quinta-feira, janeiro 31, 2013

O debate no Diário de Notícias.

O debate sobre a Opus Dei* foi sereno e o moderador, o João Céu e Silva, deixou a todos tempo para exporem as suas posições. O resultado, pareceu-me dali, foi bastante agradável e aproveito para agradecer ao DN o convite e a organização do evento. Apesar de já ter participado em vários encontros deste género, desta vez, talvez pela calma com que todos puderam falar, senti muito mais as restrições que moldam o discurso dos crentes. Num debate não se pode dizer tudo, por limitações de tempo. Aqui no blog posso abordar mais detalhes e fazer afirmações mais polémicas porque sei que posso sempre voltar ao tema as vezes que precisar para esclarecer, argumentar e responder a quaisquer objecções. Num debate, por muito sereno que seja, a necessidade de expor uma posição em poucos minutos exige que se foque o essencial. Mas, à parte disso, não tive necessidade de ofuscar significados nem martelar argumentos.

Por exemplo, um dos pontos mais importantes que defendi foi o da incompatibilidade entre a liberdade de crença e organizações autoritárias como a Igreja Católica e a Opus Dei. Ironicamente, a maior ameaça à liberdade religiosa é a forma como as religiões se organizam: de cima para baixo e dos dogmas para as pessoas. Para respeitar a liberdade de crença as religiões deviam organizar-se ao contrário, como qualquer associação de voluntários, regendo-se por princípios democráticas, substituindo o dogma por discussão aberta, alheando-se da vida privada dos seus membros e abstendo-se de qualquer coação, real ou imaginária. O objectivo principal do ateísmo não é acabar com a fé mas, no fundo, promover a liberdade de crença subordinando as organizações religiosas aos princípios de respeito pelos direitos individuais que fundamentam a nossa sociedade. A Opus Dei ainda tem muito que mudar nesse sentido. Naturalmente, no debate não pude detalhar muito estes pontos nem elaborar a argumentação, mas pude afirmar tudo da forma mais clara que consegui porque é precisamente isto que penso e porque é esta a conclusão natural a que chego partindo do que sei. Os restantes convidados, pareceu-me, não tinham esta sorte.

Um exemplo saliente foi a forma como o Pedro Gil, director do gabinete de imprensa da Opus Dei, explicou a lista de livros proibidos (1) que a organização mantém. Todo o seu discurso foi sobre semântica, insistindo que não era uma proibição mas uma recomendação. À parte de não se perceber a diferença entre proibir e recomendar numa organização adepta de penitências e tão exigente na obediência, fugiu do problema fundamental. O problema principal de “recomendarem” aos membros da Opus Dei que evitem ler ideias contrárias aos valores da organização é a tacanhez e a desonestidade intelectual de isolar as pessoas de opiniões diferentes. Mas isto o Pedro Gil nem podia mencionar.

Até o Anselmo Borges, de longe o mais liberal dos intervenientes católicos, foi forçado a um argumento tortuoso só para dizer que Deus é fundamental para todos, quer acreditem quer não. Afirmou que, quer responda pela positiva quer responda pela negativa, qualquer pessoa tem uma «pergunta constitutiva por Deus» e que é daí que deriva toda a dignidade humana e todos os direitos humanos. Nem ficou claro como se deriva dignidade ou direitos disso nem se alguém deixa de ser digno se não se importar com tal pergunta. Perguntar por Deus não parece ser eticamente relevante sequer. Sentir, desejar, pensar, estar consciente da si e agir por motivação própria são atributos muito mais importantes do que qualquer interrogação teológica. No entanto, sendo católico, o Anselmo Borges não podia senão dar ao seu deus um papel de suma importância, nem que para isso tivesse de torcer e retorcer o seu raciocínio.

Para mim, a “pergunta por Deus” não tem importância nenhuma porque esse deus não faz nada. Mais importante seria perguntar por Zeus ou Osíris, que ao menos se alegava fazerem alguma coisa. Mas se esses já são pouco relevantes, o deus católico é uma mera hipótese teológica inconsequente, tão transcendente e omnicoisas que acaba por não fazer mais que esporádicas intervenções de milagrice dúbia. O que tem importância para mim é a virulência e prevalência destas crenças, bem como outras superstições e fontes de obscurantismo. Como aquele de quem põe livros na lista negra só por contrariarem os seus preconceitos. Mesmo esta pergunta, não por deus mas por que raio há tanta gente a acreditar nisso, não é constitutiva de nada. É circunstancial. Muita gente acredita em disparates. É chato, preocupante, mas podia bem não ser assim.

