sexta-feira, maio 04, 2007

Menino ou Menina?

A empresa DNA Worldwide (1) comercializa um teste simples para determinar o sexo do embrião a partir das seis semanas. O teste detecta vestígios de ADN do cromossoma Y no sangue da mãe. Basta uma gota de sangue materno para saber se é menino ou menina.

Por enquanto o teste é caro (quase €300), mas o preço destas coisas cai rapidamente, e já há muitos que se opõem a estes testes por permitir escolher o sexo por aborto selectivo. À boa maneira Britânica, o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists considera que abortar para seleccionar o sexo sem justificação médica é «inappropriate»(2). Mas o problema não é o teste.

Não há nada de errado em pôr uma gota de sangue no kit e saber se é menino ou menina, se tem olhos azuis ou castanhos, se vai ser míope ou atlético ou mil e uma possibilidades que irão surgir nos próximos anos. E é má ideia impedir o progresso e disseminação desta tecnologia. A mesma tecnologia permitirá o diagnóstico precoce da fibrose cística ou da mucopolisacaridose. Se alguma coisa justifica o aborto é poupar à criança uma morte arrastada e dolorosa nos primeiros anos de vida.

O problema é a ideia o aborto como um direito que a sociedade deve apoiar. Se é por questões económicas ou porque os pais não querem ter filhos podemos fingir que a decisão só afecta os adultos. Fazer de conta que ninguém perde nada com o aborto. Mas o truque falha se é por não ter o sexo certo ou as características que os pais querem. E é difícil aceitar o aborto quando não se consegue ignorar o visado.

O referendo já foi, mas agora há que decidir se era mesmo para acabar com os processos judiciais ou se era para oferecer este serviço incondicionalmente. E decidir depressa como responder ao avanço desta tecnologia.

1- DNA Worldwide
2- BBC, 4-5-07, Early baby sex test over the web

10 comentários:

  1. A meu ver estamos no bom caminho da tecnologia mas temos más ideias. Fazer uma selecção de embriões em prol da morte não é, de facto, a melhor atitude. A melhor seria escolher à partida as características e não usando o método de tentativa e erro.
    O Diagnóstico Genético Pré-Implantação é usado para diagnosticar doenças no feto e não deve ser usado para fazer uma selecção (ler mais em: http://o-outro-universo.blogspot.com/2007/04/diagnstico-gentico-no-deve-ser-usado.html)

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  3. Nao sei decidir eticamente se este tipo de "uso" para o aborto e' realmente correcto, do ponto de vista da seleccao natural e da evolucao dado que o mundo caminha para uma maior intervencao directa da nossa parte (humanidade) nessa mesma evolucao e seleccao.

    Mas pq concordo com o aborto ate' 'as 10 semanas (ou ate' ao tempo determinado cientificamente em que um feto comece a ter actividade cerebral) seja pq razao seja, tenho de apoiar o aborto livre mesmo nestas circunstancias. E' na parte etica deste assunto que nao me pronuncio. Alias, este post alertou-me um pco mais para o assunto e estou 'a espera de mais. ;)

    Mesmo assim, acho q os que foram defensores do "nao" no ultimo referendo tem o que me parece ser um erro na avaliacao de todo o problema que o aborto ate' 'as 10 semanas levantou.

    A parte do matar ou nao matar um ser humano.

    Ha' uns tempos estava a pensar nisto do aborto outra vez, e pareceu-me ter detectado um erro na maneira de ver o problema. Isto por parte das pessoas que acham que o aborto de um feto que de humano so' tem as caracteristicas geneticas ate' 'aquele momento, e' equivalente 'a morte de um ser humano nascido.

    Sim, o Ludwig apontou e bem que ser humano e' um ser vivo da especie Homo, mas acho q o raciocinio parte de um pressuposto errado para ilegitimar (ainda que so' eticamente, a meu ver) o aborto.

    Por falta de creatividade tenho de dar um exemplo estranho mas a analogia esta' la':

    Imagine-se um mundo distante onde a regra de construcao civil e': Ao pintar, ou se usa tinta branca depois de construido, ou se manda abaixo se se pintar de outra cor.

    Vamos assumir que o dia em que se pinta de branco uma construcao tem no nosso mundo o equivalente ao nascimento da consciencia de uma pessoa (actividade cerebral concreta) q acontece na data que ate' hoje a ciencia diz ser qualquer coisa como 10 semanas, pessoa essa que e', logicamente, o edificio.

    Agora imaginem que a pessoa que recebeu a ordem de demolir casas de outras cores chega a um local onde a casa supostamente verde e vermelha 'as bolinhas azuis e amarelas nao foi nem sera' pintada. Dono excentrico, por exemplo.
    Como e' que se decide se a casa vai abaixo ou nao por nao ser branca?
    Simples. Se depende da cor da tinta demolir uma casa que nao foi pintada e nem tinta tem, a questao nao se coloca. Nada e' especifico acerca de edificios por pintar e a lei permite que nao se pinte.

    Bom, voltando ao aborto, o erro que eu acho q aparece constantemente na maneira das pessoas defenderem o "nao" e' olhar os 2 percursos do problema (o abortar e o nao abortar) como se estivessemos sempre perante os factos e caracteristicas de 1 desses percursos.

    Ou seja, a resposta e' nunca demolir pq a casa um dia vai/pode ser branca, ou demolir sempre pq pode nao vir a ser branca (depende do ponto de vista), mesmo sabendo que o proprietario excentrico nunca a vai pintar.

