quinta-feira, agosto 07, 2008

Printcrime

é o título de uma pequena história escrita por Cory Doctorow. Foi publicada na Nature em 2006, por isso não é novidade. Mas vale a pena ler. E reler.

Printcrime.

Editado: num dos comentários à história encontrei isto. Parece-me que daqui a uns anos vamos ter que pensar ainda mais seriamente se queremos essa treta da propriedade intelectual...

10 comentários:

  1. Sim... A ligação anterior está relacionada com este post.

    Relacionando patentes como uma forma de propriedade intelectual (Ludwig, sei que não é o mesmo).

    Há coisas que por mais que não queiramos, são úteis.

    ResponderEliminar
  2. Mário,

    A inovação na indústria farmacêutica não está a ser impelida pelas patentes. Está a ser carragada às costas pela investigação fundamental financiada pelos governos. Essa faz 95% ou mais do trabalho. Por outro lado, as patentes dificultam o trabalho a todos que não forem os detentores dos direitos exclusivos.

    O resultado é que as maiores companhias e os mercados mais ricos têm vantagem porque detêm os monopólios.

    A julgar pelo que acontece com a investigação fundamental, salvo raras excepções eu diria que as patentes que os americanos têm é que estão a atrasar o resto e não a fazê-los avançar mais. A concessão de uma patente por um governo devia ser feita caso a caso e apenas quando o projecto justificasse ceder o monopólio. Deviam ser excepções a negociar com cuidado e não "direitos" para todos os que tiverem um numero suficiente de advogados para navegar a burocracia.

    ResponderEliminar
  3. «A inovação na indústria farmacêutica não está a ser impelida pelas patentes»

    Ai não? Então como explicas os milhões que as farmacêuticas investem num fármaco, que depois de desenvolvido, só após vários anos entra no mercado, e depois de outros tantos e que permitem algum retorno; e mesmo assim tem o risco de ter que ser retirado? Tira-lhes as patentes e eles fazem-te um manguito e mudam de negócio.


    «Está a ser carragada às costas pela investigação fundamental financiada pelos governos. Essa faz 95% ou mais do trabalho.»

    Por favor, da-me a fonte destes números.

    Mas mesmo tendo isso em conta como verdade, a investigação fundamental é a matriz, o resto não vem de graça, e custa muitíssimo, e com vários médicos que com tenho falado, afirmam que o custo que as farmacêuticas têm só é plausível com o mecanismo da patente. Ma ainda há outro facto: quando se desenvolve um fármaco, essa investigação fundamental (a ser do estado) é uma parte... A outra parte, a da farmacêutica, será mais cara? Mas pelo que sei, as GRANDES, todas elas fazem investigação fundamental e publicitam o facto.


    «A julgar pelo que acontece com a investigação fundamental, salvo raras excepções eu diria que as patentes que os americanos têm é que estão a atrasar o resto e não a fazê-los avançar mais.»

    Estas a extrapolar de forma tendenciosa, e no que diz respeito às farmacêuticas parece-me que a pressão do mercado funciona; no sentido que a descoberta da solução de um problema de saúde para o qual não havia solução, ou havia um solução menos eficaz, tem mercado ABSOLUTAMENTE garantido, sendo este um incentivo significativo que só se verificará com a patente a funcionar.

    Há vários medicamentos que depois de caírem no domínio público, descobre-se que poderá ter outra aplicação terapêutica, o que ocorre a seguir é que nenhuma farmacêutica pega no medicamento; para se fazer ensaios clínicos terá que ser um carolas altruísta que depois de muito trabalho para licenciar os ensaios, terá que andar em peditórios e afins para juntar uns trocos, o que torna a coisa muito ineficiente, e muitas vezes inviável.

    Ludwig, tu não podes estar a falar a sério:-)) Então propões que uma farmacêutica faça inve$$$tigacão, e depois, em certos casos, os fármacos saiam logo para domínio público, é isso?