O grande problema dos raciocínios religiosos é que, tal como as religiões, funcionam ao contrário. Assumem a conclusão e depois têm de martelar premissas e inferências para forçar o resultado que querem. Aos mais fundamentalistas isto faz pouca diferença. Quem acredita que o universo foi criado em seis dias de abracadabra não se incomoda com detalhes destes. Mas, neste debate, fiquei com a sensação que quando pessoas cultas e inteligentes tem de defender proposições obviamente infundadas, ou mesmo contrárias à sensatez, é inevitável que o desconforto transpareça no discurso. Mas talvez seja apenas outra forma de mortificação. Talvez os dogmas lhes sirvam como um cilício espetado na mente em vez de na coxa.

No Diário de Notícias podem ler um resumo e ver a gravação integral do debate: Caminho do Opus Dei deve ser a transparência

* No feminino porque me refiro à Prelatura da Santa Cruz e do Opus Dei. Se me referisse ao opus de algum deus, então o género correcto seria o masculino, mas o que as evidências indicam é que esta obra é inteiramente humana e não divina.

1- DN, 'Index' proíbe 79 livros de autores portugueses

30 comentários:

  1. "Para mim, a “pergunta por Deus” não tem importância nenhuma"

    Disfarças muito mal, Ludwig. Fazes 7 anos de martelo em ferro frio, diário.

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  2. A sua Intervenção no debate, caro Ludwig Kriphal, bem como a inteligência e a serenidade do seu resumo, honra-me por, como ateu, ter sido tão bem representado. Bem haja ! Viva o estado laico ! Pelo fim da Concordata !

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  3. Nuno Gaspar,

    A pergunta que me motiva a escrever tanto sobre ateísmo e religião não é a pergunta por deus mas sim a pergunta pelas razões de crenças tão infundadas terem tanta influência na nossa sociedade e o desejo de que passem a ser menos influentes. É o mesmo que me move também a escrever sobre astrologia, tarot, ovnis e outras tretas, só que essas acabam por preocupar menos porque são menos influentes do que a religião (apesar de ser tudo igualmente treta :)

    Devir,

    Obrigado pelo comentário e pelo apoio.

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    1. "a pergunta pelas razões de crenças tão infundadas terem tanta influência na nossa sociedade e o desejo de que passem a ser menos influentes"

      Isso é objectivamente mentira. Seria assim se mostrasses a mesma preocupação com o que acontece na Arábia, no Afeganistão ou no Egipto do que aquela que mostras por países e lugares onde as atitudes religiosas que mais pretendem condicionar o próprio estado são as ateístas.

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    2. O Ludwig não vive nem na Arábia, nem no Afeganistão nem no Egipto.

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    3. Ludwig, dizes:

      "A pergunta que me motiva a escrever tanto sobre ateísmo e religião não é a pergunta por deus mas sim a pergunta pelas razões de crenças tão infundadas terem tanta influência na nossa sociedade e o desejo de que passem a ser menos influentes."

      E porque é que desejas que passem a ser menos influentes?

      Imaginando que alguns aspectos da religiosidade tornam as pessoas mais infelizes, será que toda a religiosidade torna todas as pessoas mais infelizes?

      Queres mesmo deitar o bébé fora com a água do banho ou é só um erro de análise?

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    4. Ó Faroleiro

      Mas a ciência até nos diz que a religião faz bem à saúde.
      http://www.hindawi.com/isrn/psychiatry/2012/278730/
      E se fôr vivida de forma organizada, em comunindade, melhor
      http://bjp.rcpsych.org/content/202/1/68.abstract

      Ao fim ao cabo, mesmo sem o saber, o Ludwig deseja é que haja mais gente doente no mundo.

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    5. "O Ludwig não vive nem na Arábia, nem no Afeganistão nem no Egipto"

      Pois não, Ricardo. O Ludwig trava a batalha no lugar errado, no tempo errado.

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  4. Ludwig,

    Vi o debate e achei-o desinteressante e insípido. Concordo consigo quando o qualifica como sereno, sim foi muito sereno. Creio que o (ou a) Opus Dei (e os seus membros) cultivam a discreção (o que na opinião publica é entendido como secretismo), e, nesse sentido, é interessante verificar que o desconhecimento (e a inevitável mitologia associada) sobre a Opus Dei abrange não só os laicos (crentes ou ateus) mas também os religiosos que não pertencem a essa organização.

    Os meus parabéns pela sua participação serena nesse sereno debate, esteve bem.

