sexta-feira, outubro 18, 2013

Treta da semana (passada): Alexandrina de Balasar.

Domingo passado foi o dia da Alexandrina de Balasar, beata da Igreja Católica (1). Segundo a sua autobiografia (2), nasceu em 1904, aos quatro anos já rezava, aos sete anos começou os seus dezoito meses de escola, aos catorze adoeceu porque trabalhava para um vizinho que a obrigava «a trabalhar mais do que as forças que tinha» e depois saltou da janela da casa para fugir do vizinho e outros dois homens que vieram a casa dela não se sabe bem fazer o quê. Segundo a interpretação dos aficionados, a Alexandrina saltou da janela para «defender a sua pureza». Segundo o relato da própria, depois de saltar da janela «Cheia de coragem, peguei num pau e entrei pela porta do quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A outra pequena estava na sala com o solteiro. Eu aproximei-me deles e chamei-lhes “cães”, e disse que ou deixavam vir a pequena, ou então gritava contra eles. Aceitaram a proposta e deixaram-na sair. […] Não lhes demos mais confiança; eles retiraram-se e nós continuámos a trabalhar.» Seja como for, após a queda a Alexandrina foi ficando gradualmente mais paralisada até que, cerca de 5 anos mais tarde, ficou acamada de vez. Não parece haver explicação para tão insólita progressão de sintomas, mas isto não conta como milagre porque é desagradável. Também não houve milagre de cura, apesar da Alexandrina e familiares fazerem várias promessas nesse sentido. «Alexandrina, com o tempo, foi aceitando a sua condição de doente, tomando uma rotina quotidiana de oração e oferecendo-se como vítima», e rezando «A Vossa bênção, Jesus! Eu quero ser santa! Ó meu Jesus, abençoai a Vossa filhinha que quer ser santa.» Mas a seguir veio um milagre, não fossem pensar que esta devoção excessiva era apenas uma forma que esta pobre rapariga tinha encontrado para lidar com o seu infortúnio.

«Alexandrina viveu, desde o dia 27 de março de 1942, mais de treze anos em jejum e anúria. O seu alimento foi exclusivamente a Eucaristia.» Para comprovar este feito assombroso, a Alexandrina passou 40 dias no “Refúgio da Paralisia Infantil”, na Foz do Douro, acompanhada pela irmã e o seu médico pessoal, Dias de Azevedo. Lá terá sido observada cuidadosamente por enfermeiras e pelo médico e psiquiatra Henrique Gomes de Araújo. Segundo cita um livro sobre a Alexandrina, Henrique Gomes de Araújo garantiu ser «inteiramente certo que, durante os quarenta dias de internamento, a doente não comeu nem bebeu; não urinou nem defecou, e esta circunstância leva-nos a crer que tais fenómenos possam vir a produzir-se de tempos anteriores». Mas o mais milagroso de tudo foi que, depois de comprovado o feito, o médico e a comunidade médica portuguesa tenham simplesmente ignorado o assunto. Um texto de homenagem ao Henrique Gomes de Araújo, pouco após a sua morte, descreve a sua carreira em medicina e psiquiatria, a sua personalidade, a sua obra filosófica, o prémio Abel Salazar que ganhou em 1975 pelo livro “Perspectivas Fenomenológicas na Análise da Existência”, a sua relação com os doentes e as pessoas com quem trabalhou, Mas nem uma palavra refere a maior descoberta na medicina dos últimos séculos: é possível uma pessoa viver sem comer nem beber (3).

As implicações teológicas do milagre da Alexandrina também são profundas. Tragicamente, muita gente morre à fome. Isto, dizem os crentes, não é culpa de Deus porque Deus não intervém. Porquê, não é claro, visto que obviamente poderia intervir se quisesse. Mas não intervém, e regras são regras. Só que, se a Alexandrina pode viver treze anos sem comer nem beber por obra e graça do menino Jesus e da sua santíssima mamã, então as regras não são para todos. Afinal, não são todos filhos de Deus. Excepto uns poucos, quase todos são enteados.

