sábado, outubro 22, 2011

Treta da semana: inchou.

Neal Adams é um ilustrador famoso pelo seu trabalho para a Marvel e DC (1). É também um dos (poucos) proponentes da hipótese de que, nos últimos cem milhões de anos, a Terra inchou para cerca do dobro do diâmetro.



É um exemplo interessante de como filtrar os dados de acordo com uma ideia pré-concebida leva facilmente ao disparate. Começa por alegar uma “conspiração de silêncio” por parte dos cientistas, que não nos dizem que as placas continentais também encaixam perfeitamente na costa do Oceano Pacífico. Mas o encaixe “perfeito” da forma dos continentes é fácil de conseguir com pequenas massagens e distorções, como se vê bem na animação do Pólo Sul (08:40). O encaixe que evidencia que os continentes modernos estiveram juntos há dezenas de milhões de anos não é apenas a complementaridade óbvia de algumas linhas de costa, como a América do Sul e a África. É a distribuição de fósseis, a magnetização das rochas, a continuidade de cadeias montanhosas e da geologia das várias regiões, o que dá um resultado bastante diferente (2).

Depois critica a hipótese do movimento das placas, dos continentes a «baterem e chocarem como se estivessem numa frigideira com óleo». Mas a explicação alternativa que defende é que a Terra duplicou o seu diâmetro, aumentando oito vezes o volume. Omite tanto os mecanismos propostos para o movimento das placas, como a convecção do manto, por exemplo, como também as medições desse movimento. Nós conseguimos observar que as placas se deslocam (3). Em contraste, tanto quanto se pode medir, a Terra nem está a crescer agora nem aumentou de tamanho nos últimos seiscentos milhões de anos, pelo menos. E mesmo sem essas medições do tamanho da Terra, não parece ser possível um planeta simplesmente crescer desta maneira (4).

Este procedimento é comum nas tretas. Escolhe-se primeiro a ideia. Que a Terra tem dez mil anos, que extraterrestres aterraram em Roswell, que o cálcio do coral cura o cancro, tanto faz. Depois procura-se qualquer coisa que seja consistente com a ideia. Nem importa se é consistente com alternativas também. Há rochas com menos de dez mil anos de idade. Há pessoas que dizem ter visto destroços. Há quem tenha tomado cálcio de coral e se tenha curado. Tudo o que possa contradizer a hipótese inicial ignora-se, arruma-se debaixo do sempre crescente tapete da conspiração, ou faz-se de conta que está noutro plano de conhecimento, ou algo de semelhante profundidade ilusória. E pronto, disparate instantâneo.

Isto demonstra também, como se ainda fosse necessário demonstrá-lo, de que a profunda convicção na verdade de uma hipótese é um mau ponto de partida para a testar.

1- Wikipedia, Neal Adams
2- Wikipedia, Pangaea
3- Wikipedia, Tectonic plates boundaries
4- Wikipedia, Expanding Earth

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Os cientistas mentem porque há interesses económicos fortíssimos por trás disto. As companhias aéreas, só para dar um exemplo.

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  3. Leonardo da Vinci - Códice Leicester
    "Se os cumes das montanhas se projectam a uma distância tão acima do nível dos mares, isso deve-se possivelmente ao facto de um enorme bloco de terra se ter destacado da abóbada de uma imensa caverna que estava cheia de água e de ter caído na direcção do centro do mundo. Ela tinha sido minada pelos cursos de água que desgastam continuamente o local por onde passam (...) Ora, esta grande massa tem o poder de cair (...) Posiciona-se de forma a que os seus pesos opostos se distribuam uniformemente à volta do centro do mundo e assim a parte da Terra da qual se dividiu torna-se mais leve; e esta afasta-se imediatamente do centro do mundo e eleva-se, por isso vemos as camadas das rochas [com os seus fósseis], formadas pelas mudanças que a água sofre, no cume das grandes montanhas."

    A Montanha de Bibalves de Leonardo e a Dieta de Worms - S.J.Gould

    http://www.leonardo.slavonic-english.com/036.jpg

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