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  5. Aproveito a ocasião para lhe deixar um conselho, o discurso dos gurus ateítas está formatado essencialmente para o debate americano, onde existe um grande número de pessoas que talvez acreditem que "o universo foi criado em seis dias", na europa o debate não envolve esse tipo de concepções (creio que essas opiniões nunca foram as dos católicos ou dos protestantes europeus). Quando você desperdiça o seu tempo a rebater esse tipo de posições, está um pouco a falar sozinho (ou melhor está a debater com o perspectivas e pouco mais). Também está erradamente a sugerir que essa seja a opinião dos alguns católicos, o que é falso (e inútil).

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  6. Nuno Gaspar,

    «Seria assim se mostrasses a mesma preocupação com o que acontece na Arábia, no Afeganistão ou no Egipto do que aquela que mostras por países e lugares onde as atitudes religiosas que mais pretendem condicionar o próprio estado são as ateístas.»

    Peço muita desculpa pelo egocentrismo, mas um factor importante no que me preocupa é também a proximidade. Por exemplo, se bem que os conselheiros do Mursi defenderem que o holocausto nazi foi invenção dos americanos seja um disparate maior do que o Alfredo Dinis achar que a religião dele é compatível com a ciência, o facto de discutir isto pessoalmente com o Alfredo e nem sequer saber o nome dos conselheiros do Mursi influencia a minha decisão de dedicar mais tempo ao Alfredo do que aos outros tipos.

    Mas isto não se deve a uma pergunta constitutiva por Deus. Se o Alfredo defendesse a compatibilidade entre a astrologia e a ciência ia dar ao mesmo.

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  7. Vasco Gama,

    Infelizmente, quando uso o meu tempo (se desperdiço ou não penso que será assunto meu) para abordar coisas como o criacionismo acho que estou a focar um assunto relevante. Não necessariamente pelo número de pessoas que o defendam, nem no equívoco de que seja uma doutrina consensual no catolicismo (o catolicismo não é a única religião, coisa que muitos católicos tendem a esquecer) mas porque é um problema haver gente demais a defender algo tão absurdo e contrário à ciência.

    No entanto, os católicos também são criacionistas. É um criacionismo mais frouxo, não passível de qualquer teste, mas é criacionismo à mesma porque é a doutrina de que tudo foi criado por Deus.

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    1. Ludwig,

      Tem toda a razão o que faz ao seu tempo só depende do seu juízo (dei-lhe um conselho inútil e desajustado, as minhas desculpas). Claramente tenho uma tendência para sobrevalorizar o catolicismo.

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    2. Ao longo dos últimos 7 anos estive à espera que me mostrasses, cientificamente, que não foi Deus que criou tudo. Apenas recebi evasivas, mudanças rápidas de tema, "gozo" ou "amendoíns". Nada de científico, nada que me abalasse a fé. Já desisti de um dia ler essa demonstração no blog.

      Sobre a participação no debate, reservo a minha avaliação para um e-mail privado e confidencial, se tiveres interesse nisso. Em público não o fiz, não o faço, nem o farei.

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  8. Excelente participação, Ludwig. Continua o bom trabalho.

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  9. Ludwig,

    Gostei do inicio quando o apresentador te ia apresentando como padre ou qualquer coisa parecida....

    Portaste-te bem.

    Foi interessante a forma como o pessoal Opus anda à volta dos assuntos sem dr qualquer informação.

    Nota-se uma certa invejita dos católicos não Opus dos Opus....


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  10. António Parente,

    «Ao longo dos últimos 7 anos estive à espera que me mostrasses, cientificamente, que não foi Deus que criou tudo»

    Talvez seja então altura de experimentares ler o que eu escrevo. Vou resumir o que já escrevi aqui muitas vezes acerca do método que a ciência segue e como chega a essa conclusão. Experimenta seguí-lo e verás o que dá.

    Primeiro, considera hipóteses acerca da criação divina do universo. Detalha o mais que puderes e considera o maior número de hipóteses que puderes. O que é que surgiu por milagre, o que é que foi criado primeiro, quantos deuses eram, quais, e porquê.

    Depois, faz o mesmo com hipóteses sem deuses. Teorias das cordas, acontecimentos quânticos sem causa, etc. O mais que puderes, o mais detalhado que conseguires.

    Não precisam ser inventadas por ti. Vai buscar hipóteses onde for preciso. Às religiões, aos livros de física, aos de cosmologia, à mitologia. Vale tudo.

    De seguida, confronta todas essas hipóteses com os dados de que dispomos. Sobre reacções nucleares, espaço-tempo, duração do universo, conservação de energia, tudo o que for relevante.

