    O objectivo das forças da ordem pública não foi alcançado !

    Como cidadão português sinto-me no direito de exigir uma polícia preparada para lidar com estas situações, o que inclui ausência de vitimas sejam do "lado dos bons" ou do "lado dos maus".

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  78. Ludovico e -com-,

    Quando falei em Miró era a respeito do esforço necessário para criar uma obra de arte que, de acordo com o Ludovico, deve ser proporcional á remuneração do artista.

    Mas ao exemplo que tu dás, -com-, eu comparo em ires a uma discoteca ou a uma loja de pronto a vestir ou a um elevador. Não estás a pagar pela musica que ouves, pelo menos directamente, mas houve quem tivesse pago.

    O mesmo digo em relação ás tais sequências. Possivelmente as descobertas dos dias de hoje já têm patentes e royalties e as que tu te referes, Ludovico foram criadas/descobertas no tempo em que ainda se cagava de cócoras. Logo a ausência do tal "pagamento". Pitágoras, nos dias de hoje, teria registado a patente do seu teorema e teria sido compensado pelo seu contributo à Matemática.

    O que tu falas a respeito de música pode ser dito a respeito de bancos de madeira. Eu acho que o músico que ordena uma série de notas e a editora que paga as condições para que essa série de notas seja gravada com as melhores condições possíveis devem ser compensadas pelo seu esforço.

    Ou isso ou tens um grande desprezo pelo trabalho artístico/intelectual visto não quereres compensar alguém (desde o artista à editora (seja ela grande ou pequena) pelo seu trabalho, se deste não resultar um banco de madeira.

    E com isto me vou, para não te roubar largura de banda do bit-torrent e do kazaa.

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  79. Também comentei cá em casa esse brutalidade de tempo dedicada à criminalidade: meia hora de notícias de assaltos com entrevistas a criminologistas pelo meio. Conseguiram falar mais de crimes do que de futebol!! Até escrevi sobre isso (http://oafilhado.blogspot.com/2008/08/estranhas-coincidncias.html). Quanto ao chip, é mais um exemplo dos constantes ataques às liberdades individuais e mais um exemplo da falta de participação cívica do povo português: salvo alguns blogues, não existe propriamente uma onda de protesto contra tais chips. Qualquer dia, a bem da segurança, viveremos num mundo totalmente orwelliano, apenas com 24 anos de atraso. The Big Brother Is Watching You.

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  80. Ludwig disse:
    "Não encontrei essas regras, mas parece-me improvável que contradigam a lei."

    Pois, já somos dois. Também não sei onde li isso nem encontro em lado nenhum.

    Mas contradizer a lei não contradiz com certeza. A lei é muito vaga, só diz que a força letal só deve ser usada em casos extremos, mas não explica como determinar se o caso é extremo ou não.

    E com esta esgotei o meu (fraco) poder argumentativo, por isso vou usar a técnica do perspectiva.

    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!
    A polícia agiu bem porque agiu bem!

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