domingo, março 09, 2014

Treta da semana (passada): a crença básica de Plantinga.

Há poucas semanas critiquei uns argumentos absurdos que o filósofo Alvin Plantinga apresentou contra o ateísmo. Várias pessoas responderam a essas críticas mas, curiosamente, sem mencionar nada que resolvesse os problemas na argumentação do Plantinga. Simplesmente alegaram que eu não sabia nada da epistemologia que Plantinga defendia o que, além de falso é irrelevante para criticar o que ele disse na entrevista (1). Mas um post sobre uma ideia central naquilo que o Plantinga defende pode ajudar a perceber porque é que tenho tão pouca admiração por este filósofo.

Plantinga argumenta que é racional acreditar em Deus mesmo sem ter evidências propondo que “uma crença C é justificada para o sujeito S se e só se C for gerada por faculdades adequadamente funcionais num ambiente apropriado e de acordo com um plano bem sucedido para a produção de verdade” (2). Simplificando e ignorando algumas complicações filosóficas, uma crença é justificada se surge por um processo fiável nas condições certas. Assim, se Deus existir e tiver criado nos humanos uma predisposição para ter fé na sua existência e essa predisposição for fiável então a crença na existência de Deus será justificada pela fé. Mesmo que isto fosse uma epistemologia satisfatória não suportaria a conclusão de que é racional acreditar em Deus pela fé porque essa crença só seria justificada se Deus existisse. Na melhor das hipóteses será um argumento a favor do agnosticismo. Mas o problema desta tese de Plantinga é mais fundamental. Para que uma crença seja justificada não basta que surja por um processo fiável. É preciso também que quem adopte essa crença saiba que ela surgiu por um processo fiável.

Este problema é evidente num artigo mais antigo do Plantinga, onde ele propõe esta sua epistemologia como uma modificação do fundacionismo (3). Resumidamente, o fundacionismo defende que qualquer crença ou é justificada com recurso a outras crenças justificadas ou é uma crença básica, auto-justificada por ser auto-evidente e impossível de alterar. Por exemplo, se eu sinto que estou a ver um copo de cristal, a crença de que eu sinto que estou a ver um copo de cristal será uma crença básica porque é auto-evidente e não posso sequer considerar alternativas. Se sinto não posso crer que não sinto.

Plantinga tenta relaxar esta exigência e defende que para uma crença ser básica – i.e. não depender de outras crenças para se justificar – basta que surja nas condições certas. Por exemplo, se eu sinto que estou a ver um copo de cristal, nas condições certas, não só é auto-justificada a crença de que eu sinto que estou a ver um copo de cristal* mas também a crença de que eu estou realmente a ver um copo de cristal. Se a minha visão funciona bem, defende Plantinga, então justifica-se crer que o que eu sinto corresponde à realidade. No entanto, a crença de que eu estou realmente a ver um copo de cristal não pode ser básica porque só se justifica se eu acreditar também que a minha visão está a funcionar bem. Em pequeno, num estado febril e meio a dormir, tive uma visão vívida de um belo copo de cristal a flutuar à minha frente, reflectindo a luz em imensas cores. A crença de que eu tive essa visão pode ser básica mas não considerei justificável crer que se tratava de um copo de verdade porque, naquele momento, não acreditei que o meu sistema nervoso estivesse funcional. Plantinga quer varrer este problema para debaixo do tapete exigindo unicamente que o processo esteja a funcionar correctamente nas condições certas mas isso não basta porque o sujeito tem de o saber também. Suponhamos que eu vi aquele copo porque Deus fez um milagre e criou um copo mágico a flutuar à minha frente quando eu estava cheio de febre. Nessas condições eu estava a ver um copo real por meio do meu sistema nervoso, que Deus tinha concebido para identificar copos de cristal de forma fiável, em condições tais que tudo estaria a funcionar bem. Mas, mesmo assim, não seria justificado eu acreditar que o copo era verdadeiro se não sabia do milagre e julgava que estava a alucinar com a febre.