    Finalmente, avalias de acordo com a capacidade de prever os dados -- quanto mais e mais detalhe melhor -- e de acordo com a independência de premissas especulativas, daquelas que só se assume por fé porque não há evidências objectivas a seu favor.

    Quando fizeres isto verás que as da física têm uma pontuação muito mais elevada do que as da mitologia e as das religiões, incluindo as várias do cristianismo.

    É assim que a ciência selecciona hipóteses. É assim que a ciência diz que umas estão aproximadamente correctas, provavelmente, e outras estão erradas ou não servem. E é assim que a ciência mostra que o universo não foi criado por Deus. Nem por Deus, nem pelo monstro do esparguete voador nem pelo unicórnio invisível cor de rosa.

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    1. O problema é que seu eu fizer o que tu dizes não chego a lado nenhum. Aliás, se tivesses razão, então o responsável pela licenciatura em Física da Universidade do Minho não teria dado esta entrevista ao site do Opus Dei:

      http://www.opusdei.pt/art.php?p=45928

      Estará um doutorado em Física enganado, sem ter percebido que a física o conduziria ao ateísmo e que a ciência mostra que o Universo não foi criado por Deus? Acho interessante que um bioquímico entenda que pela física se chega ao ateísmo e um físico seja crente e diga isto:

      "A Física leva a Deus de uma forma muito especial, porque estudamos a Criação que Ele fez, onde depositou um carinho enorme, que encheu de belezas extraordinárias a todos os níveis... É de facto um modo de conhecer a Deus; Ele manifesta-se na Criação, da mesma maneira que o pensamento e a habilidade do escultor se manifestam na obra de arte. Um Físico conhece essas leis que são um lampejo da Inteligência divina, vê belezas que os outros não conseguem captar, e maravilha-se! Ele fez estas coisas para nós explorarmos, deliciar-nos, maravilhar-nos. É uma beleza puramente intelectual, racional."

      Também acho interessante que um doutorado em Física tenha devoção a São Josemaria e tenha uma grande admiração pelo Opus Dei.

      E o que dizer de Bruno Forte, licenciado em Engenharia Física Tecnológica pelo Técnico, doutorado em Física Teórica de Partículas, e que hoje faz parte da Companhia de Jesus, tendo tomado essa decisão antes dos 30 anos (salvo erro)?

      http://vocguarda.blogspot.pt/2007/11/chama-se-bruno-nobre-e-natural-da-nossa.html

      http://vocguarda.blogspot.pt/2007/11/novo-companheiro-de-jesus-parte-ii.html

      Não é estranho cientistas, físicos, doutorados como tu, cheguem a conclusões diferentes das tuas, que também és um doutorado? Estás certo e os outros estão errados? Será isso? Ou, não será, ao contrário do que pensas, a ciência não conduz às conclusões que pretendes e afinal crença e descrença são influenciados por questões de natureza não científicas dado que ciência e fé não são incompatíveis?

      Pensa nisso.

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    2. António Parente,

      Há um grande número de cientistas que são crentes (nas mais diversas religiões) e a maioria dos cientistas está muito longe de partilhar as opiniões do Ludwig, que apenas fala por ele. Bem sei que ele pretende dar a impressão de que a sua opinião é partilhada pela maioria dos cientistas, nada mais falso. Eu conheço pessoalmente um grande número de cientistas, que em matéria de religião são em geral bastante reservados, sendo, por norma difícil perceber qual a sua posição em termos de crenças religiosas. Das pessoas que eu conheço, muitos são católicos praticantes (~10 a 20%), outros são crentes (que não frequenta a igreja) e outros são vagamente ateus (~50%), digamos que esta distribuição não difere muito das pessoas que não são cientistas,nenhuma tem a postura fanática, comprometida e entusiata do Ludwig, que aqui faz um pouco a figura de autoridade e descreve um mundo que só existe na cabeça dele, é um problema de excesso de optimismo. Que é natural uma vez que se meteu numa cruzada pessoal contra as religiões e os crentes.

      O que o Ludwig descreve como ciência e cientistas é muito mais um desejo, ou "wishful thinking", ou seja ele gostava que a ciência contradicesse a existência de Deus (nessa forma ou recorrendo a uma das inumeráveis variantes que debita aqui no blog, saltando interminavelmente de uma para outra) e que os cientistas fossem ateus. O Ludwig tem o direito de viver na sua realidade e de acreditar nela, isso é um problema dele, que é válido desde que lhe consiga dar alguma satisfação.