    P.S. - concordo no entanto que as patentes só tenham a validade necessária para que as farmacêuticas façam o lucro que seja suficiente para ser atractivo como estimulo, e que pelo menos pague o investimento.

    ResponderEliminar
  4. P.S.1 - concordo no entanto que as patentes só tenham a validade necessária para que as farmacêuticas façam o lucro que seja suficiente para ser atractivo como estimulo, e que pelo menos pague o investimento.

    Trivialidade: Isto, num caso genérico, pois as farmacêuticas, como uma empresa qualquer, terá que se sujeitar a perdas, caso em que a coisa não funciona e o investimento é perdido.

    ResponderEliminar
  5. Mário,

    «Por favor, da-me a fonte destes números.»

    Os números vão depender de que valor numérico damos a cada coisa.

    Primeiro tens todas as técnicas de base -- clonagem de genes, modelos em microorganismos e animais, identificação e purificação de proteínas, técnicas se síntese orgância e assim por diante. Tudo isso é investigação fundamental, e tudo isso é aproveitado pelas farmacêuticas.

    Depois tens as bases de dados como o PDB, o KEGG ou Uniprot (e outras) que são criadas e mantidas por fundos públicos e de acesso gratuito.

    Depois as normas todas, procedimentos e requisitos concebidos para garantir um medicamento em condições, também concebidos por instituições públicas.

    A empresa farmaceutica depois paga a conta de uma data de coisas, é verdade. Mas isso é uma aposta que fazemos com eles. Nós apostamos que eles não conseguem, eles apostam que conseguem. Mas salvo raras excepções essa aposta é uma parvoíce.

    Eu acho que as patentes deviam ser avaliadas como os projectos de investigação. Aliás, deviam ser parte de projectos de investigação. O estado podia contribuir com financiamento ou com monopólios ou uma mistura de ambos.

    Mas o meu ponto aqui é que este tipo está enganado. Nós não estamos a viver às custas das farmaceuticas. Estamos a viver em grande parte às custas do estado americano, isso sim, e das verbas que financiam o NIH, por exemplo. Mas uma grande parte vem também de estados europeus. E as empresas, como máquinas de fazer lucro acima de tudo, estão a viver mais à custa destas leis que estão a contribuir.

    O problema é complexo, mas acho que ultrapassámos um ponto de equilibrio. Quando as comunicações são más o melhor motor de inovação é a criatividade individual ou dos pequenos grupos. Aí estes sistemas de recompensa podem ser um bom incentivo. Mas quando a comunicação é boa e a troca de informação é instantanea o que temos a ganhar em remover barreiras é muito superior ao que podemos ganhar com mais incentivos financeiros que exigam impedir a troca de conhecimento.

    ResponderEliminar
  6. Ludwig,

    «Os números vão depender de que valor numérico damos a cada coisa.»

    Ludwig, estou a falar dos números que tu tão objectivamente de forma assertiva referiste: «[...]95% ou mais do trabalho»

    Vai para aí alguma confusão...

    Se tens este números, diz como os formulaste, é só isso. Esses números correspondem, necessariamente, a dinheiro, sendo que estes números que eu te peço não «[...]vão depender de que valor numérico damos a cada coisa.»


    «Eu acho que as patentes deviam ser avaliadas como os projectos de investigação. Aliás, deviam ser parte de projectos de investigação. O estado podia contribuir com financiamento ou com monopólios ou uma mistura de ambos.»

    Sim, OK. Mas isso não invalida o que referi sobre as farmacêuticas.


    «E as empresas, como máquinas de fazer lucro acima de tudo, estão a viver mais à custa destas leis que estão a contribuir.»

    É uma contradição: se as farmacêuticas competem, para manterem a sustentabilidade dos lucros, têm necessariamente que apresentar soluções novas que passam obrigatoriamente por investigação que só vão ser viáveis com patentes. E lembra-te: sendo privadas, os riscos (prejuízos) não são partilhados pelos estado, e se a coisa funciona mal
    poderá implicar a falência. Não há a "rede" que o estado fornece à investigação pública.