Resumindo, Plantinga tenta fazer aqui um atalho na epistemologia defendendo que alguém pode ter uma crença justificada apenas pelo processo como a crença surgiu sem precisar de justificar porque acredita que o processo é fiável. Isto não faz sentido. Se eu sinto que estou a ver uma árvore, em condições normais, tenho justificação para crer que é mesmo uma árvore mas porque tenho justificação para crer que a minha visão é fiável nessas condições. Por exemplo, pela consistência com que tenho conseguido identificar árvores no passado. Mas se vejo um fantasma, ou se sinto Deus, não posso justificar crer que estou a sentir algo real sem justificar primeiro a premissa de que o meu sistema nervoso é adequado para identificar correctamente estas entidades. E mesmo que se dê esta borla, Plantinga fica apenas com um argumento circular: se Deus existir, diz ele, justifica-se crer pela fé; mas se não existir então não se justifica. Isto só reforça a conclusão de que é irracional acreditar em Deus pela fé enquanto não houver confirmação independente da sua existência e da adequação da fé para apurar este tipo de factos.

*Ressalva: isto segundo o fundacionismo. Eu não concordo com a abordagem de tentar encontrar crenças básicas que não carecem de justificação porque até a sensação de ver o copo surge de correlações estatísticas num grande número de experiências que, ao longo da vida, foram moldando o sistema nervoso capaz de produzir essa sensação. Ou seja, a justificação, em última análise, não está em elementos atómicos mas na relação de grandes conjuntos de factores. Mas, como diria a grande filósofa Teresa Guilherme, isso agora não interessa nada.

1- Treta da semana (passada): os argumentos.
2- Plantinga, Tooley, 2008, Knowledge of God.
3- Plantinga, 1981, Is Belief in God Properly Basic?; Nous 15: 41-52.

21 comentários:

  1. Estás no tapete, Ludwig. O cúmulo da irracionalidade é julgar que se pode ter mais ou menos capacidade para avaliar as condições pessoais em que se faz uma qualquer avaliação do que a avaliação em si. A razão não funciona de modo intermitente.

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  2. Uma crítica a Plantinga é essencialmente uma crítica ao fundacionismo como um todo; Platinga apenas propõe uma forma ligeiramente mais relaxada do fundacionismo ao admitir que uma crença é justificada se «surgir nas condições certas». Pois, mas depois a questão é justifica quais são as condições que são «certas» e quais são «erradas». Presumo que é fácil justificar «condições erradas» em situações extremas: estou a dormir, estou a delirar, estou intoxicado com uma substância alucinogénica, etc. (como no teu exemplo do copo de cristal) — tudo isso são «condições erradas» e fáceis, a meu ver, de descartar.

    Mas o problema está em identificar quais são então as «condições certas». Por exemplo, posso acordar de manhã e estar perfeitamente lúcido e coerente, sem estar (aparentemente) a ser afectado por nada, olhar pela janela, e concluir: «o Sol gira em torno da Terra». É a minha experiência, coincide com a minha observação, e todas as pessoas que fizerem a mesma experiência em «condições certas» chegarão à mesma conclusão (ou seja, há uma verificabilidade da minha experiência, que é externa a mim). Posso, pois, erradamente concluir que esta crença de que o Sol gira em torno da Terra é uma crença básica, porque todos a temos, e bastam-nos os sentidos para concluir que assim é.

    Não vejo como é que ainda se consegue defender fundacionismo ao fim de séculos de eternas discussões sobre o assunto. O que é que Platinga trás de novo para o fundacionismo para que este surja mais «sólido» do que dantes?

    Em contraste, qualquer proposição que questione todas as percepções/sensações/cogitações (no fundo, nas palavras de Platinga, admitir que «todas as crenças surgem em condições erradas, pelo que devo rejeitar todas») tem muito mais hipóteses de sucesso :) Se não fosse por isso, ainda hoje acreditaríamos que a Terra fosse plana, que o Sol gira em torno desta, e que existe um éter e o flogisto...

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  3. Ludwig,

    «Isto só reforça a conclusão de que é irracional acreditar em Deus pela fé enquanto não houver confirmação independente da sua existência e da adequação da fé para apurar este tipo de factos.»

    Deus não é daquelas realidades que possamos alterar. E, fazendo parte do conceito e da ideia de Deus, não ser objeto, nem objetivável, nem por isso é de todo oculto e desconhecido.
    Temos conceito, ideia de Deus e história de Deus. É nesta base que se pode tentar falar de Deus. Acreditar em Deus, em Jesus Cristo, é outra questão.
    O processo que leva alguém a crer ou não em Deus, em última análise, não é diferente do proposto pelo Ludwig, ou seja, só depois de haver confirmação independente da sua existência.