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    3. PROBLEMAS COM A TEORIA DE FLUTUAÇÃO QUÂNTICA DO LUDWIG

      O Ludwig tem fé na origem de todo o Universo a partir de uma espuma instável de energia e partículas potenciais.

      No entanto, esta “teoria” (do calibre da teoria de que ”chuva cria códigos”) tem demasiados problemas para ser levada a sério.

      1) É impossível testar a origem do Universo por esse modo em laboratório ou no terreno porque quer um que outro são parte do Universo existente.

      2) Tendo em conta a lei da conservação da energia, toda a energia do Universo teria já que estar presente no início, porque a energia não se cria do nada, o que mostra que a teoria não explica a origem do Universo.


      3) Uma flutuação quântica nunca produz algo a partir do nada sem causa, limitando-se apenas a converter energia em massa e massa em energia, sem violar a lei da conservação da energia.


      4) Uma flutuação quântica supõe a existência de energia com potencial matéria/anti-matéria, devendo conter a energia equivalente às cerca de 200 mil milhões de galáxias conhecidas no Universo, cada uma contendo cerca de 100 mil milhões de estrelas. Como e de onde surgiu essa energia toda?

      5) Tendo em conta a lei da entropia, essa espuma instável deveria ter mais ordem do que a existente actualmente, não se compreendendo como poderia ir da desordem para a ordem em todo o Universo.


      6) Os campos energéticos e as partículas subatómicas (actuais e potenciais) já existem no Universo em que existimos, e mesmo o vácuo tem que ser circunscrito aí.


      7) Nas experiências de colisão de partículas, as partículas de matéria e anti-matéria tendem a surgir em quantidades iguais, aniquilando-se umas às outras, revertendo para energia, pelo que a origem do Universo por esse processo seria fisicamente impossível.


      8) A duração dos eventos quânticos é inversamente proporcional à massa do objecto, o que torna inviável a ocorrência de um evento cosmológico quântico dessa magnitude.


      9) A duração de um evento quântico da dimensão do Universo seria de 10^-103 segundos. Ou seja, ninguém iria ter tempo para reparar!


      10) Acresce que as partículas virtuais de hoje aparecem dentro de um vácuo de espaço existentes no Universo que conhecemos. No nada primordial não existia espaço nem vácuo.


      11) Para o Universo expandir, a partir de uma singularidade nascida de uma hipotética “espuma instável” e conseguir manter-se estável durante os supostos 13,5 mil milhões de anos da sua existência, seria necessário garantir um equilíbrio entre as diferentes forças (v.g. gravidade/expansão) com uma sintonia precisa estimada, pelo astrofísico Alan Guth, em 1 em 10^55.

      Assim sendo, continuam a ser válidas as palavras do astrófísico da NASA, Sten Odenwald, no seu livro The Astronomy Café, 365 Questions and Answers from “Ask the Astronomer”, Scientific American, Library, 1998, 120, quando confessa:

      “I was happy to announce that astronomers have not the slightest evidence for the supposed quantum production of the universe out of a primordial nothingness”.

      Ou seja, os criacionistas já têm uma fé, num Deus vivo, pessoal, racional, moral, eterno, infinito, omnisciente, omnipotente e omnipresente.

      O Ludwig quer que os criacionistas deixem a sua fé, corroborada pela revelação através da Bíblia, do povo de Israel e de Jesus Cristo, realidades historicamente incontornáveis, e adoptem em vez dela a fé do Ludwig numa fantasiosa e hipotética “espuma instável” da qual, milagrosamente, todas as coisas teriam resultado.

      E depois ainda diz que dessa “espuma instável” resulta um dever de racionalidade!

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  11. Gostei de ver o "debate" sobre a Opus Dei, sobretudo de conhecer Ludwig que me deu uma ideia completamente diferente da que aqui me transmite. Aqui é uma militância aguerrida que não se percebe. Não explicou bem quais os seus objectivos para tanta militância. Afinal é preciso fazer-se tanto "barulho" com a ideia de Deus?
    A Opus Dei está envolvida por um mito que se foi criando à sua volta e para isso também a organização pode ter contribuído.
    Os intervenientes todos se portaram à altura, sem a sobranceria que muitas vezes se vê e que não leva a lado nenhum.

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    1. O Ludwig não acredita em Deus mas passa toda a sua vida a combatê-lo...

      Porque será? É simples.

      O Ludwig conhece a Deus (se não, não gastava tantas energias a combatê-lo) mas não o reconhece.