    «O problema é complexo»

    Concordo.


    «[...]mas acho que ultrapassámos um ponto de equilibrio.»

    Tu achas, eu, não tenho esse "achamento"... Só mesmo pondo o programa a "correr" para ver os Bugs.
    Mas o que vejo e que, por exemplo, nestas duas décadas, em termos de fármacos, a evolução foi significativa. OK, vais dizer
    que poderia ser mais, mas isso está no plano da pura especulação, não servindo de grande coisa.


    «Quando as comunicações são más o melhor motor de inovação é a criatividade individual ou dos pequenos grupos. Aí estes sistemas de recompensa podem ser um bom incentivo.»

    Até a data não há melhor incentivo que o dinheiro, lamento mas é assim.


    «Mas quando a comunicação é boa e a troca de informação é instantanea o que temos a ganhar em remover barreiras é muito superior ao que podemos ganhar com mais incentivos financeiros que exigam impedir a troca de conhecimento.»

    Ludwig, não é que eu queira, acharia muito mais poético se fosse dessa forma, mas um investigador diante de melhores ordenados, a poder dar um melhor qualidade de vida a família etc... Será incentivado de outra forma do que aquele que se terá que sacrificar para investigar, e por aí adiante.

    ResponderEliminar
  7. Ludwig,

    Para fazeres o mesmo que fazes hoje, e indo trabalhar perto de onde trabalhas hoje ganhado o triplo, mudaria de emprego?

    Se sim, isso só será num organismo onde entrar mais dinheiro. La Palisse! Fui claro?

    ResponderEliminar
  8. Ludwig,

    O que pretendes só seria exequível se houvesse um número de pessoas suficiente a "correr por amor à camisola". O que parece não ocorrer, e não há mal nenhum nisso, as pessoa têm direito a ambicionar a atingir um dado patamar de qualidade de vida.

    ResponderEliminar
  9. Mário,

    Eu estava a falar do trabalho, não do dinheiro. Não é fácil de perceber que o trabalho de investigação não é proporcional ao dinheiro -- não são os técnicos ou os cientistas das farmaceuticas que ficam ricos, são os accionistas que percebem muito pouco daquilo.

    Mas se queres falar do dinheiro as contas são simples. Em geral, a boa empresa farmaceutica ganha dinheiro. Ou seja, tira mais dinheiro para si que o dinheiro que investe na investigação. Nesse caso podemos dizer que o contributo da sociedade é acima dos 100%.

    «É uma contradição: se as farmacêuticas competem, para manterem a sustentabilidade dos lucros, têm necessariamente que apresentar soluções novas que passam obrigatoriamente por investigação que só vão ser viáveis com patentes.»

    Não. Estás a ver a coisa ao contrário. Para se manterem à frenta da concorrência vão patentear aquilo que mais retorno dá. Ou seja, o que precisar de menos investimento e lhes der mais lucro com licenciamentos ou por lixar a concorrência.

    Aqui podes ler alguns dos custos deste sistema.

    Quanto à tua pergunta, se me pagassem 3x mais para fazer exactamente o mesmo claro que aceitava. Mas podes crer que não ia produzir 3x mais. Não ia ficar 3x mais inteligente, não ia ter 3x mais ideias. Iam apenas desperdiçar dinheiro.

    É claro que com mais dinheiro dá para ter mais equipamento, melhores condições, etc. Mas eventualmente há um retorno cada vez mais reduzido. O dobro do dinheiro não dá o dobro do retorno.

    O que as empresas fazem é pagar aos técnicos e investigadores o valor que lhes der melhor lucro. Mas isso não é necessariamente a melhor forma de avançar com a investigação. Espcialmente se esse lucro vem à custa de lhes dar um monopólio impedindo outros de aceder a essa tecnologia.

    ResponderEliminar

Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.