Em 1944, a Alexandrina «inscreveu-se na União dos Cooperadores Salesianos» para «colaborar com o seu sofrimento e as suas orações para a salvação das almas, sobretudo juvenis. Rezou e sofreu pela santificação dos Cooperadores Salesianos de todo o mundo.» Foi assim que a sua vida foi «gasta exclusivamente para salvar as almas.»(1) Numa perspectiva ética, de justiça, ou mesmo de elementar bom senso, isto é absurdo. Sofrer é mau e sofrer por sofrer é uma maldade fútil. Se um deus qualquer quisesse que a Alexandrina ajudasse mesmo as outras pessoas, tinha-lhe ensinado a criar vacinas, antibióticos novos ou um sistema político que funcionasse bem. Fazer dela uma paralítica em sofrimento é, além de maldade, inútil para a maioria das pessoas. Excepto, mais uma vez, para uns poucos: aqueles que promovem a Alexandrina a beata como exemplo para outros fiéis seguirem. O exemplo de alguém que gasta a vida em sofrimento, que acredita que sofre porque um deus quer que sofra e que ainda assim agradece o que esse deus lhe faz. A metáfora do rebanho de fiéis a seguir os sacerdotes pastores, já de si uma imagem degradante da condição humana, é insuficiente para uma atitude destas. Nem uma ovelha agradeceria ao torturador uma vida de sofrimento inútil e injusto.

Já sei o que querem comentar. Para o ateu a vida não tem valor, somos todos só moléculas, nunca vai compreender exemplos destes que têm de ser vividos na religiosidade e essas tretas. Não é nada disso. Cada vida tem valor para quem a vive e para aqueles que essa vida toca. A vida de cada um é única, não há segunda volta e há que fazer dela o melhor que se puder. Mesmo sem crer em deuses ou planos divino, e sabendo que muito do que acontece simplesmente acontece, percebo perfeitamente a vantagem de ter alguém que dê um exemplo de como lidar com estas vicissitudes. Mesmo que seja um exemplo tão longe da nossa capacidade que só nos sirva de direcção e não de destino. Mas se querem um exemplo desses, então olhem para alguém como o Stephen Hawking e não para a coitada da Alexandrina, que dá muita pena mas não é exemplo para ninguém.

1- Senza, Dia da Beata Alexandrina de Balasar
2- Santuário Alexandrina de Balasar, História de uma vida
3- Carlos Mota Cardoso, À memória de Henrique Gomes de Araújo, “Morreu um médico” (pdf)

8 comentários:

  1. Sou testemunha (?)...
    Aí por 1968/69, em Coimbra, todas as semanas eu lia a pagela da 'Santa de Balasar', se é que era este o título, já não lembro bem...
    Daí recordo as alegações do jejum, só quebrado com a hóstia da comunhão (se calhar, ingeria paletes delas, e eu vos garanto que é bem bom comer, comi muitas, não das mãos do padre, mas bifadas à minha tia, que as fazia por conta do padre).
    Mas o que jamais me esqueceu, e disso quero dar aqui testemunho, foi a confissão explícita da Alexandrina, que aparecia na pagelas com o ar esgaseado e alucinado próprio da dieta de hóstias, de que o jejum dava~lha por vezes para delirar e nesses lances de delírio ela, segundo dizia... 'noivava com Cristo', palavras textuais, estais a ver, noivava... com Cristo.
    Nesse tempo, por sinal, eu já sabia o que era noivar e por isso a confissão da Alexandrina deixava-me, como direi, siderado, posto que o noivanço ao tempo era severamente reprimido pela lei, pela moral e pelas autoridades civis e religiosas...
    Sinal dos tempos, uns anos depois estou vendo a Alexandrina, cujos relatos libidinosostanto marcaram a minha juventude, quase santa da Igreja, para já beata, mas ela vai lá...

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  2. «anúria»? Treze anos sem fazer chichi?

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  3. A Bíblia tem a resposta:

    "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor." (Romanos 6:23)

    "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie." (Efésios 2:8-9)

    O conhecimento da Bíblia seria suficiente para compreender que nada podemos fazer para ser santos, porque todos (sem excepção) somos pecadores corrompidos, porque descendemos de um casal que decidiu pecar e sofreu por causa disso a corrupção.

    Deus é santo e não pode coexistir eternamente com o mal, sem o castigar. Daí que o mal seja castigado com uma sanção eterna. A Bíblia diz que a morte entrou no mundo por causa do pecado.

    Mas também diz que podemos ser salvos pela graça de Deus, e não por qualquer coisa que possamos fazer, através da fé na morte e na ressurreição de Jesus Cristo.

    Jesus, que é Deus eterno, sofreu o castigo devido pelos nossos pecados, salvando-nos da morte eterna.

    O pecado tinha-nos condenado à morte física e espiritual. Por causa dele toda a natureza tornou-se corruptível, pois foi amaldiçoada pelo Criador. Assim se compreendem as mutações, a selecção natural, os desastres naturais, a predação, as doenças e a morte.

    A ciência médica mostra bem, com toda a literatura sobre mutações, como os genomas de todos os seres vivos se estão a deteriorar e não a evoluir para algo diferente e mais complexo.