      É um problema espiritual antigo de que a Bíblia caracteriza muito bem, quando diz:

      "Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis;

      porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se.

      Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis" (Romanos 1: 20-33)


      Muito antes do Ludwig nascer, já a Bíblia lhe tinha tirado o retrato.

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  12. Já agora, para completar, veja-se estas declarações do físico Bruno Nobre (não Bruno Forte, bispo italiano e teólogo) à Rádio Renascença sobre o bosão de Higgs:

    http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=31&did=68901

    "Agora, algumas pessoas menos informadas poderão concluir que uma vez que a partícula de Higgs foi descoberta podemos pôr de lado a existência de Deus. Isso é completamente abusivo e nenhum físico virá dizer que Deus não existe porque foi descoberto o Bosão de Higgs”, refere Bruno Nobre."

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  13. Não vi o debate (sou preguiçoso) mas tenho duas dúvidas aqui àcerca do teu artigo. Pode ser apenas que esteja a interpretar mal as tuas palavras:

    «Para respeitar a liberdade de crença as religiões deviam organizar-se ao contrário, como qualquer associação de voluntários, regendo-se por princípios democráticas»

    Não percebo como uma coisa é a consequência da outra. Em que medida é que a liberdade de crença implica que as religiões organizadas sigam princípios democráticos?

    Penso que esse argumento também iria falhar se afirmasses que para garantir os princípios democráticos, as Forças Armadas e as forças policiais teriam de ser organizadas segundo princípios democráticos (seria lindo, os soldados convocarem uma assembleia geral para votarem nos ataques que vão fazer :) ). Da mesma forma, para garantir a igualdade e equanimidade na justiças, os juízes não são eleitos por princípios democráticos, mas sim nomeados.

    O princípio democrático da liberdade de crença é justamente permitir que as organizações religiosas — que têm um estatuto diferente do das associações de voluntários — se possam organizar como entenderem, desde que não o façam de forma ilegal. De notar que as forças armadas, policiais, de socorro e emergência, etc. tb. não se organizam como associações de voluntários.

    Mas podemos ir mais longe. As empresas também têm um estatuto diferente. Não se organizam como associações de voluntários. Até mesmo as cooperativas comerciais, que permitem a eleição de membros por parte de todos os associados, não são completamente «democráticas», pois nem todos os associados têm direito a voto.

    Por isso não percebi este argumento.

    De notar ainda que muitas organizações religiosas têm, também, associações de voluntários que fazem acção social — em instituições separadas da religião organizada propriamente dita. Estas instituições, se forem constituídas legalmente como associações sem fins lucrativos (muitas o são), seguem precisamente os mesmos princípios democráticos.

    Ou seja, ou não percebi o que queres dizer, ou parece-me que o que tu queres é acabar com a liberdade de religião e torná-la proibida :)

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  14. A outra dúvida tem a ver com essa cena da «censura» dos livros.

    Vamos lá a ver uma coisa. Em primeiro lugar, é preciso determinar se as pessoas que aderem à Opus Dei são adultos e não sofrem de perturbações mentais graves. Assumindo que sim (o que pode ser contestável, mas é a minha premissa), então presume-se que estão a aderir à organização de livre vontade e que podem, quando quiserem, deixar a organização (ver meus comentários no teu outro artigo).

    Se assim é, então a organização a que aderem tem regras. Manter-se na organização implica aceitar regras. Quem não gosta das regras, não se junta à organização. Sim, algumas regras são estúpidas: mas como dizes, e bem, não se trata de um combate à estupidez (tarefa inglória). Mas se uma pessoa quer-se juntar voluntariamente a uma organização que tem regras estúpidas, pode-o fazer livremente numa sociedade democrática em que podemos fazer tudo (e pensar tudo), desde que não seja ilegal.

    Claro que podes, e deves, questionar se há pequenas (mas importantes) violações à legislação. A adesão à Opus Dei é mesmo voluntária, ou há formas de «pressão» ilegais para uma pessoa ser «forçada» a juntar-se a ela? Se houver provas disto, ok, então estamos a falar de uma ilegalidade. As pessoas são «chantageadas» para se manterem como membros da organização e não podem sair? Então isso é tb. uma violação. E assim por diante.

    Mas de resto, todas as associações podem obviamente impor regras aos seus associados, desde que não sejam ilegais. Por exemplo, se vou tirar a carta de condução, dizem-me que livros do código da estrada devo ler, e quais devo evitar. Isto não é uma restrição à minha liberdade. Quero tirar a carta, pelo que sigo as instruções que me dão, em vez de «inventar» o meu próprio plano de estudos. Mas sou livre de ir a uma escola de condução ou a outra, se não gostar da forma como me «impõem» literatura obrigatória e me «proibem» de ler literatura não «recomendada» (usando a mesma expressão lá do tipo no debate).