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  4. O processo que leva alguém a crer ou não em Deus, em última análise, não é diferente do proposto pelo Ludwig, ou seja, só depois de haver confirmação independente da sua existência.
    E não é pelo facto de haver essa confirmação que toda a gente tem fé ou toda a gente é incrédula.
    A fé não é equiparável a um conhecimento de algo.
    Deus, para o cristão, não é, ou não é apenas, um problema e uma questão filosófica. Para o cristão Deus é, mais do que tudo, e mais do que a resposta, o Senhor. Não apenas a resposta a inúmeras questões relevantes. Deus é o caminho, a lei, o que o cristão mais ama. O cristão não confia nem segue o que contrariar a vontade/palavra de Deus. (No entanto, esta vivência não é linear, nem constante, nem invariável, nem adquirida. É um processo complexo, que não se reduz a uma fórmula química. Hoje é alegria e ontem foi vazio…)
    Para o filósofo, Deus é apenas um problema. Nem é alegria, nem tristeza, nem esperança, nem caminho…E a resposta a esse problema é sempre uma resposta filosófica. Por exemplo, ninguém é cristão porque se questiona sobre a divindade de Jesus Cristo, ou acredita em Jesus porque a filosofia o confirma sobre a sua divindade.

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  5. Mas o processo que leva alguém a crer em Deus é, (pode ser) um processo racional de grande complexidade, que envolve os sentimentos, a inteligência, os valores, as vivências, os testemunhos e as mensagens. E não é um processo de uma hora, nem de meia dúzia de pessoas, ou de uma organização. É um processo histórico milenar que se desenrola num palco sem limites, cujos atores são todos aqueles que, de algum modo, nos tocam, no bom e no mau sentido da palavra, desde religiosos a cientistas, a polícias e ladrões…
    Encontramos pessoas com formação e cultura religiosa que não vêem na religião nada de que sintam falta, e pessoas que, por não terem formação e cultura religiosa nem sabem se a religião lhes faz falta.
    Ainda assim, para muita gente, e julgo que a maioria dos cristãos é assim, nem a ciência, nem a tecnologia, o sucesso, ou seja o que for que realizem, substitui ou ocupa o lugar da sua fé e da sua religião, como se esta e não aquelas fossem a verdadeira razão, o que dá sentido a tudo.

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  6. Nuno Gaspar,

    «O cúmulo da irracionalidade é julgar que se pode ter mais ou menos capacidade para avaliar as condições pessoais em que se faz uma qualquer avaliação do que a avaliação em si.»

    Tens de explicar isto melhor. Perdi-me completamente a meio da frase...

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  7. Miguel,

    «Uma crítica a Plantinga é essencialmente uma crítica ao fundacionismo como um todo»

    Não necessariamente...

    «Platinga apenas propõe uma forma ligeiramente mais relaxada do fundacionismo ao admitir que uma crença é justificada se «surgir nas condições certas». »

    Esse “apenas” é que é crítico.

    Um requisito do fundacionismo para que uma crença seja básica é que seja auto-evidente. Isto porque, tratando-se de uma questão epistemológica, é essencial que o sujeito saiba o fundamento da sua crença. No caso de algo que é auto-evidente, a auto-evidência é logo sabida “à borla”.

    O relaxamento do Plantinga é retirar esse requisito e permitir que o sujeito considere a crença justificada mesmo sem saber se as condições que justificam a crença se verificam. Ora isto, em epistemologia, é aldrabice.

    «Mas o problema está em identificar quais são então as «condições certas». »

    Precisamente. Em concreto, o problema é que o sujeito só pode ter justificação para adoptar aquela crença se conseguir identificar que as condições que a justificam são cumpridas. No caso da experiência auto-evidente isso é automático, mas no caso da hipótese de um Deus ter criado o sujeito de forma a poder sentir que Deus existe isso depende de se justificar a crença em tal proposição.

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  8. Carlos,

    Acho que estás a confundir vários sentidos da expressão “crer em Deus”, como o Nuno Gaspar faz muitas vezes também.

    «o processo que leva alguém a crer em Deus é, (pode ser) um processo racional de grande complexidade, que envolve os sentimentos, a inteligência, os valores, as vivências, os testemunhos e as mensagens.»

    Por factores psicológicos, sentimentais, sociais ou até pragmáticos – há muitos casos em que pertencer a uma comunidade religiosa pode ser uma grande vantagem, especialmente em tempos de crise – é possível que se justifique tomar a decisão de “crer em Deus” no sentido de adoptar certos comportamentos, certas formas de pensar, seguir certos rituais e assim. A minha preocupação não é com isso. Não sei, nem me interessa muito saber, em que situações pode ser satisfatório, compensador, reconfortante ou útil adoptar essa forma de estar.