    Isto a mim, parece-me absurdo. Olhar um futuro e considera-lo parte do raciocinio mesmo que ele nao exista, mesmo que um dono excentrico diga que ele nao acontecera', mesmo que um aborto seja o acto que faz desaparecer a questao de se o feto um dia ia ser um ser humano adulto, um lesado, ou nao.
    E' irrelevante pensar que ha' um lesado no aborto, qnd esse feto ainda nao tem algo que o distinga dum dedo cortado na cozinha ou apendice cortado numa cirurgia. So' ha (para os defensores do "nao") uma hipotese de pintar uma casa qnd o dono excentrico ja disse que nao o vai fazer pq quer abortar e deitar os baldes de tinta fora. :)

    O problema parece-me simples.
    Eu ignoro, portanto, o lesado.
    Nao consigo ver lesado algum pq ele nao vai ter tempo de se tornar um. O aborto vai impedir essa situacao.
    Nao podemos continuar a insistir num lesado (presente, futuro, potencial lesado, etc...) como argumento defensor do "nao" qnd o defensor do "sim" propoe-se a fazer algo que nunca no seu percurso inclui um (lesado).
    Nao me parece que exista uma maneira logica que dar a volta a isto. Ou ha'?

    Ate' pode vir um pais qualquer do mundo e fazer do aborto um desporto nacional. Vou achar estupido, mas nunca ilegitimo desde que ate' 'as 10 semanas e com a autorizacao explicita dos "desportistas".

    Por isso nao me parece que existam truques (como o Ludwig refere no post) que falham, ou faz de contas.
    Apoiar o aborto como direito? Sim, concordo.
    Afinal, nao vejo alternativa logica a ter de ignorar o lesado que nao existe. Existiria se nao se abortasse. Mais uma vez, sao 2 percursos diferentes, abortar e nao abortar. Um percurso tem e faz nascer um ser humano, outro nem por isso.

    Ultimamente, e para acabar, concordo com o primeiro comentario (dario cardina codinha):
    "A melhor seria escolher à partida as características e não usando o método de tentativa e erro."
    Isso seria melhor. No entanto, e' uma tentativa-erro que ate' que algo melhor seja possivel, nao esta' a lesar ninguem. Eu nao chamo a isto estar a ter mas ideias, sao apenas ideias.

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  4. Caro calhandro,

    Esse exemplo que apresenta exprime o meu ponto de vista, que apresentei ao Ludwig durante as discussões neste blog.

    Acho que ilustra bem o anacronismo da questão.

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  5. A este respeito, posso acrescentar que, no ponto de vista do idealismo, não se coloca sequer esta questão da actividade cerebral do feto como determinante para saber se o mesmo já tem ou não consciência, uma vez que se trata de uma realidade distinta, claro.

    De um modo geral, não parece haver nenhum impedimento ético para a interrupção da gravidez, em especial nos primeiros estágios da gestação. Já agora, e embora isto seja puramente especulativo, as filosofias monistas do Oriente dizem que a consciência só surge no feto humano sensivelmente por volta dos seis meses de gestação o que, curiosamente, corresponde mais ou menos à viabilidade extra-uterina, por exemplo nos casos de abortos espontâneos ou parto medicamente induzido.

    Ainda assim, e uma vez que é inegável que o feto já possui sensibilidade à dor, pelo menos a partir dos 3 meses, a escolha do método abortivo tem a sua importância e envolve, aqui sim, argumentos éticos que não devem ser ignorados. Não sei o que é ou não permitido actualmente, nos diversos países, mas há métodos brutalmente cruentos que seriam impensáveis sequer para o abate de um animal, quanto mais para terminar a vida de um embrião ou feto da nossa espécie!

    Por exemplo, o terrível método do "partial abortion", só agora finalmente ilegalizado nos EUA - e por uma estreitíssima margem de 5-4 no Supremo Tribunal! - é, na prática, quase um infanticídio, até por ser já praticado no 2º trimestre de gestação. Obviamente, e independentemente do que as leis dos diversos países declararem, qualquer aborto de um feto saudável e viável, sem razões médicas válidas, é mesmo um infanticídio puro e duro... seja condenado ou não!

    Por fim, e numa altura em que tanto se clama por liberdade de informação e expressão, parece-me tristemente elucidativo que os cidadãos se possam pronunciar sobre aquilo que é, no fundo, uma questão de vida e morte, sem lhes ser dado um conhecimento concreto e real - só os movimentos do "Não" o fazem, mas numa base mais chocante e emocional, claro - dos métodos abortivos utilizados na prática médica actual. Deveras, eu nem sei se as grávidas têm alguma palavra a dizer sobre isto, mas até desconfio que não, sobretudo num sistema de saúde em que os utentes quase não têm voz própria e se limitam a engolir... literalmente!... tudo o que lhes receitam e dizem.

    Depois, ainda se admiram neste site que haja grande procura das "não-científicas" medicinas das mezinhas e da água destilada... solução que não é nada! Pois sim, compare-se só a abordagem atomicista-nihilista de um lado e a integralista-holista do outro e, independentemente de méritos ou deméritos terapêuticos, conclua-se o porquê de quem escolhe porque vê!!!

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  6. O erro não está no teste. O erro está apenas no facto de se fazer aborto selective. A amniocentese tambem permite determinar o sexo do feto. Se fossemos por aí...

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  7. Há possibilidade de erro na determinação do sexo da criança?

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  8. Pergunto ao calhandro:
    Porque é legítimo o aborto até ás 10 semanas, e não 10,5...11...12, 32?!
    Será que a ética ou ciência varia de país para país? Vale a pena conhecer as actuais discussões à volta do mesmo tema no Brasil, ou Espanha (mais perto).O futuro vai agradecer aos Pró Vida.
    Mulher q abortou há 20 anos...sem ter sido presa!

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