    Isto não é, de todo, uma restrição às liberdades individuais. A liberdade de seguir as regras que me apetece da organização a que quero pertencer é também uma liberdade individual (direito ao livre associativismo).

    Depois há também a questão da forma jurídica da própria Opus Dei. Esta é a minha segunda dúvida. Dás a entender que a Opus Dei é uma associação sem fins lucrativos, no sentido jurídico que a legislação portuguesa dá a essa palavra. Mas será mesmo? Já coloquei essa questão algures por aqui (ainda não vi se havia resposta). Ainda não consegui descobrir. É que se calhar não é. Se calhar é uma fundação, uma cooperativa, uma empresa, ou uma organização religiosa. Todas elas têm regras diferentes das associações sem fins lucrativos. Nenhuma delas terá órgãos «democraticamente eleitos» a partir dos seus membros. Todas respeitarão a lei portuguesa aplicável ao tipo de entidade que são. Mas estou a especular, porque realmente não sei qual a forma jurídica da Opus Dei. Se calhar não tem nenhuma :) e nesse sentido pode-se questionar se isto é legal ou não; mas a verdade é que não sei. E não sabendo, não me posso pronunciar sobre a sua ilegalidade ou não.

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    1. Mas se calhar não era isto que querias dizer, e daí a minha dúvida :)

      Estás a propôr que em Portugal exista uma nova forma jurídica para todas as organizações religiosas, que terão de se conformar a um modelo jurídico específico, que é o da associação de voluntários?

      É que se assim fosse, eu, se fosse líder de uma organização religiosa, estava-me nas tintas para essa forma jurídica, e organizava a minha seita como uma empresa — onde não se aplicam esses «princípios» que defendes. É claro, perdia algumas benesses em termos de impostos, mas podem-se fazer também donativos e coisas assim a empresas (só que não têm tanto impacto no IRS das pessoas; mas se o propósito de fazer donativos for apenas reduzir o IRS, então tb. não há verdadeiro altruísmo, e isso tb. não é bom para algumas religiões :) ). As empresas podem fazer caridade e acção social. E não têm hierarquias de gestão democraticamente eleitas por todos os seus membros. É simples.

      Duvido que o que queiras dizer é que temos também de abolir as empresas, as fundações, as cooperativas comerciais, a polícia, os bombeiros, as forças armadas, etc. porque todas elas não funcionam como as associações sem fins lucrativos... por isso é que pergunto o que é que exactamente estás a defender.

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    2. N. B. Isto não deve ser entendido como uma crítica (ou um louvor) à Opus Dei. Eu sou essencialmente neutro em relação à Opus Dei, à maçonaria, e a qualquer organização supostamente secreta. Aliás, prova de que não são «secretas» é que toda a gente fala delas na comunicação social, nos bares, e entre amigos.

      Por exemplo, eu faço parte de uma organização secretíssima, tão secreta que não tem nome, e que é composta de mim e de meia dúzia de amigos. Não há nenhuma «democracia» entre nós — não elegemos democraticamente corpos gerentes. Não temos associação jurídica e não pagamos impostos. Mas exercemos tráfego de influências: por vezes, arranjamos clientes uns aos outros, ou até empregos, ou ajudamos as respectivas empresas. Não controlamos os media, mas de vez em quando fazemos podcasts uns com os outros. Não manipulamos o Governo, mas temos alguns amigos que têm amigos que são políticos e que até já foram membros do Governo. Também impomos uma lista de livros «autorizados»: manuais de programação, livros do Terry Pratchett, do Tolkien, coisas assim. A lista é tão secreta que nunca foi sequer escrita. Obviamente que impomos a «nossa» maneira de pensar a todos os membros; quem não concordar com a «nossa» maneira de pensar não é membro. Novos membros são frequentemente «indoctrinados» para começarem a pensar como nós. Para ter a certeza que não nos citam, não temos site. Não publicamos actas das reuniões (era o que mais faltava!). Na verdade, ninguém sabe da nossa existência, excepto os seus membros, e ninguém sequer sabe quais são as regras (são tão secretas que ninguém as conhece). Não fazemos convites públicos para o ingresso de novos membros. Não temos sede física, e os encontros são aleatórios, para que ninguém sabe onde nos encontramos, e, como não somos democráticos, nem sequer são convidados todos os membros para esses encontros. Ninguém sabe, de facto, quantos são no total, ou o que discutem. Mas ao menos a adesão é livre, e as pessoas podem sair da organização (que não existe) sempre que quiserem. Não violamos nenhuma lei.