    O que me interessa é o ponto concreto da crença num deus (e muitas outras crenças) não ser epistemicamente justificável. Ou seja, algo que não se pode dar razões válidas para concluir que é verdade.

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  9. Ludwig,

    É a mesma coisa que o Bernardo te disse à qual te fingiste despercebido.

    "Se tentamos, por absurdo, questionar radicalmente a fiabilidade da nossa memória, num exercício pedagógico de paranóia céptica, vemos que não o podemos racionalmente fazer. Se a nossa memória fosse 99,9% falível, ao pensarmos: "a minha memória é miseravelmente falível", nem poderíamos confiar na nossa memória para nos recordarmos de forma fundamentada da primeira palavra dessa frase, porque poderia dar-se o caso de a nossa memória ter-nos traído entre a segunda e a terceira palavras da frase, e de na verdade termos dito outra coisa qualquer em vez do que julgávamos ter dito…"

    Ou de outra maneira: Não se pode escolher acreditar naquilo em que se acredita. O que está à nossa frente é coerente ou não é.
    Se não aceitamos uma crença por duvidar da nossa capacidade racional não teriamos sequer condições racionais para aceitar essa dúvida - lavramos na irracionalidade como me parece tu andas a fazer.

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    1. ""a minha memória é miseravelmente falível", nem poderíamos confiar na nossa memória para nos recordarmos de forma fundamentada da primeira palavra dessa frase"

      Por isso é que as pessoas com severas doenças mentais que afectam a memória, têm de viver internadas e são vigiadas porque elas conseguem intrepretar o mundo que as rodeia porque, essencialmente, estão sempre a vê-lo pela primeira vez.

      "O que está à nossa frente é coerente ou não é."
      Errado, isso era assumir que o nosso cerebro, sistema nervoso, diversos sentidos eram "perfeitos". As ilusões de óptica são um bom exemplo disso. Mesmo quando sabemos qual é a ilusão o nosso cerebro "força-nos" a ver a ilusão e não a realidade.

      Por exemplo:

      http://todayilearned.co.uk/wp-content/uploads/2012/04/optical-illusion-with-colors.jpg

      Eu digo ambas as faces da figura (a de cima e a de baixo) têm exactamente a mesma cor. No entanto a de baixo parece ser mais clara. É "coerente" acreditar que uma face é mais clara que a outra. Afinal eu estou a a ver que isso é assim. No entanto objectivamente não é verdade.

      Basta tapar a parte do meio para confirmar isso. (isto tanto pode ser feito num computador como na vida real, não é um truque informático).

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  10. Nuno Gaspar,

    Se alguém tiver um problema mental tal que a sua memória falhar 99.9% das vezes, obviamente vai ter dificuldade em justificar o que quer que seja. Mas não basta que a memória seja fiável para que tudo se resolva. Se alguém tiver a memória fiável mas julgar, por alguma razão, que a sua memória falha 99.9% das vezes também não vai conseguir justificar nada porque vai estar sempre convencido que a memória falhou. Ou seja, não te basta teres uma memória fiável. Tens de ter também uma crença justificada na fiabilidade da memória antes de poderes usar a memória como justificação para outras crenças.

    É este o buraco na tese de Plantinga. Ele defende que para justificar a crença em Deus basta que Deus tenha criado os humanos com capacidade de o sentir, mas isso é treta. Antes de qualquer humano poder usar isto como justificação tem também de ter uma crença justificada de que foi isto realmente que aconteceu. Sem essa crença justificada a mera possibilidade de ter acontecido não justifica coisa nenhuma.

    «Ou de outra maneira: Não se pode escolher acreditar naquilo em que se acredita. O que está à nossa frente é coerente ou não é.»

    Isto, além de falso, é irrelevante. Não importa se escolheste a tua crença, se ta incutiram em miúdo ou se te surgiu por uma pancada na cabeça porque o que estamos a discutir aqui é se a tua crença é justificada. Ou seja, se tens razões para concluir que essa crença é verdadeira.

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  11. Ludwig,

    «Ou seja, algo que não se pode dar razões válidas para concluir que é verdade.»