    Através de Jesus somos justificados diante de Deus e santificados (que significa separados) para vivermos eternamente com Ele, com corpos incorruptíveis numa criação restaurada, segundo a sua promessa.

    Alguns perguntam: mas então porque é que o mal ainda existe?

    Curiosamente, o mal pressupõe um padrão objectivo e universal de bem, o que só por si corrobora a existência de um Deus justo e bom.

    Se o mal ainda existe, isso não significa a impotência de Deus ou a sua não intervenção.

    Deus já interveio na história, através da vida, milagres e ressurreição de Jesus Cristo, por sinal a pessoa mais marcante da história universal, criando as condições para a nossa salvação.

    Esse facto histórico singular mostra que Deus não está ausente da história e muito menos mostra a sua impotência.

    Neste momento Deus apenas nos está a dar oportunidade para nos arrependermos.

    A Bíblia explica:

    "O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se." (II Pedro 3:9).

    E Jesus foi claro:

    "se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis". Lucas 13:3

    A escolha é nossa. E devemos aproveitar o tempo que Deus nos dá para fazer a escolha certa. As implicações são eternas.

    Existe evidência histórica mais sólida de que Jesus ressuscitou dos mortos (factos históricos observados e detalhadamente narrados) do que da hipotética origem acidental da vida e da imaginada transformação de bactérias em bacteriologistas ao longo de milhões de anos... (estas últimas nunca observadas nem relatadas por ninguém).

    Tendo a certeza da salvação, não necessitamos perder o nosso tempo martirizando-nos e auto-flagelando-nos a tentar obter uma santificação que Jesus nos concede gratuitamente...









    A Bíblia ensina-nos que

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  4. Nao ha dúvidas que este tipo de fenómenos religiosos tem um grande apoio popular. Santas que não comem nem bebem e muito menos cagam ou mijam.
    Mães de Deus que aparecem a pastorinhos, corpos incorruptíveis, face de Jesus em hóstias e mais um sem número de fenómenos patafisicos e sobrenaturais.

    Fenómenos irrepetiveis até porque a protecção de menores, gnr, psp e judiciária iam investigar e acabava tudo dentro por exploração de menores, sequestro da vidente Lucia.

    Eram outros tempos.

    A partir igreja deve ter as maiores dúvidas destas histórias. No entanto tem de respeitar a fé dos crentes.

    Fátima é um produto português de exportação. Vem cá não sei quantos turistas por ano.

    Este tipo de coisas devem ser acarinhadas.

    Quem iria ver o lago ness se não fora o monstro do dito ?

    Os fenómenos sobrenaturais não seguem as regras da ciência ou do direito. Não são necessárias testemunhas e muito menos credíveis e devem acontecer em locais remotos e exóticos e em tempos passados.

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  5. Como é que sabe que «[Deus] não intervém, e regras são regras»? Que crasso dogmatismo fundamentalista. Não acha?

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  6. ALEXANDRINA MEU GUIA podem chamarem burxo ou anti-cristo nao me importo conformr me jugarem sereis julgados sou esprita mestre reki pastor mormon consagado catolico e cartomante tenho muita fe em n.s,aparecida em jesus cristo deus pai por isso nao temo niguem heide fazer vir tudo a portugal estou na cidade guarda so necito ler os livros sagardos pois o chacra da coroa e coraçao abriam se em fatimaMiguel Arcanjo Espírita dos Pobres Vêja a minha presença no Programa "CASA DO MANEL" RegioesTV RTV Link: https://www.youtube.com/watch?v=CG9ys0FiIcs Miguel Arcanjo http://espiritadospobres.webnode.pt/http://espiritadospobres.home.sapo.pt/ http://youtu.be/WaKk3iz5-9Q Miguel Arcanjo Espírita dos Pobres Vêja a minha presença no Programa "PEDRA D´AUDIÊNCIA" RegioesTV RTV Link-1ª Parte: https://www.youtube.com/watch?v=3D_C_rI61G4 Link-2ª Parte: https://www.youtube.com/watch?v=TLlLpRRqKb4 so falta fazer o curso diacono catolico mas nao desisto das cartas so peço que rezem por mi
    http://espiritadospobres.webnode.pt/
    CASA DO MANEL PGM 92 PARTE 2docid=502012333&prefer=lang
    http://www.espritadospobres.home.sapo.pt

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    1. Com essa formação toda admira que ainda não saibas escrever. Kkkkk

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  7. É o pena o senhor Miguel não ter tempo para aprender a escrever sem erros ortográficos. Ah ja sei deve ser um bruxo muito ocupado.

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