      Isto, sim, é uma sociedade secreta.

      Agora, claro, toda a gente faz parte de uma sociedade secreta assim :) Só que, na verdade, estes milhões de sociedades secretas deste tipo não têm qualquer impacto sobre o país, e, como tal, não são fonte de notícias, nem de críticas públicas.

      Quando estas «sociedades secretas» crescem um bocadinho mais... tipo o lobby do Técnico, os partidos políticos, o cartel da construção civil, a Opus Dei, as várias Lojas Maçónicas... bom, então começam a atrair a atenção do público em geral. Mas, sinceramente, não vejo absolutamente nenhuma diferença entre umas e outras, excepto no número de membros e no número de cargos que desempenham no Governo e nas maiores empresas deste país. De resto, são iguaizinhas a todas as outras. É por isso que não sou nem a favor, nem contra; a única coisa que digo é que neste país ainda há liberdade de adesão à organização que quisermos (seja ela laica ou religiosa), e não vejo nenhum mal em que continue a haver essa liberdade pessoal...

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  15. «No Diário de Notícias podem ler um resumo e ver a gravação integral do debate»


    Isto é uma coisa muito pessoal, mas ao longo do vídeo pareceu-me ouvir esta música sempre que versejaram os três versejantes à esquerda do moderador. Já o padre Anselmo Borges, desejoso de uma igreja aberta, transparente e anti-elitista, parece estar mais perto de reconhecer em voz alta que todos os defeitos que encontra na Opus Dei são os mesmíssimos que a igreja verdadeira oferece aos numerários-ovelha que volta e meia o seguram pela manga para saber coisas da outra vida. Talvez numa próxima oportunidade...

    Quanto ao problema central do debate, que o Ludwig apontou com as suas dúvidas acerca da forma como a organização selecciona e «recomenda» coisas aos subordinados, nenhum dos versejantes se dignou fornecer dados para tornal útil a sua presença ou enriquecer o conteúdo da conversa. Mais uma névoa de folclore nazareno, pontuado por clarificações de pretenso rigor intelectual, como sejam «Há que distinguir: uma coisa é Zgg, outra é Brr», para mais uma hora de salve-se quem puder.

    Para ser franco, Ludwig, este «debate» secou-me um bocadinho.

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  16. Nota em particular ao senhor Manuel Morujão, que enalteceu a oportunidade que por vezes obtém de falar respeitosamente com pessoas de outras opiniões:

    gostava de lhe dizer que «falar», em certos contextos, implica em primeiro lugar dizer alguma coisa, e esquecer isto é perder o respeito pelo interlocutor. Digo-lho por me parecer que essa possibilidade o preocupa genuinamente.

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  17. O MILAGRE NATURALISTA E A INCONSISTÊNCIA DO NATURALISMO

    Os naturalistas evolucionistas dizem que não acreditam em milagres, muito menos em milagres de um Deus eterno, racional infinito, omnisciente e omnipotente, tal como a Bíblia os apresenta.

    Eles querem "salvar" a ciência de um Deus assim concebido, sem perceberem que se a ciência funciona é exactamente porque o Universo tem uma estrutura racional e matemática que só a criação por um Deus racional, omnisciente e omnipotente pode justificar.

    Mas a sua tentativa de se manterem fieis às causas naturais falha porque os ateus têm que aceitar que todo o Universo é o produto da total ausência de causas, contra as suas premissas naturalistas de que partem.

    O que mostra a sua total inconsistência lógica, científica e filosófica.

    Apesar de não acreditarem nos milagres de Deus, eles têm que acreditar no "grande milagre naturalista".

    Para eles, o Universo, com os seus triliões de galáxias, estrelas, quasares, blasares, pulsares, sistemas solares, planetas, genomas, quantidades inabarcáveis de informação genética e epigenética, células, seres vivos perfeitos e funcionais, ecossistemas, etc., surgiu do nada, por acaso, sem qualquer causa!!

    Falando sobre o Big Bang, o físico ateísta Paul Davies, no seu livro The Edge of Infinity, diz isso mesmo:

    “[The big bang] represents the instantaneous suspension of physical laws, the sudden abrupt flash of lawlessness that allowed something to come out of nothing. It represents a true miracle…”

    Para quem diz que não acredita em milagres, até que não está nada mau!!

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