    Pensei que já tínhamos discutido essa temática várias vezes.
    Em se tratando de razões e de validade de razões, depende daquilo que considerares e aceitares como tal. "O ponto concreto da crença num deus", como referes, não existe pela simples razão que não existe ponto concreto, nem ponto concreto de crença, seja no que for. Já estou acostumado a estes jogos de diversão.
    O que te interessa, ou não, é irrelevante para a questão, tal como é irrelevante que alguém se declare crente, ou ateu, porque lhe interessa ou lhe dá jeito.
    Se estás à espera que Deus apareça na ponta de um bisturi ou dentro de um tubo de ensaio, ou numa equação, esperas mal e morrerás à espera. É mais provável que o encontres a morrer de fome numa esquina qualquer de uma grande cidade.
    Se buscas rigor epistemológico na fundamentação da fé dos outros tens tudo ao dispor para o encontrares, conforme referi nos comentários acima.
    Se buscas rigor epistemológico na fundamentação da tua falta de fé, aplica-te seriamente nisso, e se fores bem sucedido, vem-nos contar.


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  12. Ludwig,

    «Ou seja, se tens razões para concluir que essa crença é verdadeira.»

    Fazes uma grande confusão com as palavras. A crença não tem que ser verdadeira ou falsa. A crença é um estado psicológico. A verdade ou falsidade está na premissa que o crente detém. No caso do cristão, ele justifica a sua fé porque é fé na Verdade. Esta fé é inabalável e inexpugnável do ponto de vista epistemológico.

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  14. Ludwig,

    "Tens de ter também uma crença justificada na fiabilidade da memória antes de poderes usar a memória como justificação para outras crenças"

    Pareces um cão a tentar correr atrás da cauda. Dizeres "não tenho uma crença justificada na fiabilidade da minha memória" é a mesma coisa que dizeres "só digo mentiras". Um absurdo.

    "Não se pode escolher acreditar naquilo em que se acredita"
    "Isto, além de falso, é irrelevante"

    Eu acho que isso é o mais importante. Tu dizes que ensinas os teus alunos a maneira de saber decidir aquilo em que se deve acreditar e, para mim, isso é uma grande treta. Ninguém acredita numa crença que julga falsa.

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  15. Nuno Gaspar,

    «Dizeres "não tenho uma crença justificada na fiabilidade da minha memória" é a mesma coisa que dizeres "só digo mentiras".»

    Não é a mesma coisa. Um problema no funcionamento da memória não é um paradoxo lógico. É uma possibilidade real, e há pessoas que têm o azar de viver com algumas falhas catastróficas a esse nível. Mas no principal parece que estamos de acordo: preciso de ter uma crença justificada na fiabilidade da minha memória para conseguir justificar o que quer que seja com base na minha memória, e se não tiver essa crença justificada na fiabilidade da minha memória estou tramado.

    «Tu dizes que ensinas os teus alunos a maneira de saber decidir aquilo em que se deve acreditar e, para mim, isso é uma grande treta. Ninguém acredita numa crença que julga falsa.»

    Claro que ninguém acredita numa crença que julga falsa. Mas o problema está em como julgar proposições para decidir se vai acreditar ou não.

    Considera a proposição “Já houve água em Marte”. Se acreditas ou não nisto dependerá de julgares que é falso ou verdadeiro, mas esse juízo será algo que podes fazer, e refazer, de forma consciente conforme as evidências.

    A questão aqui é se vais avaliar as proposições acerca dos factos com base nas evidências ou se, de vez em quando, deparando-te com uma como “Jesus morreu para nos salvar a todos”, vais julgá-la verdadeira simplesmente porque queres muito que o seja...

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  16. Em síntese: toda a gente leu, entendeu e conseguiu rebater Plantinga. Menos eu. Ruim sorte a minha. Nunca mais comento aqui. Fiquei envergonhado.

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  17. António,

    Plantinga escreveu carradas de artigos e livros. Há lá uma data de coisas que quase ninguém leu, eu só li uma parte muito pequenina e não tenho qualquer pretensão de entender ou rebater tudo. A maior parte não me interessa sequer.

    Mas há um ponto que me interessa. O Plantinga defende que acreditar que Deus existe pode ser racional se Deus existir porque, nesse caso, é provável que Deus nos tenha dotado (a alguns, pelo menos) de um sentido especial que nos permite sentir que Deus existe. Por outro lado, se Deus não existir então será irracional acreditar que Deus existe porque não haverá tal sentido.

    A minha objecção a isto surge porque é contraditório que a racionalidade de uma crença dependa de factores que o sujeito que adopta a crença desconhece. Não faz sentido que o mesmo sujeito, tendo exactamente a mesma informação, possa ser racional ou irracional sem que nada dentro daquilo que ele percebe tenha mudado.

    Se tivermos justificação para concluir que Deus nos dotou de um sentido que permite detectar que Deus existe e se sentirmos que estamos a detectar que Deus existe, então justifica-se concluir que Deus existe, mas isto será já desnecessário dada a premissa inicial. Mas, por outro lado, se não tivermos justificação para concluir que Deus nos terá dotado de tal sentido, então não podemos ter confiança justificada nessa (alegada) sensação de que Deus existe. Plantinga tenta dar uma volta à epistemologia dizendo que a justificação não interessa, o que interessa é o funcionamento desse tal sentido, mas isso não resolve o problema porque para avaliar a racionalidade do sujeito temos de considerar a informação de que ele dispõe e não meras hipóteses acerca de factos desconhecidos.

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    1. LUDWIG KRIPPAHL (LK) ENCONTRA O FILÓSOFO SÓCRATES E DIALOGA COM ELE SOBRE A IMPOSSIBILIDADE DE TESTAR EMPIRICAMENTE A BÍBLIA


      LK: Sabes Sócrates, estou convencido de que o que a Bíblia diz não pode ser confiado porque, contrariamente ao conhecimento científico, não pode ser testado.

      Sócrates: A sério? Isso é interessante, embora devas aplicar isso a ti próprio quando dizes que a vida surgiu por acaso. Já testaste isso? Em todo o caso, mostra-me que a Bíblia não pode ser testada.

      LK: É simples! A Bíblia, sem qualquer fundamento empírico, ensina que os seres vivos se reproduzem de acordo com o seu género, o que é um perfeito disparate. Na verdade, quando olhamos à nossa volta apenas vemos que:

      1) moscas dão… moscas!

      2) morcegos dão… morcegos!

      3) gaivotas dão… gaivotas!

      4) bactérias dão… bactérias!

      5) escaravelhos dão… escaravelhos!

      6) tentilhões dão… tentilhões!

      7) celecantos dão… celecantos (mesmo durante supostos milhões de anos)!

      8) guppies dão… guppies!

      9) lagartos dão… lagartos!

      10) pelicanos dão… pelicanos (mesmo durante supostos 30 milhões de anos)!

      11) grilos dão… grilos (mesmo durante supostos 100 milhões de anos)!

      Sócrates: Mas, espera lá! Não é isso que a Bíblia ensina, em Génesis 1, quando afirma, dez vezes (!), que os seres vivos se reproduzem de acordo com o seu género? Os teus exemplos nada mais fazem do que confirmar a Bíblia! É com eles que pretendes provar que a Bíblia não pode ser testada?

      LK: Sim, claro! Teremos apenas que esperar algumas centenas de milhões de anos para ver como se transformam em géneros diferentes e mais complexos.

      Sócrates: Mas onde estavas tu há centenas de milhões de anos e onde estarás daqui a centenas de milhões de anos? Tens a certeza de que podes ou vais poder testar as tuas afirmações de hoje? É que eu pessoalmente não vejo como…

      LK: Talvez não, de facto. Mas a verdade é que os órgãos perdem funções, total ou parcialmente, (v.g. função reprodutiva) existem parasitas no corpo humano e muitos seres vivos morrem por não serem suficientemente aptos…

      Sócrates: Mas…espera lá! A perda total ou parcial de funções não é o que Génesis 3 ensina, quando afirma que a natureza foi amaldiçoada e está corrompida por causa do pecado humano? E não é isso que explica os parasitas no corpo humano ou a morte dos menos aptos? Tudo isso que dizes confirma Génesis 3!

      Afinal, os teus exemplos, com os quais pretendes dizer que é impossível testar a Bíblia apenas corroboram o que ela ensina!! Como queres que os criacionistas mudem de posição se os teus argumentos lhes dão continuamente razão?

      …em meu entender, Ludwig, deverias parar para pensar e examinar a tua vida, porque uma vida não examinada não é digna de ser vivida…

      …e já agora, conhece-te a ti mesmo antes de te autodenominares “macaco tagarela”…

      P.S. Todas as “provas” da “evolução” foram efetivamente usadas pelo Ludwig neste blogue!

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    2. Socrates: Sabes Ludwig, não terias sido presa fácil dos criacionistas se primeiro tivesses lido os argumentos que os evolucionistas não devem utilizar...

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